Rio

Morta aos 13 anos, Karen foi à escola e à igreja em seu último dia

Mais jovem das cinco vítimas em edifício que explodiu sonhava ser veterinária
Karen com Paulo, seu padrasto: apesar da pouca idade, menina tinha fé em Deus Foto: Reprodução/Facebook
Karen com Paulo, seu padrasto: apesar da pouca idade, menina tinha fé em Deus Foto: Reprodução/Facebook

RIO — Karen tinha 13 anos e sonhava ser veterinária. Adorava animais, embora não tivesse nenhum no pequeno quarto e sala onde vivia com a mãe e o padrasto. Filha única, sempre foi menina risonha e independente. Ia sozinha à escola, onde cursava o oitavo ano, e também à igreja, perto de casa. Na segunda-feira à noite assistiu ao culto evangélico. Rezou e cantou em louvor a Deus, ela que descobriu a fé tão cedo. Conversou um pouco com a família ao voltar e deitou-se no sofá da sala, transformado em cama quando os 13 anos chegaram — achava-se mocinha demais para dividir o quarto com os pais. Antes de dormir, deu beijos de boa noite.

Karen Nicácio de Melo foi a mais jovem das cinco vítimas na explosão de uma tubulação da CEG no conjunto habitacional Fazenda Botafogo , em Coelho Neto. Sua família vive no apartamento 106, um dos mais atingidos. O chão onde estava o sofá afundou quase um metro. Seu padrasto, o mecânico de refrigeração Paulo Roberto Silva, casado há cinco anos com Jociara Nicácio, demorou a recuperar os sentidos após o estrondo. Ao abrir os olhos, a cabeça doía e o próprio sangue escorria pela perna esquerda. Conseguiu encontrar a mulher no meio dos escombros, também no chão afundado. E Karen? Foi à sala e nada. Até ontem à tarde, não sabia se a menina que considerava como filha havia sobrevivido. Ao receber alta do Hospital Getúlio Vargas, para onde foi levado com sua mulher (ela fraturou a bacia e três vértebras), recebeu a notícia trágica na calçada.

— Entrei com a lanterna na sala, gritando o nome dela. Meu Deus, ela já estava morta e eu não sabia — disse o padrasto, com os olhos marejados e as mãos trêmulas, sem entender a dor repentina.

MÃE AINDA NÃO SABE DA MORTE

A família morava há apenas três anos no apartamento de 40 metros quadrados. Antes, viviam em outro conjunto habitacional, também na Zona Norte. Poucos pertences sobraram, mas ainda é cedo para voltar ao local. Paulo nem sequer imagina como vai contar à mulher sobre a morte da única filha.

— Ela está consciente. Fica perguntando “cadê a Karen, cadê a Karen”. Ainda não sei como contar, não queria que ela soubesse agora — afirma.

Na porta do Getúlio Vargas, a tia de Karen se desesperou quando a morte foi confirmada. Se Jociara, sua irmã, precisasse sair, Karen ficava com ela, que mora no mesmo conjunto habitacional.

— Domingo nós fomos juntas a Teresópolis. Ainda não acredito que ela está morta. Era como se fosse minha filha. Vai continuar sendo.