Historia general de los Vargas

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Inicio > Historia > História e genealogia dos Vargas
História e Genealogia dos Vargas
por Alvaro Rocha Vargas, 1999.
 

Introdução

A necessidade de preservar a memória e os documentos existentes me motivou a escrever esta História e Genealogia dos Vargas. É um trabalho preliminar e provisório que não tenho a intenção de publicar, tanto por estar incompleto como pelo restrito campo de interesse que apresenta. Tenho a certeza de que poucas dezenas de pessoas o leriam com atenção. Apesar disso terei o cuidado de aprimorá-lo e completá-lo com o passar dos anos.

A Genealogia evoluiu e se modernizou. Tornou-se ciência reconhecida como tal e deixou de ser instrumento de vanglória alimentadora de vaidades. Hoje preocupa os estudiosos desse ramo aprofundar suas pesquisas, para permitir análises da genética humana, paralelamente à sua importante contribuição histórica.

Podemos hoje, matematicamente, saber quantos descendentes temos no fim de cada geração por uma fórmula. Cada um de nós tem pai e mãe, quatro avós, oito bisavós, dezesseis trisavós. Na 5° geração temos 124 pessoas e na 10° geração são 3.968 pessoas. Isso nos mostra a dificuldade de estabelecermos uma árvore genealógica completa em todos os ramos ascendentes. Ao mesmo tempo nos permite avaliar o imenso patrimônio genético que cada um recebe.

Getúlio Vargas, que na realidade deveria ter o sobrenome Bueno, já que seu avô paterno assim se chamava, mas que terminou herdando o sobrenome de sua avó, ao assumir pelo primeira vez o governo do país, recebeu a visita do Cardeal D. Sebastião Leme. Ele lhe trazia um volume onde havia compilado a árvore genealógica dos Vargas. Desinteressado, Getúlio explicou-lhe que "-se nós, brasileiros, nos aprofundamos muito nessa questão de antepassados vamos terminar, invariavelmente, no mato ou na cozinha".

A alusão aos índios e aos negros, feita em tom depreciativo, nos mostra o quanto evoluimos desde então. Hoje é motivo de orgulho ter um ancestral índio na família.

É nossa intenção mostrar a origem da família Vargas, sua evolução e o ramo que saiu da Espanha, fixando-se primeiro em Minas Gerais, depois em Ponta Grossa, finalmente em Carazinho.

Concluindo, podemos acrescentar que só queremos registrar, compilar dados existentes em diversas obras e procurar com o decorrer dos anos aperfeiçoar estas notas, que esperamos não sejam as definitivas.
 
 

A origem do nome

Relacionaremos aqui todas as citações que encontramos sobre a origem do nome Vargas, sem discutirmos ou entrarmos no mérito de cada uma delas.

A mais antiga é feita pelo historiador Plínio (romano, Caius Plínius Caecilius Secundus, nascido em Como no ano 61 e morto em 114 d. C). Cita ele um rio da Trácia (região da Europa Oriental, hoje dividida entre a Grécia, a Turquia e a Bulgária), chamado de Vargas. Segundo alguns genealogistas daí derivaria o nome Vargas.

As ondas existentes nas armas da família seriam uma alusão ao rio Vargas (ou Vargus).

Segundo outros genealogistas, citados por D. Bernardo Moreno de Vargas, em Discursos de La Nobleza de España, 1621) afirma que o nome Vargas é alcunha dos godos (povo da antiga Germânia que invadiu a península ibérica) e quer dizer "pai bom".

Segundo ainda D. Bernardo Moreno de Vargas, a origem estaria em um lugar nas cercanias de Toledo, Espanha, "...por terem sidos os Vargas senhores dele e assim foram e são principalissimos Cavaleiros", (na sua linguagem rebuscada). Esse lugar era um modesto povoado, uma aldeola que apenas podia chamar a atenção por estar nas proximidades de Toledo, a capital religiosa dos visigodos, onde a Santa Inquisição acendeu fogueiras e cuja catedral se assemelha "... a um penhasco de mármore, coberta por crustáceos de ouro".

Vargas, na língua espanhola, poderia traduzir-se por "escarpas ou rochedos muito inclinados". De fato, nessa região da Espanha se observa esse tipo de território.

Também no espanhol, Vargas pode ser entendido como um peixe da família dos "murênidas".

Encontramos ainda uma explicação para o nome Vargas, muito interessante. Seria uma alcunha, ou apelido, dado pelos mouros aos homens existentes na região sul da Espanha. Na língua árabe "Var Has", que queria dizer "homem da planície" ou "homem da estepe".

Qualquer que seja a origem do nome, podemos afirmar que se tornou uma legenda pela importância dos homens que pertenceram à essa estirpe, nesses 900 anos que passaram, desde Juan de Vargas.
 
 

Juan de Vargas

Uma questão que não se discute é que o primeiro a surgir com o sobrenome Vargas foi Juan de Vargas, ou Ivan de Vargas (a grafia é a mesma no espanhol antigo).

Desde o ano 1085, em que D. Alonso VI (Afonso VI), reconquistou dos mouros a vila de Madrid, a ilustre linhagem dos Vargas ocupa um lugar eminente na História. Particularmente nos anais dessa heróica cidade.

O primeiro de que se tem notícia foi Juan de Vargas, esforçado guerreiro que auxiliou eficazmente a D. Alonso em sua importante conquista. Foi um rico fazendeiro, cujas terras foram cultivadas por Santo Isidoro (ou Isidro), como referido por Juan Acono e Marineo Sículo (citados por Alejandre Silva y Almeida, em sua obra "Nobleza de Estremadura, linhagem dos Vargas", f. 59).

Evocando uma capela fundada em 1520 por Francisco de Vargas, que agiu como Conselheiro dos Reis Católicos, o escritor Álvaro de Las Casas acentuou:

"- Quem eram esses Vargas? Pessoas notabilíssimas e de primeira qualidade. Assim o provam a riqueza renascentista do templo por eles construido, a suntuosidade dos seus túmulos, dos seus epitáfios e os cargos que exerceram. Mas ainda há alguma coisa: entre os antepassados desses fidalgos conta-se o Cavaleiro Juan de Vargas, de quem foi criado, em 1119, São Isidro, o lavrador, padroeiro de Madrid e um dos santos espanhóis mais estimados na devoção popular".

Após essas linhas Álvaro de Las Casas acrescenta:

"Primeiro em seu palácio madrilenho que se erguia ao lado da Igreja de Santo André, e depois numa grande fazenda próxima à Corte, serviu São Isidro aos Vargas, como trabalhador braçal e pastor, e nessa tarefa executou um der seus milagres mais famosos, lembrado através de ampla iconografia:

Informaram a D. Juan de Vargas que o seu empregado, em vez de trabalhar, passava o tempo rezando. O fidalgo, decidido a tirar pessoalmente a prova da denúncia, pois os Vargas não eram gente que se deixasse levar por intrigar, dirigiu-se à herdade. Ao chegar viu São Isidro que arava em companhia de outros empregados, os quais ajudando-o aumentavam consideravelmente o rendimento do serviço do arado, mas que desapareceram como por encanto à aproximação do Cavaleiro D. Juan: eram os anjos..."

As relações de Santo Isidro com os Vargas, diz o mencionado autor e "...os seus milagres simples e e deliciosos, foram interpretados e glosados centenas de vezes, em todas as artes".

Foi assim Juan de Vargas o primeiro da genealogia conhecida e o início de uma família que se estenderia a todo o mundo, mas que teria preponderância nos países de fala espanhola e portuguesa.

Juan de Vargas era, provavelmente, um mozárabe, ou mixti-árabe, ou seja daqueles espanhóis que, subjugados por séculos pelos mouros, conservaram a religião, o espírito nacional e a cultura da antiga Espanha romano-visigótica, enfrentando muitos trabalhos, perseguições e calamidades, contribuindo com sua ajuda e saber para a restauração e progresso da nova Espanha.

Com muita freqüência foram chamados de "Acham" ou "Achemies", bárbaros ou estrangeiros. Outras vezes foram denominados Naçranies (cristãos), Romies (romanos) ou Moxriques (politeístas). Porém os documentos hispano-latinos e castelhanos da Idade Média desconheciam todos esses nomes e tratavam os cristãos submetidos aos árabes por Muztárabes, Muzárabes, Mozarabes, Mosárabes, Almozárabes ou Mustárabes. Dom Alfonso VII os chamou de Mozárabes no ano de 1118 em Toledo.

Como comandante da tropa real, na retomada de Madrid, Juan de Vargas iniciou uma tradição que duraria muitos séculos, pois em geral até o século XVI era um Vargas o comandante das forças do Rei. Resgatou ele uma dívida dos mouros, os quais subjugaram os mozárabes por cerca de 300 anos, iniciando o processo de retomada da Espanha. O ano de 1085 é talvez o mais importante da História da península ibérica e uma marco da História Universal, pois interrompeu um processo de expansão do povo árabe no Ocidente e reverteu as expectativas religiosas e culturais na Europa e no mundo.
 
 

Os primeiros séculos

Um filho do citado Juan de Vargas (ou Ivan de Vargas), Pedro Ibañez de Vargas (Ianez e Ibañez são patronímicos de Juan, Iban, Ivam e Iuan, ou seja significam "filho de...") acompanhou o Rei D. Alfonso à conquista de Toledo, no ano 1085, e segundo historiadores "...foi muito bem herdado e fundou a meia légua dessa cidade um lugar, que de seu nome se chamou Vargas, e foi o primitivo solar dos Vargas de Toledo"

Pedro Fernandes de Vargas, filho de Fernan Perez de Vargas e neto do citado Pedro Ibañez de Vargas, se distinguiu na batalha de Navas, dando repetidas provas de haver herdado o esforço e o valor que transmitiu a seus dois filhos: Garci Perez de Vargas e Diego Perez de Vargas.

Garci Perez de Vargas foi um daqueles cujo renome não admite panegíricos. Basta dizer que venceu ao rei dos "garzules" (mouros de Sevilha), a quem matou e por essa façanha e outras mereceu que seu nome fosse esculpido no mármore, com o de Hércules, de Júlio César e do Rei Fernando o Santo, em uma inscrição que se lia em Sevilha, na porta de Jerez e cujo teor era o que se segue:

"Hércules me edificou,
Júlio César me cercou de muros e torres altas,
E o Rei Santo me conquistou
Com Garci Perez de Vargas".

Seu irmão Diego adquiriu renome na batalha de Jerez, ano de 1252. Havendo rompido na luta sua lança e espada, desgalhou com uma faca um ramo de oliveira e seguiu peleando com destreza e valentia, que tantos mouros caiam quantos golpes dava. Atônito, seu caudilho Dom Alvar Perez de Castro, de ver tantos prodígios de valor, exclamou:

"-Machuca Diego (Bate, Diego). Recio, Machuca (Forte, bate)!"

E desde então se chamou Diego de Vargas Machuca, apelido que conservaram seus descendentes por muitos séculos (seg. Silva y Almeida: Nobleza de Estremadura, linaje de los Vargas, F. 39-55).

Segundo D. Francisco Piferrer (Nobiliário de los Reinos y Señorios de España) poucas casas de Espanha podem contar a série de suas preclaras gerações, desde os tempos romanos, como a casa dos Vargas, segundo se vê pelos apontes genealógicos:

1- Ivan, ou Juan, de Vargas, auxiliou o rei Alonso VI na conquista de Madrid no ano de 1085. Além de uma filha, Maria, teve dois filhos. O maior Fernan Yañez de Vargas, que deu descendência aos Marqueses de São Vicente, os de Villahermosa, os Condes de Oliva e geralmente todos os Cavaleiros Vargas de Madrid.

2- Pedro Yañez de Vargas, que seguiu o citado rei D. Alonso na conquista de Toledo em 1085. Teve por filho a:

3- Fernan Perez de Vargas, 2º do nome, de quem procedeu:

4- Pedro Fernandes de Vargas, cujo filho foi:

5- Fernan Perez de Vargas, 2º do nome, de quem procedeu:

6- Pedro Fernandes de Vargas, 2º do nome, o qual se distinguiu na batalha de Navas, ano de 1212. Teve por filhos a Garci Perez de Vargas e Diego Perez de Vargas.

7- Garci Perez de Vargas, casou com D. Guillena Ramon e tiveram por filhos Garci Perez de Vargas, ascendente do Marquês da Torre e dos Cavaleiros Vargas de Toledo, e Rui Perez de Vargas.

8- Rui Perez de Vargas: foi um dos 200 Cavaleiros que obtiveram repartimento em Sevilha. Teve entre outros filhos a:

9- Pedro Fernandes de Vargas, 5º do nome, que foi pai de:

10- Lope Perez de Vargas, que floresceu no reinado de D. Fernando IV. Foi pai de:

11- Fernan Perez de Vargas

12- Alonso F. de Vargas, que viveu na 2ª metade do século XIV e que se distinguiu a serviço do Rei D. Henrique II, quem o fez merecer estado e senhorio de Burguillos. Teve entre outros filhos:

13- Garcia de Vargas: filho do 2º anterior e de sua mulher (1ª), 2º Senhor da Torre de Caños, casou em Medelin com D. Mencia de Contreras, do qual procederam os Cavaleiros de Contreras, de Trujilo e Badajoz.

14- Juan de Vargas Carvajal, filho dos anteriores, 3º Senhor da Torre de Caños, casou em Medellin com D. Isabel Mesia, tiveram por filho e sucessor a:

15- Garcia de Vargas Mesia, 4º Senhor da Torre de Caños, que serviu com distinção aos Reis Católicos.

16- Juan de Vargas y Céspedes, filho maior do anterior e sua mulher D. Juana de Céspedes, 5º Senhor da Torre de Caños, casou duas vezes a 1ª com D. Isabel de Vargas e a 2ª com D. Isabel Alvarado.

17- Garcia de Vargas y Vargas, chamado "o Gordo", filho do anterior e sua 1ª mulher. 6º Senhor da Torre de Caños, que se distinguiu a serviço do Imperador Carlos V e depois a seu filho o Rei Felipe II.

18- Juan de Vargas y Silva: filho único do anterior e sua mulher D. Leonor da Silva, 7º Senhor da Torre de Caños, faleceu em Mérida, sem sucessão, em 1577.

19- Garci de Vargas Alvarado, filho de Juan de Vargas e sua 2ª mulher D. Isabel Alvarado, citada anteriormente, casou com D. Isabel de Porres, de cujo casamento nasceu:

20- Juan de Vargas Alvarado, que sucedeu a seu primo-irmão, o citado Juan de Vargas y Silva na casa e "maioridad" da Torre de Caños.

Entre tantos descendentes nessa época, citaremos alguns que merecem especial atenção:

O primeiro e um dos mais famosos foi Afonso de Vargas, doutor na Sorbonne e professor de Teologia em Paris, falecido no ano de 1359 ou 1366. Foi eleito Bispode Osma e mais tarde de Badajoz. Terminou sua existência como Arcebispo de Sevilha, após "propiciar muitos momentos de virtude"...

Martim de Vargas, outro religioso, professou na Ordem de Clister e ali sentiu-se revoltado contra a conduta escandalosa dos monges, O Papa Martinho V, que condenara o herético João Hussfez com, autorizou esse Vargas a empreender uma severa reforma no seio da ordem. Martim o fez"com rara energia e coragem", mas acabou sendo preso no seu mosteiro, onde expirou no ano de 1446.

Temos de citar também o pintor Luís de Vargas, que nasceu e morreu na cidade de Sevilha. Tem duas telas no museu do Louvre: "A Sagrada Família" e "A Vigem e o Menino Jesus". É autor de um quadro célebre chamado "La Gamba", de onde a perna de Adão parece querer pular da moldura. Produziu nos arcos mouriscos da Giralda, a elevada torre quadrada de Sevilha, vigorosas figuras de santos, doutores, apóstolos e evangelistas. Artista bizarro, Luís de Vargas flagelava-se com um chicote e durante horas permanecia deitado em um caixão de defunto, para poder filosofar sobre a morte... Tais extravagâncias lhe apressaram o fim. Morreu em 1568.

O genealogista Aurélio Porto declara que dois Vargas ilustres possuiram o nome de Francisco. O primeiro, "hombre de gran cabeza", pertencia ao Conselho de Castela e ocupou o cargo de secretário do Rei Fernando, o Católico. A Rainha Isabel lhe enviava todo o expediente, usando esta fórmula: "-Averigüelo Vargas". Em razão disso a expressão tornou-se proverbial no idioma castelhano.

O outro, que também se chamava Francisco de Vargas, era um jurisconsulto, que deixou obras escritas em latim, foi embaixador de Carlos V na Itália e participou do Concílio de Trento, como representante do filho de Joana, a Louca. Depois, sob o reinado do cruel e fanático Filipe II, este o incumbiu de ser embaixador em Roma.

Não termina aqui o rol de Vargas ilustres.

Bastião de Vargas, nascido na África, manteve correspondência com D. João III, o introdutor em Portugal da Companhia de Jesus e dos tribunais da Inquisição. Filho de um alfaqueque, isto é de um emissário encarregado de resgatar prisioneiros, esse Vargas exerceu em Tanger as funções de almoxarife. Conhecia perfeitamente a língua árabe, tendo sido feitor do trigo junto ao Rei de Fez, no Marrocos. Era amigo dos mouros, dos alcaides influentes, das altas personalidades do mundo islamítico, entre os quais se incluiam o insigne Mulei Ibrahim e o príncipe Mulei Moâmede Alcáceri.

Ao tronco dos Vargas podemos acrescentar o nome de D. Crisóstomo de Vargas, bispo de Astorga e professor da universidade de Alcalá.

Também o do romântico Capitão Alonso de Vargas e Villaroel, que combateu em Seminara, ao lado de Gonzalo de Córdoba; o do coronel venezuelano Francisco Antônio de Vargas, legionário do batalhão de granadeiros de La Guaira, que esteve presente nas sangrentas batalhas travadas por Sucre e Bolívar no Peru e no Equador; o do político D. José Maria Vargas, da mesma nacionalidade, o qual, no seu país, atuou incansavelmente nas guerras da independência, elegendo-se em eleições livres Presidente da República, após o desaparecimento de Simon Bolívar.

Encontramos, mais recentemente, em "São Miguel Arcanjo" de Pedro Marques dos Santos a seguinte referência: "O padre José de Vargas, natural de Assunção do Paraguai, nascido a 19 de março de 1679, entrou para a Companhia de Jesus em 14 de setembro de 1694, formou-se em filosofia e teologia e foi mandado para catequese nas Missões. Foi assim um dos primeiros curas, se não o primeiro, do povo de São Miguel das Missões, assim sendo um dos primeiros homens brancos no interior do continente de São Pedro (Rio Grande do Sul)"
 
 

Rumo ao Novo Mundo

A partir da descoberta da América, no início da tomada de posse de novos territórios, com certeza em princípios do século XVI, começaram alguns Vargas a emigrar da Espanha para o Novo Mundo.

Sabemos que um dos ajudantes de ordens de Cortés, o qual destroçou as tropas de Atahualpa no México (1518) era um Vargas.

Na segunda metade do século XVII, alguns Vargas, descendentes de Rodrigo de Vargas, mudaram-se para os Açores. O referido Rodrigo, um dos senhores da vila de La Higuera, próxima de Badajoz, mudou-se da Espanha para Portugal, talvez por ter cometido crimes. Contraiu matrimônio em Lisboa, sendo o pai de Antônio Rodrigo de Vargas. Este foi à Índia, como capitão, e já com o sobrenome aportuguesado, desposou a lisboeta Branca Simoa de Araújo. De tal casamento vem o ramo luso da família que possui o nome Vargas.

Tendo emigrado para os Açores, esse ramo da família se fixou na ilha de Faial, mais precisamente na localidade de São Miguel.

Anos mais tarde, em 1752, o governo português deliberou enviar centenas de casais de ilhéus ao sul do Brasil. Esses açorianos se distribuiram pelas cercanias do litoral riograndense, onde ergueram pequenas povoações, e também construiram suas casas ao longo dos rios Jacuí e Taquari.

A maioria desses açorianos tornou-se criadora de gado, em virtude de não ter conseguido os recursos necessários à agricultura. Entre eles se encontravam José de Vargas, marido de Inês de Faria, e Antônio José de Vargas, casado com Maria Josefa. Foram eles tronco de grande descendência, entre os quais contamos Getúlio Dornelles Vargas. Getúlio, que seria um dos mais importantes políticos da América Latina, nesse século, deveria ter o sobrenome Bueno, o mesmo de seu avô paterno. Porém como este separou-se de sua avó, os filhos, entre os quais Manoel do Nascimento Vargas, pai de Getúlio. Manoel, de nascimento era Vargas, mas de pai era Bueno.

Nasceu Manoel em Pulador, localidade entre Carazinho e Passo Fundo, em uma pequena casa de barro coberta de capim, a qual cheguei a conhecer.

Esses Vargas, descendentes de açorianos conservam o sobrenome de Vargas (com o de) o que, em geral, permite distingui-los de outro ramo existente no Rio Grande do Sul, vindo de Minas, e que assina Vargas (sem o de).

Provavelmente esses Vargas de Minas eram também açorianos, já que na mesma época houve imigração dos Açores para Minas Gerais.

Esse ramo da família já ali se encontrava no início do século XVIII. A corrida para a descoberta de ouro levou uma grande quantidade de desbravadores a procurar o território de Minas Gerais.

O segundo arraial fundado nas Minas Geras foi o de Sant'Anna (onde hoje está a cidade de Bonfim) Ali foi encontrado ouro, principalmente mais ao norte, em um ribeiro chamado pelos índios de "Pitang'i" ou rio das crianças (1696)

Nesse território viriam a se localizar os Vargas, onde hoje se encontra o município de Bonfim, no caminho para a atual Belo Horizonte.

Já em 1711 casou-se na capela do Carmo, Domingos Nogueira Vargas, com D. Monica Fernandes, de família muito importante, sobrinha do Coronel Salvador Fernandes Furtado de Mendonça.

Atraidos pelo ouro, logo os colonizadores de Minas Gerais criariam tradição como fazendeiros e criadores de gado.

Um deles, Vargas, por ocasião de uma venda de terras, foi seguido, roubado e assassinado a mando de um vizinho.

Seu filho, ao atingir a maioridade, vingou-se matando o assassino do pai e, tendo recebido como presente de sua mãe um revolver e um "pezuelo" (sacola de couro) cheio de moedas de ouro, seguiu rumo ao sul.
 
 

Os caminhos do sul

Carlos Ribeiro de Sant'Anna Vargas, seguiu rumo ao sul. Fugia de seus perseguidores mas levava na consciência a certeza de ter vingado a morte de seu pai. Porém a perseguição era contínua. Como recurso fez uma promessa. Onde cessasse a fuga, onde seus perseguidores desistissem, faria uma capela com o dinheiro que levava.

E ao sul da província de São Paulo, onde mais tarde se localizaria a cidade de Ponta Grossa, agora estado do Paraná, cessou a perseguição. Foi ali levantada a capela de Sant'Anna, até hoje a padroeira da paróquia e bispado de Ponta Grossa.

Tendo encontrado em sua trajetória uma índia, da tribo dos coroados, tomou-a como esposa. Chamava-se Quitéria e foi apelidada de Sinhá Grande.

O escritor Clemenciano Barnasque, em seu livro "Ephemérides Rio-Grandenses", afirmou:

"Por fins do século XVIII vivia em Ponta Grossa, no estado do Paraná, Miguel de Sant'Anna Vargas, casado com a mulher de nome Maria Angélica, descendente dos índios coroados daquele estado. Por motivo de um crime praticado por Maria Angélica, matando com um espeto de ferro a um escravo, que tentava assassinar seu marido, foi esse casal obrigado a ausentar-se de Ponta Grossa, buscando, em companhia de alguns escravos, o território do Rio Grande.

Nessa peregrinação através dos sertões desconhecidos, veio Vargas deter-se no atual município de Passo Fundo (nota:agora Carazinho), segundo a tradição no local denominado Cruzinha, no 4º distrito daquele município, onde permaneceu cerca de um ano.

Voltando depois a Ponta Grossa, no firme propósito de regressar ao Rio Grande, comunicou ao seu amigo Rodrigo Félix Martins o seu propósito. Este, adiantando-se de Vargas, apressou-se a vir para o Rio Grande, sendo o primeiro morador de Passo Fundo."

Muitos anos mais tarde, aproximadamente 1850, é que um de seus descendentes, Possidonio Ribeiro de Sant'Anna Vargas, em companhia de sua mulher Placidina Ferreira da Rocha Vargas e de alguns filhos, entre eles Pedro Ribeiro de Sant'Anna Vargas, nascido provavelmente em 9 de novembro de 1844, migraria para o sul, mais precisamente para a coxilha grande, divisor de águas, e onde se iniciava uma nova civilização.
 
 

O Carasinho

O registro mais antigo que encontramos de Carazinho, na época grafado com S, é de um mapa feito em 1841, com base em uma incursão do exército imperial, sob o comando do Brigadeiro J. P. dos Santos Barreto, efetuada durante a Revolução Farroupilha.

Nesse mapa observa-se a existência de uma localidade, no trajeto entre N. Sra. da Oliveira (Vacaria) e Cruz Alta, às margens do arroio Carasinho, e também início de uma estrada que se dirigia para a capital, Rio Pardo.

Nessa ocasião, já habitada por alguns paulistas e "curitibanos", chegaria o pontagrossense PossidônioSant'anna Ribeiro de Sant'Anna Vargas, casado com Placidina Ferreira da Rocha Vargas e com os filhos: Antônio, José Antônio, Miguel, Anna Maria, Ambrosina e Pedro. Deles descenderiam centenas de Vargas que se espalham hoje por Carazinho, Passo Fundo, Palmeira das Missões, Iraí, Nonoai, Santa Bárbara e novamente no Paraná, principalmente em Ponta Grossa.

A fazenda de Possidônio situava-se no caminho entre Carazinho e Não Me Toque e a sua sede um pouco antes da atual cidade de Não Me Toque . Há cerca de um ano encontrei um artigo publicado em uma revista antiga, do qual guardo cópia, e que não menciona o autor.

Ali se menciona que a origem do nome de Não Me toque estaria ligado a uma frase de Possidônio. Quando, instado pela esposa e filhas a mudar-se para mais perto do povoado de Carazinho, teria dito: "-Até concordo com isso mas não me toquem daqui". A partir de então seus familiares, e mais tarde seus vizinhos passaram a chamar o local de "Não Me Toque do seu Possidônio", o qual mais tarde foi abreviado.

Nominaremos agora as linhas de descendência de Possidônio Ribeiro de Sant'Anna Vargas:

1- Antônio Vargas, casado com Maria de Jesus Quadros, teve os seguintes filhos: Afonso Antônio (casado com Felipa Barros), Josina (cas. com Gregório Vargas), Eulália (cas. com Polidoro Albuquerque) e Augusto Antônio ( cas. com Emília Kurtz).

2- José Antônio (Sinhô), casado com Júlia Neckel, que não deixou descendentes, Pai de criação de Chiquita Neckel (irmã de Julia).

3- Miguel (Varguinhas), casado em primeiras núpcias com Bernardina de Quadros, de quem teve os filhos Dinarte, Pureza e Placidina (Sinhana). Em segundas núpcias com Justina S. Marques, teve os filhos Manoel João, Gerônimo, Laura Ignácia e Pedro.

4- Pedro, que morreu solteiro aos 33 anos de idade.

5- Anna Maria (Nharinha) casada com Roberto Félix Martins.

6- Ambrozina (Zina) casada com Elesbão Félix Martins

Desses estabelecemos a seguinte descendência:

1- De Afonso Antônio Vargas: Hercilio, Odolvira, Abelardo, Antônio, Mércio, Maria Augusta, Anita e Dalila.

2- De Augusto Antônio Vargas: Olintho, Ondina, Herondina, Olympia, Leopoldo, Antonieta e Lourival.

Continuam com sobrenome Vargas os seguintes:

1- De Hercílio: Salustiano, Loiva, Felipe, Cecira e Abelardo.

2- De Olintho: Alceu, Lélia e Jacira.

3- De Leopoldo: Alvaro

4- De Lourival:Iara

5- Descendentes de Dinarte, Manoel João, Gerônimo e Pedro (todos do ramo passofundense de Miguel (Varguinhas).

Na geração seguinte temos:

1- de Salustiano: Anamaria, Gelson Antônio, Regina.

2- de Felipe: Tarso e Marcio

3- De Abelardo: Luciano, Leandro, Diogo e Alexandre.

4- De Alceu: Alessandro, Alsione e Sislaine.

5- De Alvaro: Alvaro César, Paulo Roberto e Beatriz.

Na última geração temos:

1- De Gelson Antonio: Gabriele

2- De Alvaro César: Dana
 
 

Heráldica

As primitivas armas de Vargas são: "escudo de azur y cuatro fajas ondeadas de plata) Em outro local encontramos: "escudo de plata y cuatro fajas ondeadas de azur".

As armas dos principais ramos da casa Vargas, como são os de Garci Perez de Vargas e Vargas Machuca:

"Escudo partido;o 1º de prata e tres ondas de azul, o 2º de goles (vermelho) e um braço que tem pelos cabelos a cabeça do Rei dos 'garzules', bordeado das armas de Castela e Leon, é dizer castelos de ouro sobre gole (vermelho)" Estas são as armas de Garci Perez de Vargas e dos Vargas de Estremadura (Portugal).

Encontramos ainda uma referência onde se afirma: o brasão dos Vargas : "uma bordadura composta de Castela e Leão, exibindo quatorze peças, bem como um leopardo azul."
 
 

Bibliografia

1- Nobiliário de los reinos y señorios de España - D. Francisco Piferrer, Madrid, 1857.
2- Nobleza de Extremadura. Linaje de los Vargas - Alexandro da Silva y Almeida.
3- História antiga das Minas Gerais - Diogo de Vasconcelos.
4- História de los Mozarabes de España - Francisco Xavier Simonet, Madrid.
5- Vargas- Hélio Silva, 1980.
6- Getúlio Vargas e o seu tempo - Fernando Jorge, 1985.
7- Ephemérides Rio-Grandenses - Clemenciano Barnasque, 1931.
8- Genealogia, uma ciência nova - Paulo Xavier
9- Do Caapí ao Carazinho - Alvaro Rocha Vargas, 1980
10- São Miguel Arcanjo - Pedro Marques dos Anjos, 1986.

Texto: © 1999 Alvaro Rocha Vargas. E-mail: avargas@annex.com.br

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