Revista Comunità Italiana Edição 163

Page 1

Inverno siberiano Neve e gelo transformam paisagens italianas

Da Vinci no Rio Rio sediará exposição inédita de Leonardo Da Vinci em junho

Mudanças Monti quer acabar com velhos hábitos econômicos na Itália www.comunitaitaliana.com

Rio de Janeiro, fevereiro de 2012

Ano XVIII – Nº 163

Número de turistas estrangeiros bate recorde no Brasil e já é duas vezes maior que a média mundial. Italianos estão entre os que mais contribuem para esse boom

ISSN 1676-3220

R 7,00 R$ 11,90

Benvenuti

Chi è il nuovo ministro consigliere dell’Ambasciata a Brasília




F e v e r eiro de 2012

CAPA 32 | O turismo e a inflação Presença de turistas estrangeiros bate recorde, mas a alta dos preços praticados nas cidades brasileiras, cada vez mais em evidência com a proximidade da Copa de 2014, surpreende os visitantes

Atualidade 16 | Aperto Em busca de sanar as contas públicas e modernizar a economia do país, o premier Mario Monti enfrenta protestos de várias categorias de trabalhadores, mas mantém ações que visam também dar mais espaço aos jovens

18 | Scalfaro O adeus a Luigi Scalfaro, que comandou o governo italiano de 1992 a 1999, e esteve no Brasil em visita marcante em 1995

Ano XVIII

Nº163

Negócios 24 | Cosméticos

Nossos colunistas 07 | Cose Nostre

Terceiro maior mercado de cosméticos do mundo, Brasil abriga fábrica da multinacional italiana Alfaparf, que quer dobrar a produção nos próximos anos

Rio recebe em junho grande mostra de Leonardo Da Vinci com pinturas e desenhos originais do gênio nascido na Toscana no século XV

Em foco 23 | Neve recorde

Quali insegnamenti possiamo trarre dal drammatico naufragio dell’isola del Giglio

10 | Fabio Porta

Frio siberiano atinge toda a península itálica e monumentos históricos são cobertos de branco

Carnaval 30 | Como eles pulam Saiba o que os italianos que adotaram o Brasil para viver mais gostam de fazer durante a folia

11 | Ezio Maranesi La nostra moneta può chiamarsi lira, euro o fiorino, ma i conti devono sempre quadrare, con una spesa pari all’incasso

Gastronomia 57 | Pizza de verdade Restaurante de chef sardo conquista os cariocas que aceitam abrir mão do ketchup para saborear uma das pizzas mais autênticas do Rio

20 | Costa Concordia Ilha turística

Moda 27 | As últimas tendências Fique

Saúde 52 | Boa notícia

de Giglio luta para remover de suas águas famosas entre os mergulhadores o gigantesco navio que afundou em janeiro

por dentro das principais novidades do Fashion Rio e da São Paulo Prêt-à-Porter, que atraíram projetos italianos

Cientistas absolvem a famosa dupla queijos e vinhos, que traz benefícios para o organismo

46 | Giordano Iapalucci Il 2012 è il quinto centenario della morte di Amerigo Vespucci e la capitale toscana vuole ricordarlo con la mostra Americani a Firenze

54 | Andrea Cipriani Ratto Capire qual è la condizione delle tre dominatrici della Serie A può aiutare a farsi un’idea circa lo stato del meglio del calcio italiano

56 | Guilherme Aquino Quem entrar de carro no centro da cidade de Milão, pagará um pedágio de 5 euros para ter acesso a duas horas de estacionamento gratuito

42 Exposição do artista Amedeo Modigliani, que viveu apenas 35 anos, fica até abril no Museu de Belas Artes do Rio, e traz obras como Jeune Femme Assise Madame Cadorin (Menina Sentada - Madame Cadorin), de 1905 — observada pela ministra da Cultura Ana de Hollanda

4

fevereiro 2012 | comunitàitaliana

Bruno de Lima

58 | Claudia Monteiro De Castro Lembranças de um Carnaval em Ivrea, cidade do Piemonte famosa pela Batalha das Laranjas

Italian Style 55 | Italian Style Acessórios para saborear queijos e vinhos com um toque de classe



Editorial

Expediente

Merica, Merica, Mercia...

P

assos importantes são dados pelo primeiro ministro italiano para recuperar as finanças e principalmente a credibilidade da marca Itália no mundo. O encontro com Barack Obama, ainda o número um da maior economia global, do dia 9 de fevereiro, deixou claro que os EUA apostam suas fichas na serenidade e experiência de Mario Monti para salvar a Europa. Com o enfraquecimento do presidente francês Sarkozy, devido à campanha eleitoral que deixa o pequeno Napoleão cada vez mais distante de reassumir o atual cargo, o premier italiano ganha maior notoriedade, principalmente pelas conquistas recentes e rápidas ressaltadas no encontro com o presidente americano. “Antes de tudo, quero dizer que tive excelente impressão das ações de Monti na crise da Itália. Chegou ao governo em um momento extremamente difícil, tomou decisões rápidas e começou a recuperar rapidamente a confiança não só dos italianos, mas da Europa e dos mercados. O seu é um plano muito sério de responsabilidade com as despesas públicas e das reformas estruturais. Tem todo o nosso apoio, faremos de tudo para colaborar”, esta é a primeira declaração de Obama, após o encontro, aos jornalistas. Um Monti badalado também por cérebros da economia americana e do mundo que, em Washington, se sentaram para ouvir o “nonno elegante” de “voz Pietro Petraglia tranquila”, como definiu a revista “Time”, que dedicou a Editor sua capa para o fenômeno Monti, após três meses atrás ter dedicado a mesma para Berlusconi, em tom muito diferente. O primeiro a se levantar para aplaudi-lo, ao som de Super Mario, foi Fred Bergsten, chefe do prestigioso Peterson Institute, logo acompanhado pela platéia de managers, representantes do Fundo Monetário Internacional, professores e influentes membros do Fed. Pois Mario Monti também deve vir ao Brasil. E esta visita ao nosso solo deverá acontecer em junho, quando da ocasião da Rio+20, em que a participação italiana será bem consistente pelos avanços e a tecnologia alcançadas na área ambiental e os inúmeros exemplos ecológicos e de sustentabilidade que servem ao mundo.

Depois dos espinhos criados pelo caso do criminoso elevado a cidadão comum no país, Cesare Battisti, que, aliás, já anunciou que vai desfilar no tradicional bloco de carnaval Cordão do Bola Preta, e das divergências com Silvio Berlusconi, esta é uma ótima notícia para as relações entre Itália e Brasil. Confirmando-se esta viagem, ainda não anunciada oficialmente, um encontro com a presidente Dilma Rousseff daria fôlego para muitos interesses comuns entre os dois países.

Na edição deste mês, destacamos os números favoráveis para o turismo brasileiro, que na sua principal estação, mostra vigor acima da média mundial e assusta muitos visitantes que estavam acostumados a preços muito mais em conta no passado por aqui. Os italianos estão entre os que mais colaboram para o crescimento do setor. Além de turistas, muitos vêm para ficar e fazer investimentos no próprio ramo que os abriga.

Boa leitura!

Fundada

em

março

fevereiro 2012 | comunitàitaliana

1994

Diretor-Presidente / Editor: Pietro Domenico Petraglia (RJ23820JP) Diretor: Julio Cezar Vanni Publicação Mensal e Produção: Editora Comunità Ltda. Tiragem: 40.000 exemplares Esta edição foi concluída em: 10/02/2012 às 19:00h Distribuição: Brasil e Itália Redação e Administração: Rua Marquês de Caxias, 31, Niterói, Centro, RJ CEP: 24030-050 Tel/Fax: (21) 2722-0181 / (21) 2722-2555 e-mail: redacao@comunitaitaliana.com.br Redação: Guilherme Aquino; Leandro Demori; Cíntia Salomão Castro; Nathielle Hó Vanessa Corrêa da Silva; Stefania Pelusi REVISÃO / TRADUÇÃO: Cristiana Cocco Projeto Gráfico e Diagramação: Alberto Carvalho arte@comunitaitaliana.com.br Capa: Divulgação Colaboradores: Pietro Polizzo; Venceslao Soligo; Marco Lucchesi; Domenico De Masi; Fernanda Maranesi; Beatriz Rassele; Giordano Iapalucci; Cláudia Monteiro de Castro; Ezio Maranesi; Fabio Porta; Paride Vallarelli; Aline Buaes; Franco Gaggiato; Walter Fanganiello Maierovitch; Gianfranco Coppola CorrespondenteS: Guilherme Aquino (Milão); Leandro Demori (Roma); Janaína Cesar (Treviso); Lisomar Silva (Roma); Quintino Di Vona (Salerno); Robson Bertolino (São Paulo); Stefania Pelusi (Brasília); Vanessa Corrêa da Silva (São Paulo); Gianfranco Coppola (Nápoles) Publicidade: Osvaldo Requião Rio de Janeiro - Tel/Fax: (21) 2722-2555 Cel: (21) 9483-2399 orequiao@comunitaitaliana.com.br RepresentanteS: Espírito Santo - Dídimo Effgen Tel: (27) 3229-1986; 3062-1953; 8846-4493 didimo.effgen@uol.com.br Brasília - ZMC Representações Zélia Corrêa Tel: (61) 9986-2467 / (61) 3349-5061 e-mail:zeliacorrea@gmail.com Minas Gerais - GC Comunicação & Marketing Geraldo Cocolo Jr. Tel: (31) 3317-7704 / (31) 9978-7636 gcocolo@terra.com.br ComunitàItaliana está aberta às contribuições e pesquisas de estudiosos brasileiros, italianos e estrangeiros. Os artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores, sendo assim, não refletem, necessariamente, as opiniões e conceitos da revista.

La rivista ComunitàItaliana è aperta ai contributi e alle ricerche di studiosi ed esperti brasiliani, italiani e estranieri. I collaboratori esprimono, nella massima libertà, personali opinioni che non riflettono necessariamente il pensiero della direzione. ISSN 1676-3220

6

de


cosenostre Julio Vanni

Monti no Brasil em 2012

O

primeiro-ministro da Itália, Mario Monti, vai participar da Rio+20, segundo o vice-presidente do comitê preparatório do evento, Paolo Soprano. Ele informou que Monti “tem em sua agenda a participação na Cúpula Rio+20”. O evento, organizado pela ONU, será realizado de 20 a 22 de junho. Além de Monti, a delegação italiana deve contar com a participação dos ministros Corrado Clini (Meio Ambiente) e Giulio Terzi (Relações Exteriores).

Crotone na vanguarda s filhos de imigrantes que nascem em Crotone, na Calábria,

O

terão um atestado de cidadania italiana. Quem anunciou a novidade foi o prefeito Peppino Vallone, que se antecipou a uma possível lei em nível nacional que garanta o direito aos filhos de estrangeiros nascidos em solo italiano — solicitada pelo próprio presidente Giorgio Napolitano. “Trata-se de um reconhecimento devido a estas crianças nascidas nesta terra, e que são filhas de Crotone”, afirmou. Atualmente, o Estado italiano reconhece cidadania somente por meio do ius sanguinis, ou seja, por herança sanguínea.

Frase vira moda

Missão Fashion epresentantes do sis-

U

ma camiseta com a frase em italiano Vada a bordo, cazzo começou a ser vendida na internet, na esteira da repercussão do tenso telefonema entre o comandante do cruzeiro naufragado Concordia e o capitão Gregorio De Falco, da Capitania italiana dos Portos. O telefonema mostra indícios de que Francesco Schettino teria abandonado o navio, em vez de prestar socorro aos mais de 4.200 passageiros. Comentários na internet transformaram a frase “volte a bordo” em um símbolo de uma campanha para melhorar a situação de crise pela qual passa a Itália.

Pedrosa em Lucca mostra do artista plás-

A

tico brasileiro Bruno Pedrosa chegou a Lucca, cidade da Toscana. Intitulada Presagi (presságios) e curada pelo crítico e museólogo Maurizio Vanni, permanece no Lucca Center of Contemporary Art até 18 de março. Depois, retorna ao Brasil, onde ficará exposta no Museu do Ingá, em Niterói (RJ), em colaboração com a UFF e com o apoio do Momento Itália-Brasil. As pinturas e os desenhos apresentam abstrações que propõem a ideia de flutuação entre passado e futuro, finito e infinito, realidade e ilusão.

R

tema Moda Italia e EMI (Ente Moda Italia) esteve, de 17 a 20 janeiro, no Brasil, em missão de negócios no setor de moda. De olho no mercado brasileiro, que possui uma ampla distribuição de produtos e uma sólida rede de varejo com lojas independentes e shopping centers, a missão fashion foi realizada em conjunto com os eventos São Paulo Prêt-à-Porter e São Paulo Fashion Week.

O

bras originais de ninguém menos que Leonardo Da Vinci serão expostas no Museu Nacional de Belas Artes, no Rio — fechando com chave de ouro a agenda do Momento Itália-Brasil. A mostra está prevista para ser inaugurada na semana da Rio+20, por volta de 19 de junho, e deve reunir 30 obras atribuídas ao gênio do Renascimento nascido na Toscana em 1452. São quatro pinturas e 26 desenhos assinados por Da Vinci, além de obras dos “leonardistas”. Falta acertar os últimos detalhes, mas o coordenador da mostra, Cezar Prestes, dá como certa a vinda das pinturas O retrato de dama e O músico, e dos desenhos La Scapigliata e dos códigos do Atlântico. A vinda do Vitruviano e da Dama com Arminho ainda está sendo negociada. O curador será Claudio Strinati, diretor do Ministério italiano para os Bens e as Atividades Culturais. Os quadros e os desenhos pertencem a acervos de museus de Milão, Veneza, Parma e Cracóvia.

Caminho Neocatecumenal Papa Bento XVI deu o aval para o Caminho Neocatecumenal,

O

movimento que nasceu nos anos 1960 na Espanha e atualmente presente em todos os continentes, com mais de 70 seminários pelo mundo. O movimento foi criticado por alguns progressistas, que veem seus seguidores como rígidos demais, julgando o mundo moderno materialista e hedonista de maneira excessivamente pessimista. O grupo é percebido no Vaticano como uma de suas novas cartas de conversão após o escândalo que enfraqueceu os Legionários de Cristo pelos casos de pedofilia relacionados ao seu fundador Marcial Maciel.

Roma 2020

A

tletas italianos protagonizam uma grande campanha em prol da candidatura de Roma como sede dos Jogos Olímpicos de 2020. Assinado por 60 esportistas — entre eles os campeões azzurri Totti, Buffon e Valentino Rossi — o apelo dirigido ao premier Mario Monti foi publicado nos jornais do país em 8 de fevereiro, com o apoio da fundação Roma 2020 e da Câmara de Comércio da cidade. No dia 15 deste mês, expira o prazo de apresentação das candidaturas oficiais das cidades ao COI, mas o governo italiano, até o fechamento desta edição, ainda não havia dado seu aval ao projeto da capital italiana como sede do evento. Se entrar na disputa, a Roma terá como prováveis concorrentes Istambul, Tóquio, Madrid, Doha e Baku.

comunitàitaliana | fevereiro 2012

7


Opinião enquetes Mesmo em crise, a Itália ajuda países subdesenvolvidos como a Somália. Você acha justo?

Sim - 40% Não - 60% No site www.comunitaitaliana.com entre os dias 04/01/12 a 09/01/12.

Em Cuba, Dilma evita polemizar sobre direitos humanos e diz que Brasil tem telhado de vidro. É justo?

Sim - 44,4% Não - 55,6% No site www.comunitaitaliana.com entre os dias 10/01/12 a 15/01/12.

O governo brasileiro privatizou três dos maiores aeroportos do país. Você apoia a privatização?

Sim - 56% Não - 44% No site www.comunitaitaliana.com entre os dias 16/01/12 a 22/01/12.

no celular

Acesse comunitaitaliana. com no seu smartphone com o código QR acima

frases “Jamais teria pensado em me encontrar perante uma situação tão desastrosa, que apesar de inimaginável, era conhecida por toda a Cúria”,

Sabrina Scampini, apresentadora do programa de TV italiano Quarto Grado, em entrevista ao jornal Oggi, ao falar sobre a rede de microbog

arcebispo Carlo Maria Vigano em carta direcionada ao Papa, publicada no jornal Corriere della Sera. Ele denuncia a corrupção e má gestão na administração do Vaticano

“Sua beleza é muito forte nas imagens. Ela irradia uma verdadeira força e sensualidade. Como uma beleza icônica”,

“Realmente para mim foi um drama me manter bela, mas faço amor todos os dias, creio que isso ajuda”,

Donatella Versace, ao site francês Fashio Etc, sobre a escolha da modelo Gisele Bündchen, para a campanha de primavera 2012 da Versace

Sophia Loren, atriz, em coletiva de imprensa durante o Festival Internacional de Cinema de Acapulco

“Como um espectador, conservo felizmente a mesma curiosidade de minha juventude, razão pela qual é um grande privilégio para mim realizar esta viagem pelo mundo do cinema contemporâneo”,

“O excesso de informação provoca amnésia”,

Nanni Moretti, diretor italiano, ao ser convidado para presidir neste ano o júri da 65ª edição do festival de Cannes

Umberto Eco, escritor italiano em entrevista à revista Época. Ele afirma que a internet é perigosa para o ignorante, e útil para o sábio, porque ela não filtra o conhecimento e congestiona a memória do usuário

‘’Sob a liderança de Monti, a Itália está dando passos impressionantes para modernizar a sua economia, reduzir seu déficit e reposicionarse em direção ao crescimento”,

“A Itália tem um papel de liderança no processo de paz e na reconstrução da Somália”, Abdiweli Mohamed Ali, primeiro-ministro da Somália, em entrevista à Ansa

cartas

“A

chei interessante a matéria sobre as dificuldades para a concessão da cidadania na Itália. É muito triste saber que os direitos não são iguais para todos nascidos no país, independente dessas pessoas terem pais italianos ou não. Roberto Duarte, Belo Horizonte – MG – por e-mail

8

“Tenho medo do Twitter, medo que me devore a vida e me escravize”,

fevereiro 2012 | comunitàitaliana

Barack Obama, presidente dos Estados Unidos, em entrevista ao La Stampa poucas horas antes do encontro com o premier italiano, em Washington, em 9 de fevereiro

“Q

uero cumprimentar o autor da crônica È il mio Paese, Ezio Maranesi. Apesar de não ter nascido em terras italianas (minha mãe era de Cimadolmo, província de Treviso), o meu sentimento é de como se o fosse. Por isso, entendo e vejo como se a sensação de revolta do sr. Ezio fosse minha. Cumprimentos pelo texto. Adilson Lazaro, apresentador do programa Italia Canta, na Rádio Diocesana Cachoeiro de Itapemirim – ES, por email


Serviço agenda Exposição sobre Roma em São Paulo De 25 de janeiro a 22 de abril, o público vai poder apreciar, no Museu de Arte de São Paulo, o MASP, 370 peças dos principais museus de arqueologia da Itália. Com a curadoria do pro-

fessor de História Romana da Universidade de Florença, Guido Clemente, a exposição, que já passou por Belo Horizonte, procura retratar, através de objetos domésticos, esculturas e afrescos, as célebres conquistas dos imperadores e a opulência do Império. www.masp.art.br Una Bella Storia A Escola de Samba União da Ilha da Magia se apresenta

no dia 18 de fevereiro, na passarela Nego Quirido, em Florianópolis, para prestar uma homenagem à Itália dentro da programação do Momento Itália-Brasil. Com o samba-enredo Una Bella Storia, o desfile passeia pela Roma Antiga e retrata a época medieval até chegar aos dias

falas em língua italiana no espetáculo para homenagear o pai, o psiquiatra Raffaele Infante — um italiano admirador e seguidor de Nise. Com

direção de Daniel Lobo, o monólogo estreia em São Paulo, no teatro Eva Herz, no dia 1º de março, e reúne teatro, música, dança e projeções. A peça fala sobre a revolução realizada por Nise no campo do tratamento psiquiátrico. Em cartaz até 29 de março. www.livrariacultura.com.br/teatro atuais, contando a saga do imigrante italiano que desbravou novas terras e misturou sua cultura com a brasileira. www.uniaodailhadamagia.com

Mistero Buffo O espetáculo de Dario Fo, com direção de Neyde Veneziano,

Senhora das Imagens A peça baseada na vida da psiquiatra Nise da Silveira tem como protagonista a atriz Mariana Terra, que inseriu

Arquitetura responsável Em ocasião do 20º aniversário do Protocolo de Kyoto, a Universidade de Brasília receberá, no período de 3 a 13 de abril, a exposição A complexidade no projeto contemporâneo para uma arquitetura responsável, criada pelo EKOProject, em colaboração com a organização Italia Brasile per l’Ambiente Sostenibile (Ibas). A mostra vai fazer um panorama da arquitetura sustentável no mundo, através de obras de grandes mestres como M.Cucinella, que usaram a criatividade e a tecnologia a serviço da economia energética. www.unb.br

clickdoleitor Rastros A autora italiana Roberta Carreri apresenta em sua obra a documentação fotográfica de seu trabalho como atriz na peça Pegadas na Neve, além de belas imagens dos espetáculos dos quais participou. O livro é rico em informações biográficas, indicações técnicas, reflexões pessoais e extratos dos diários de trabalho da atriz, que foi dirigida por Eugenio Barba no Odin Teatret. Rastros é um manual dos segredos da maestria de uma atriz que passou pelo teatro de rua, conheceu a tradição interpretativa dos povos da Ásia e que soube, acima de tudo, improvisar e ser performática para públicos do mundo inteiro. Editora Perspectiva, 234 páginas, R$ 50,00.

As Melhores Viagens da Itália Dorling Kindersley apresenta em seu livro toda a diversidade de paisagens da Itália através de fotos e textos informativos que mostram o que há de mais interessante no país, de acordo com a época. Fevereiro é ideal para visitar Agrigento e a Magna Grécia, enquanto setembro é indicado para percorrer as trilhas de Cortina D’Ampezzo. Há sugestões de roteiros culturais, eventos e festas, cidades e monumentos, belezas naturais, viagens românticas, itinerários de aventura e programas familiares. O livro inclui dicas sobre acesso, hospedagem e alimentação. Publifolha, 336 páginas, R$ 89,90.

Arquivo pessoal

naestante

estreia com o grupo LaMínima no dia 24 de março no Teatro Popular do SESI, em São Paulo. Inspirada nos mistérios medievais, a comédia apresenta uma visão crítica de temas atuais, como a exploração do culto às celebridades e a ganância pelo dinheiro. A montagem ajusta a teatralidade do autor italiano à linguagem circense dos palhaços. Em cartaz até 3 de junho. www.laminima.com.br

“M

esmo sem ser carnaval, as belas máscaras venezianas de diferentes formatos e cores traduzem muito do espírito dessa cidade única. Na foto, estou diante de uma das lojas mais chiques de Veneza, às vésperas de um inesquecível réveillon na Piazza San Marco. ERIKA LIPORACI Niterói, RJ — por e-mail

comunitàitaliana | fevereiro 2012

9


opinione FabioPor ta

Titanic 1912 Concordia 2012 Quali insegnamenti possiamo trarre dal drammatico naufragio dell’isola del Giglio

I

l 13 gennaio del 2012 l’Italia ed il mondo hanno assistito ad una immane tragedia e, forse, a qualcosa di più. Il naufragio del “Concordia”, infatti, è stato un evento straordinario non solo per la sua drammaticità ma anche per l’incredibile successione di errori umani che l’hanno caratterizzato. La spregiudicata irresponsabilità del comandante Schettino, con ogni probabilità la causa principale del disastro, ha dato un nuovo e durissimo colpo all’immagine dell’Italia nel mondo. Con un incredibile tempismo, proprio mentre il governo Monti stava provando a restituire dignità al Paese puntando sull’affidabilità e la competenza del nuovo esecutivo, la sciagura del 13 gennaio ha rilanciato sulle pagine di tutti i giornali del mondo un’idea sbagliata e stereotipata dell’Italia e degli italiani. L’immagine di un Paese poco avvezzo al rispetto delle regole, dove tra il “genio” e la “sregolatezza” a prevalere è tristemente (isolatamente, direi) la seconda. Questa Italia è quella più lontana

10

dall’Europa, è l’Italia che negli ultimi venti anni ha spesso creduto di potercela fare da sola in virtù della sua “buona stella” o delle capacità taumaturgiche di un “uomo solo al comando”. Non è così che si superano le crisi e che si torna ad essere credibili e affidabili agli occhi del mondo. Paradossalmente, e proprio all’inizio di questo 2012, che già si preannunciava come l’anno della riscossa o della ricostruzione, la tragedia dell’isola del Giglio ci ha riportato con i piedi per terra ricordandoci drammaticamente quanta poca sia la distanza che ci separa dall’abisso e dalla fine. Ma c’è un’altra agghiacciante coincidenza che ha contribuito a dare a questa tragedia un carattere unico e al tempo stesso universale: a distanza di esattamente cento anni dal naufragio del “Titanic”, il più famoso e spettacolare naufragio di tutti i tempi, il dramma del “Concordia” sembra confermare in maniera scientifica quella maledizione dei numeri che spesso si nasconde dietro ì maggiori disastri della storia. 19122012: A cento anni di distanza la storia si ripete. All’inizio del secolo scorso, il “Titanic” rappresentava l’invincibilità e la potenza dell’uomo sulla natura, il trionfo della macchina e del progresso, un nuovo mondo dove grandi scoperte ed enormi

fevereiro 2012 | comunitàitaliana

ricchezze andavano a braccetto. Pochi anni dopo sarebbe scoppiata la Prima Guerra Mondiale e più avanti avremmo avuto il crack economico-finanziario del 1929. Non vogliamo oggi essere uccelli di malaugurio evocando presagi nefasti e distruzioni. Fortunatamente il mondo è cambiato e non solo in peggio, guerre e tragedie hanno insegnato qualcosa e sulla scena mondiale sono apparsi nuovi giocatori in grado di condizionare e riequilibrare tanto l’economia quanto le relazioni tra i popoli e le nazioni. Ciò non

deve però esimerci dal mantenere alto il senso di responsabilità di tutti, e in primo luogo di quanti hanno responsabilità politiche e di governo. In questo senso la tragedia e le vittime del “Costa – Concordia” possono costituire un utile insegnamento per ognuno di noi. Un monito grave all’umanità e non

A cento anni di distanza la storia si ripete. Il “Concordia” come il “Titanic”: due tragedie che sono lo specchio delle virtù ma anche dei vizi di due epoche storiche solo all’Italia e agli italiani; un appello alla riscoperta di valori ultimamente obsoleti o semplicemente “fuori moda”: il rispetto delle regole, innanzitutto, la sobrietà poi (contrapposta alla spavalderia), e infine il senso di responsabilità inteso nella sua accezione più ampia, che in alcuni casi può arrivare fino al sacrificio della propria vita per salvare quella degli altri (e non il contrario).


opinione

EzioMaranesi

Il magico suono della lira I

Siamo onesti: la colpa della crisi non è dell’euro. È tutta nostra l suono della lira delle Sirene era dolce e struggente. I marinai che doppiavano Scilla e Cariddi, in estasi, lasciavano il timone e tutto dimenticavano. Morivano d’inedia e le Kere, perfide dee della morte, facevano scempio dei loro cadaveri. Qualche secolo dopo, mentre Roma bruciava, Nerone strimpellava la sua lira. Sembra insomma che la lira facesse guai già nei tempi antichi. Eppure oggi si sente ripetere, quasi fosse un mantra: si viveva meglio ai tempi della lira. È vero, ma le verità scomode danno fastidio ed è meglio non porsi la domanda: perchè? Per capire i legami esistenti tra massa monetaria, inflazione, svalutazione, potere d’acquisto, parità di bilancio, prodotto lordo e debito pubblico non bastano i nostri modesti studi di economia. Possiamo provare a fissare alcune idee caserecce, cercando di capire perchè ai tempi della lira si vivesse meglio. Nacque l’euro e l’Italia, fondatrice dell’Unione Europea, optò per la moneta comune. L’euro sostituí la lira. Si addebita all’allora premier Prodi l’errore di aver accettato un tasso di conversione lira/ euro che penalizzò gli italiani: è vero, ma di ciò non intendiamo parlare. L’ingresso nella zona euro comportò, tra altre cose, la riduzione della nostra sovranità nelle aree fiscale e monetaria. Nell’area fiscale perchè il nostro bilancio doveva rispettare certe regole e limitare il suo deficit cronico. Nell’area monetaria perché alla Banca Centrale non era più permesso stampare moneta per riempire i buchi del bilancio. Nell’era della lira, la licenza di spendere senza limiti dava ai governi la possibilità di creare benessere in cambio di voti, di mascherare gli sprechi, di tollerare l’evasione fiscale, la corruzione e le mafie, i troppi dipendenti inutili troppo pagati, le pensioni concesse a quarantenni, gli incredibili privilegi dei politici e delle caste. Trionfavano il lassismo e il più cieco conservatorismo. Alcune conseguenze: dal’72 all’83 l’inflazione media

fu del 18.4% all’anno, più o meno nello stesso periodo la lira perse 4 volte il suo potere d’acquisto rispetto al dollaro, dall’82 al ’94 il debito italiano raddoppiò rispetto al prodotto lordo. Furono anni di spesa troppo allegra. Mancavano soldi? Si stampavano o si prendevano in prestito. E poi non c’erano, come oggi, 5 milioni di immigrati, l’invasione dei prodotti cinesi, la fuga delle fabbriche verso altri paesi e c’era lavoro per tutti. In quel clima di benessere drogato e di noncuranza

generalizzata l’italiano assimilò la cultura dello spreco e del consumo inutile, e ignorò che la globalizzazione stava cambiando il mondo. Le persone e le famiglie serie gestiscono il loro budget con rigore, spendendo nella misura delle disponibilità. L’Italia, e non fu l’unica in Europa, spendeva più di quanto fosse lecito. Stampare moneta a parità di prodotto lordo genera inflazione e perdita del potere d’acquisto. Il governo allora svalutava la lira, riducendo il debito espresso in dollari, aumentava l’export e adeguava gli stipendi. Il lavoro c’era, i consumi aumentavano e si aveva la percezione di stare bene.

La nostra moneta può chiamarsi lira, euro, fiorino o tallero, ma i conti devono sempre quadrare, con una spesa pari all’incasso Nessuno, in quegli anni, pensò che i nipoti avrebbero dovuto soffrire per restituire il debito mostruoso che si andava accumulando. L’Italia, con l’euro, non può stampare moneta. Né può aumentare il debito, ormai troppo alto. La cultura della spesa irresponsabile deve dare spazio alla cultura del rigore, e non è facile. E non ha senso demonizzare l’euro. La nostra moneta può chiamarsi lira, euro, fiorino o tallero, ma i conti devono sempre quadrare, con una spesa pari all’incasso. Si sostiene che un certo deficit possa essere benefico: siamo d’accordo, purchè però esso sia contenuto entro limiti ragionevoli e non sia gettato al vento. Deve essere investimento e non deve superare la capacità di restituzione del debito. Monti non può, come fece Ulisse con i suoi marinai, tappare le orecchie a chi è attratto dal suono della lira delle Sirene. Se proprio noi italiani vogliamo riavere l’intera sovranità e tornare a stampare le lirette possiamo farlo: ci aspetta una fortissima svalutazione e il ritorno al malcostume dei passati decenni. Ma i tempi e i costumi sono cambiati e l’Italia, forse, qualcosa sta imparando.

comunitàitaliana | fevereiro 2012

11


Attualità

L’uomo che non dice bugie Andreas Ferrarese, il ministro consigliere, ovvero il “numero due” come si definisce, è l’ultimo acquisto dell’Ambasciata italiana a Brasília. Un uomo pragmatico che vanta una lunga esperienza nella gestione di crisi e in materia economica Stefania Pelusi

È

De Brasília

arrivato nel gigante sudamericano il primo settembre 2011 con sua moglie Lucia e le sue due bambine di 4 e 1 anno, nate, la primogenita Sofia, a Roma, e l’altra, Serena, a Beirut. Nato in Germania perché suo padre era professore di filosofia e teologia all’Università di Tubinga (vicino a Stoccarda), e in quegli anni era anche assistente

12

fevereiro 2012 | comunitàitaliana

dell’allora Professor Ratzinger, dalla Germania si è trasferito con la sua famiglia a Napoli, poi in Calabria, in Friuli e infine a Venezia, sua città di origine, che vanta una lunga tradizione di mercanti e marinai. — Di formazione mi considero più vicino all’Europa del Nord, però credo che la cultura latina sia una componente essenziale e importantissima perché mi dà più vita, più fantasia, più anima. Essere metà tedesco e metà italiano è un buon bilanciamento perché se si uniscono, i risultati sono migliori — racconta riassumendo il suo

carattere pragmatico e la sua passione per la vita. Dopo aver studiato Lingue Orientali ed Economia finanziaria a Venezia, Ferrarese ha iniziato la carriera diplomatica nel 1994. Confessa che è difficile adattarsi in tutti questi spostamenti alle diverse realtà, ma “è anche la parte più bella di questo lavoro. Uno ha sempre delle sfide nuove”. Il primo incarico è stato I rapporti economici tra Italia e Asia. — Seguivo tutto: dall’India, Cina, Giappone. Erano anni interessantissimi perché l’Asia stava decollando e l’Italia doveva conquistare un posto economico rilevante in questi paesi — spiega il ministro consigliere.


ComunitàItaliana – Di cosa si occupava in questo primo incarico? Quali erano le sue funzioni? Andreas Ferrarese – Uno dei compiti era quello di scrivere e presentare rapporti economici sull’Asia al Ministerio degli Esteri che servivano per raffrontare lo scambio commerciale tra l’Italia e gli altri paesi e cosí valutare gli interessi nazionali. Era un’attività molto importante perché il governo si basava sui nostri dati. La seconda attività era quella di organizzare le visite politiche nei vari paesi, ed è proprio in quel periodo che è nata la convenzione di mandare figure politiche diverse, come il Presidente della Repubblica, il Presidente del Consiglio o il Ministro degli Esteri accompagnati da gruppi di 100 o 200 grandi imprenditori. È da lí che è nato il concetto di sistema paese. Queste missioni sono state nominate “di sistema” in cui il Paese veniva presentato, non solo politicamente, ma anche a livello economico. Questo ci ha aiutato moltissimo a portare l’Italia in Paesi che culturalmente erano lontani come la Cina, il Giappone, la Tailandia, il sudest asiatico, uno spazio di crescita di 500 milioni di persone, cioè due volte e mezzo il Brasile. Inoltre facevamo i negoziati per il riscadenziamento del debito, perché c’erano dei paesi talmente indebitati che non riuscivano più a pagare il debito con l’Italia. CI – Può fornire degli esempi? AF – Il primo paese è stato il Vietnam: abbiamo riscadenzato quasi 50 milioni di dollari e due anni dopo ci hanno importato merci per più di quella cifra. È stata un’operazione politica, gli abbiamo tolto il cappio dal collo. Inoltre abbiamo fatto in modo che tutti gli europei e gli americani ci seguissero, in modo che loro, liberati dal debito, han potuto crescere molto rapidamente. Poi i soldi ci sono tornati per altri canali, con le esportazioni. È stato un lavoro molto interessante: contribuito alla preparazione delle missioni del primo governo Prodi in Asia. Il commercio è cresciuto da 14 a circa 27 miliardi di euro all’anno in quegli anni. Questo mi ha dato molta soddisfazione e mi ha abituato a pensare ai problemi dell’economia, di crescita e di sviluppo ed anche a capire le culture. Per esempio non riuscivamo a vendere il prosciutto di Parma in Giappone, ma poi siamo riusciti a sbloccare le esportazioni. CI – Dopo questa esperienza, qual è stato l’incarico successivo? E dove?

AF – Dopo sono andato nelle Filippine. Avevo 28 anni ed ero il numero 2 nell’Ambasciata. È stata un’esperienza molto interessante perché c’erano 500.000 filippini in Italia e quindi tanti problemi consolari, ma è stata anche un’esperienza difficile perché ho dovuto affrontare il problema dei rapimenti di missionari italiani da parte degli estremisti islamici nel sud. Sono stati anni che mi hanno arricchito molto sul piano umano, però sul piano professionale sono dovuto crescere in fretta. CI – I sequestri erano molto comuni all’epoca? AF – Sí, noi abbiamo seguito una linea di grande fermezza perché non potevamo permetterci di cedere e di pagare. Solo nell’isola di Mindanao avevamo 150 missionari, se avessimo pagato per uno, li avrebbero rapiti tutti. Il governo filippino ci ha aiutato molto, alla fine siamo riusciti ad avere il rilascio. CI – Dopo quest’esperienza, qual è stata la successiva destinazione? AF – Sono stato a Israele dal 2000 al 2004, sono stati anni molto interessanti perché era durante la seconda Intifada. Lì ero il numero tre, ero responsabile del consolato e della sicurezza degli italiani, poi sono stato il responsabile delle visite politiche ed ero il portavoce stampa dell’ambasciatore. Il problema più grave erano gli attentati: in quattro anni sono stati all’incirca 1.000 e c’erano molti italiani che venivano in pellegrinaggio religioso, oltre ai 10.000 residenti tra cui le migliaia di italiani che ci si erano trasferiti all’epoca del fascismo. Abbiamo lavorato per ricucire ferite storiche di questi italiani, grazie all’amore comune per l’Italia.

Il ministro consigliere dell’Ambasciata italiana, Andreas Ferrarese, insieme alla moglie Lucia Ruffino

perché vogliono delle cifre. Anche se si è molto diretti e duri, le famiglie preferiscono la verità. Mai mentire. Nel lavoro diplomatico mentire è la cosa piu pericolosa, perché si perde la credibilità e prima o poi si viene a sapere. Io non ho mai detto bugie. CI – Com’era il suo quotidiano in questa situazione di continui attentati? CI – Una volta sono andato a mangiare la pizza con mia moglie. Siamo usciti dalla pizzeria e 20 minuti più tardi è entrato un kamikaze ed è esploso il locale. Una pace in cui può succedere tutto in qualsiasi momento. Un’esperienza difficile perché oltre alla propria sicurezza bisognava pensare a tutti gli italiani, che in media erano tra i 12 e i 13 mila. E quindi ogni volta che succedeva qualcosa qualche italiano poteva essere coinvolto. In tale contesto abbiamo organizzato visite di tutte le nostre maggiori cariche istituzionali.

“Essere metà tedesco e metà italiano è un buon bilanciamento perché se si uniscono i risultati sono migliori”

CI – Può descrivere la situazione in Israele in quegli anni? AF – Almeno una notte alla settimana la passavo negli ospedali, quando c’erano gli attentati, per vedere che non ci fossero vittime italiane. Abbiamo dovuto sviluppare un meccanismo sia per dare informazioni corrette, sia per non dare informazioni devianti o comunque non corrette, che per uno Stato è un problema di immagine incredibile. Nelle tragedie la comunicazione è molto importante. Il rapporto più delicato è con le famiglie che vogliono dei nomi, dei dati e con la stampa

CI – Qual è stato il momento più difficile? AF – La crisi della natalità nel 2002: c’era un gruppo di guerriglieri palestinesi che avevano occupato la chiesa dove è nato Gesù, a Betlemme. Sono stati circondati dall’esercito israeliano e avevano preso in ostaggio 5 giornalisti italiani. C’era un gioco di forze rilevante, tra America, Israele, il Vaticano, l’Italia e i giornali che dipendevano da testate che erano tra le principali in Italia, quindi è stata una trattattiva difficilissima. CI – Molte volte una persona prima di viaggiare si crea un’idea del paese in cui arriverà che non sempre riflette la realtà. È cambiata la sua impressione di Israele dopo averci vissuto? AF – Io mi aspettavo un paese più vicino alle sue origini, invece sono diventati più pratici, meno ideologici, comunitàitaliana | fevereiro 2012

13


Attualità più attenti alla vita quotidiana. Comunque rimane un paese con una grandissima forza interiore. CI –Dopo l’incarico a Israele è tornato a Roma per far parte dell’Unità di Crisi della Farnesina. Di cosa si occupa questa struttura? AF – L’Unità di crisi si occupa di assistere gli italiani all’estero in situazioni di emergenza. Non solo i sequestri, ma anche disastri naturali, come lo tsunami (dicembre 2004 nell’Oceano Indiano), l’uragano Katrina (agosto 2005), tifoni a Cancun (dove c’erano 30.000 italiani in vacanza) e anche i rapimenti politici. Io ero il vice capo. CI – Come avete gestito e reagito alla tragedia dello tsunami? AF – Mi ricordo che la notte dello tsunami ci siamo riuniti la mattina alle 7. L’idea era di mandare un aereo in ogni principale località asiatica, in modo da garantire una via di fuga per gli italiani. Invece noi, all’Unità di Crisi, avevamo i dati aggiornati di dove stavano gli italiani. Quindi abbiamo detto al capo della protezione civile Bertolaso e ai militari di mandare gli aerei direttamente in quelle località. È stata una scommessa che si è rivelata positiva: in una giornata hanno portato via tutti gli italiani prima che molti Paesi facessero decollare il primo aereo. In queste situazioni bisogna prendersi dei rischi e imparare a tenere la paura sotto controllo. Chi non ha paura è un incosciente, è diverso. CI – Qual è stata la sua ultima esperienza, prima di arrivare a Brasilia? AF – Sono andato in Libano. Dopo la guerra, nel luglio 2006, mi ero appassionato al paese ed inoltre era cominciata l’operazione Unifil II delle Nazioni Unite, una delle missioni meglio riuscite della ONU. Il Libano è un paese unico perché è l’unico esempio al mondo di democrazia interconfessionale, dove i voti si danno in base al numero, ma anche all’appartenenza religiosa. Inoltre spesso è un tavolo da gioco di altre forze e poteri. Ha circa 56 giornali e circa 40 Tv, per quasi 4 milioni di persone, quindi è un centro di informazioni enorme dove si fa il grande gioco di diplomazia. CI – Il Medio Oriente, questa zona calda del Mediterraneo, secondo lei avrà l’opportunità di rinascere? AF – Io continuo a considerare assurdo che il Medio Oriente, che 14

potrebbe essere la zona più ricca del pianeta, sia in questa situazione, però forse ci arriveremo. Noi italiani stiamo lavorando tantissimo per la sua stabilizzazione. Siamo i primi esportatori in Egitto, siamo il primo partner commerciale in Libano. Sono paesi dove condividiamo ricchezza: più ricco e pacifico è il Medio Oriente, più ricca e prospera è l’Italia, c’è una comunanza oggettiva di interessi.

anche i rapporti economici nelle due direzioni. Noi speriamo che sia un flusso, uno scambio di cultura produttiva bidirezionale. CI – Tra i nuovi progetti della presidente del Brasile, è stato recentemente approvato Ciências sem fronteiras, un programma che mira all’internazionalizzazione della scienza attraverso l’interscambio di studenti in fase di laurea e di post-laurea. L’Italia vi parteciperà?

CI – E della primavera araba, cosa ne pensa? AF – È una grossa sfida, soprattutto per i giovani. Penso che come europei, forse troppo a lungo siamo andati a dire alla gente cosa doveva o non doveva fare. È una responsabilità molto importante che cade su di loro. Certo, noi possiamo aiutarli, possiamo cercare di favorire questi processi verso quelli che pensiamo siano gli obiettivi migliori, ma loro devono scegliere. CI – L’Italia è più simile al Medio Oriente o all’America Latina? AF – Ci sono in realtà delle similitudini trasversali che sono il calore, l’attenzione alla vita. Sono realtà diverse, però allo stesso tempo c’è una creatività, un calore umano, un gusto per la vita che accomuna tutte queste aree. Io credo che la vera comunanza che abbiamo con l’America Latina sia una cultura alla base della quale sta la felicità dell’uomo che è una missione per lo Stato, e non viceversa. Qui in Brasile sono stato accolto in modo molto affettuoso, non ho sentito una grossa scossa culturale. I brasiliani sono un popolo orgoglioso, però allo stesso tempo amichevole e aperto. CI – Dopo il Medio Oriente, le hanno affidato di essere il braccio destro dell’Ambasciatore a Brasília. Come si trova? AF – Per me è interessante perché ho già fatto tutti i lavori che potevo fare in un’ ambasciata, però li ho sempre fatti su scala minore. La mia grande sfida personale adesso è quella di lavorare in una dimensione continentale. L’ambasciatore La Francesca deve timonare una realtà di sei consolati di carriera, 80 tra consolati onorari e agenzie consolari. È una delle reti più grandi al mondo. La scelta è quella di puntare molto sul soft power, proponendo il Sistema Italia nella sua interezza, in modo tale da aumentare

fevereiro 2012 | comunitàitaliana

Arrivato il setembre 2011 con la famiglia a Brasília, Ferrarese ha lavorato in Israele, in Libano e nelle Filippine

AF – La trovo un’eccellente iniziativa. La presidente Rousseff ha capito che per completare la crescita del Brasile bisogna creare una generazione di studenti cosmopoliti che conoscano il mondo e che abbiano tutta una serie di stimoli. Lei vuole creare una classe di giovani creativi che siano in grado di far fare un salto ulteriore al paese. Ci sono 5 paesi leader, noi siamo il quinto: accoglieremo 6.000 studenti brasiliani nei prossimi 4 anni. Sembra che le richieste siano molto superiori già adesso. CI – Come vede la situazione attuale dell’Italia? AF – Si è sentita l’esigenza di un governo tecnico che potesse fare delle scelte più difficili, però allo stesso tempo credo che sia nata una presa di coscienza di tutti gli italiani che c’è stato un quadro mondiale che è cambiato e noi non possiamo più vivere come abbiamo vissuto gli ultimi decenni, una situazione di relativa serenità interna. Ma credo che stiamo reagendo con grande dignità e fermezza e che il paese stia affrontando questo periodo con un grande senso di responsabilità.

“Io credo che la vera comunanza che abbiamo con l’America Latina sia una cultura alla base della quale sta la felicità dell’uomo che è una missione per lo Stato, e non viceversa”


Economia

Receita para vencer a crise

Economista-chefe do maior banco italiano confia que país se sairá vencedor da crise caso o governo desburocratize a abertura de empresas, promova a reforma trabalhista, combata a sonegação e venda o patrimônio imobiliário do governo em Roma Guilherme Aquino

A

De Milão

especulação financeira mexe decisivamente com a Itália. No roldão da disputa pelos ganhos fáceis e difíceis no mercado, a economia sofre com as oscilações dos humores dos investidores e com as reais condições de empresários e trabalhadores do país, que precisa gerar medidas que contenham a dívida pública, mas que incentivem o crescimento. É como assoviar e chupar cana, ao mesmo tempo. No encontro com a imprensa estrangeira, em Milão, Gregorio De Felice, o economista-chefe da maior instituição bancária da Itália — o Intesa Sanpaolo, fruto da fusão dos bancos Intesa e Sanpaolo IMI, com mais de 11 milhões de clientes — ilustrou os possíveis cenários que se desenham no horizonte italiano. — Um dos desafios é convencer os investidores estrangeiros a voltarem à Itália. A renovação da dívida italiana é fundamental. Uma consolidação fiscal e medidas de incentivo ao crescimento podem resgatar a confiança no sistema do país — afirmou De Felice. De acordo com as análises do banco, se as principais medidas forem tomadas pelo governo italiano, as chances de o país sair da crise são grandes. — Esperamos que, chegando a um equilíbrio de balanço com estratégias concretas, como as mudanças no ICI, na pensão, na taxação de operações financeiras e no aumento do IVA, o cenário possa melhorar. Qualquer estudante poderia garantir isso, com uma boa capacidade de acerto, como resultado de um equilíbrio de balanço — disse o economista graduado pela universidade Luigi Bocconi de Milão.

Medidas nas aposentadorias também são bem-vindas e fazem conta com o aumento da expectativa de vida da sociedade. A idade de aposentadoria para a mulher subiu para 62 anos e vai chegar a 66 para ambos os sexos em 2018. Para equilibrar as medidas de contenção de gastos, é importante calibrar

O economista-chefe do banco Intesa-Sao Paolo, Gregorio de Felice: convencer os investidores estrangeiros a voltarem à Itália é desafio importante

“Neste momento de crise europeia, os Bric têm um papel importante. Podem ajudar, mas precisam de reconhecimento de natureza política, o que significa maior poder de decisão em geopolítica internacional” bem aquelas de crescimento — a exemplo de taxas de incentivos para a população jovem, maiores espaços e salários para a mulher, e obras de infraestrutura. — O investimento em pesquisa e desenvolvimento na indústria que transforma, inova e agrega valor à matéria-prima é um elemento fundamental para aumentar a competitividade — comentou o italiano.

O banco aponta ainda a desburocratização como uma peça importante para voltar a atrair investidores. — A simplificação das regras e o menor tempo para se obter autorização para abrir uma atividade econômica é uma questão que precisa ser resolvida, até para diminuir o problema da corrupção. O italiano precisa mudar a mentalidade — alerta. Qualidade do made in Italy como ponto de força A instituição bancária espera que a estratégia do governo consiga ter sucesso na reforma das leis trabalhistas e do mercado do trabalho, na liberalização da economia, na luta contra a sonegação fiscal e na venda de patrimônio imobiliário do governo em Roma. Tudo isso, no entanto, depende das decisões tomadas pela União Europeia. A Itália tem como ponto de força a alta qualidade dos produtos fabricados internamente, ressaltam os analistas. Depois da Alemanha, foi a nação que menos perdeu cotas no mercado internacional. Entre 2000 e 2010, a Itália perdeu 0,7%, contra 0,1% da Alemanha; 1,6% da França; 1,7% da Inglaterra; 2,3% do Japão; e 2,3% dos Estados Unidos. — Isso mostra a importância que as nossas empresas deram ao direcionamento e à qualidade dos produtos propostos ao mercado. A perda de cota deveu-se, principalmente, ao avanço dos países emergentes e já industrializados — explica Gregorio De Felice. Em um ranking de 189 nações, a Itália aparece em segundo lugar, atrás da Alemanha, em um índice composto por cinco quesitos: a diversificação da geografia dos mercados; a cota de mercado mundial; a balança comercial e exportação per capita; e a diversificação de cada setor macroeconômico. Nove regiões italianas integram a comissão de frente do comércio mundial: Emília-Romanha, Friuli Venezia Giulia, Lombardia, Marche, Piemonte, Valle d’Aosta, Toscana, Trentino Alto Adige e Vêneto. — Neste momento de crise europeia, os países do Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) têm um papel importante na política internacional. Podem ajudar, mas precisam de reconhecimento de natureza política, o que significa maior poder de decisão em geopolítica internacional — conclui Gregorio De Felice.

comunitàitaliana | fevereiro 2012

15


Atualidade

O aperto da bota

Categorias profissionais como caminhoneiros, taxistas, advogados e até padeiros protagonizam manifestações em toda a Itália como resposta ao pacote de medidas decretadas pelo premier Monti, que visa modernizar o país e dar mais espaço aos jovens Gina Marques

N

De Roma

o princípio foi o verbo. Agora é a ação. Nomeado ao cargo de primeiro-ministro para tirar a Itália das trevas da crise econômica, o professor Mario Monti conta com o apoio da maioria dos parlamentares e de grande parte da população. Mas as reformas estão provocando diversos protestos no país. Enquanto o plano de austeridade de 63 bilhões de euros era feito só de palavras, todos concordavam. Quando a teoria passou para a prática, começaram os protestos. Desde o início, Monti explicou que preferia adotar as medidas com decreto para acelerar a aprovação no parlamento. Depois do decreto Salva Itália, o governo lançou a “fase dois”, que propõe medidas de crescimento com os decretos Simplifica Itália e Liberaliza Itália. O governo, formado por 16 ministros tecnocratas, pretende acabar com a burocracia e fazer a economia do país decolar para afastar o risco de recessão. Segundo as estimativas, o peso burocrático e a ineficiência da administração pública custam para as pequenas e médias empresas italianas cerca de 23 bilhões de euros por ano. Já o projeto de lei para liberalizar a economia italiana tem como principal objetivo fazer o PIB, a soma das riquezas produzidas pela nação, crescer dois pontos ao ano. 16

— Considera-se que a economia italiana está bloqueada, e liberalizar os principais setores pode elevar o potencial de crescimento a 2%, enquanto o crescimento do PIB anual não superou a média de 1% nos dez últimos anos — explicou o economista Giuliano Nico, professor do Mip, a escola de comércio da Universidade Politécnica de Milão. Modernizar a velha Itália O governo Monti quer suprimir obstáculos que freiam o crescimento de um país em recessão, apesar da oposição dos setores mais atingidos. A proposta é a modernização da atividade econômica visando o incremento da concorrência, e também a simplificação do mercado de trabalho. Além disso, a União Europeia já havia alertado a Itália para o fato de que a abertura da concorrência é imprescindível. O atual primeiro-ministro foi comissário europeu da concorrência. Ele entende do assunto e fez deste tema uma das suas grandes prioridades de governo, citando o “desarmamento multilateral de

fevereiro 2012 | comunitàitaliana

A greve dos caminhoneiros provocou uma corrida aos supermercados. Prateleiras vazias e o aumento dos preços de frutas e legumes assustaram a população de Norte a Sul da Itália

todas as corporações” para abrir espaço aos jovens. Monti ressaltou a necessidade de “reduzir as proteções”, das quais é beneficiária “cada categoria na Itália, mais que em outros países”. Com as novas medidas, os estudantes de profissões liberais poderão trabalhar dois anos antes de se formarem. O decreto prevê, entre outras novidades que, quem tiver menos de 35 anos vai gastar apenas um euro para abrir uma empresa no regime fiscal simplificado. A associação de consumidores Adiconsum calculou que a queda dos preços provocada pela inevitável abertura à concorrência de muitos setores significará para as famílias italianas uma economia de mais de mil euros por ano. Os planos do governo italiano são ambiciosos e corajosos, pois pedem sacrifícios que acarretam impopularidade: um risco que até então nenhum político teve coragem de enfrentar. As mudanças atingem várias profissões e diversos setores da economia: táxis, farmácias, transportes públicos locais, distribuidores de gasolina, de gás, seguradoras, bancos e profissionais liberais. As medidas previstas incluem o aumento do número das licenças de táxi e do número de farmácias, a liberdade de escolha dos fornecedores para alguns postos de gasolina e a abolição das tarifas mínimas de advogados ou notários. Segundo a associação dos consumidores Cittadinanzattiva, a


Outra categoria que protestou foi a dos caminhoneiros. A manifestação começou na Sicília e acabou contagiando todas as regiões. Durante quase uma semana, no final de janeiro, faltaram frutas, verduras e alimentos frescos em muitos supermercados. Eles são contrários ao aumento do preço dos pedágios, das taxas e do preço dos combustíveis. Neste campo, o governo já propõe uma solução: para baixar o preço da gasolina, acaba o contrato de exclusividade de uma companhia petrolífera com seus distribuidores. Itália detém o primado europeu da menor quantidade de táxis por habitante nas grandes cidades: em Florença a relação é de um para 613 habitantes; em Roma, de um para 457 habitantes; em Nápoles, de um para 422 habitantes e; em Milão, de um para 286 habitantes. Corporações em pé de guerra e prateleiras vazias As corporações mais atingidas estão em pé de guerra contra estas medidas. Os taxistas multiplicaram as greves em janeiro. Apesar das concessões obtidas pelos sindicatos, vão continuar os protestos. — Endividei-me por 30 anos para pagar minha licença — justificou um taxista de Milão para explicar a frontal oposição ao aumento do número de táxis no mercado. Sobre as farmácias, o limite de uma para cada três mil habitantes desaparece. Com isso, cinco mil novos estabelecimentos deverão abrir e definir o horário de funcionamento, assim como os plantões e as promoções dos remédios. Os médicos serão obrigados a receitar medicamentos genéricos. Acaba também a tabela de honorários para advogados e cartorários, com exceção das liquidações judiciais e de processos ligados ao governo. Os advogados protestaram em diversas cidades italianas na ocasião da abertura do ano judiciário em 28 de janeiro. Naquele dia, em Nápoles, durante a cerimônia oficial no Castel Capuano, usando becas, os doutores entraram no nobre Salão dos Bustos com as bocas tapadas por esparadrapos como mordaças. A ocasião também serviu para recordar que, no país, quase 9 milhões de causas judiciais estão pendentes, das quais 5,5 milhões são causas civis e 3,4 milhões, penais.

O pão nosso de cada dia O decreto da simplificação mexe até com os padeiros. Na Itália, por incrível que pareça, era proibido vender pão fresco nos domingos e feriados. Alguns supermercados não respeitavam esta norma e nunca ninguém chamou a polícia para repreendê-los. O paradoxo é que, ao invés de celebrar esta decisão do governo, os padeiros protestaram com frases como “deixem-nos dormir pelo menos uma noite”.

Os decretos de Monti colocaram um fim à tabela de honorários para advogados e cartorários, ao limite de uma farmácia para cada três mil habitantes e à proibição de venda de pão fresco aos domingos Eles argumentam que varam a madrugada trabalhando para fazer o pãozinho quente de manhã. “A questão dos padeiros e a fragilidade dos seus argumentos, contrários à liberalização, é a fotografia desta Itália de 2012, onde se

Parasitas do fisco

U

ma publicidade televisiva atualmente exibida nas televisões dos lares italianos mostra a imagem microscópica dos parasitas de diversos animais, como peixes e cães. Em seguida, exibe o parasita dos seres humanos, definido como um parasita social: o sonegador. Quem vive às custas dos outros prejudica todos. Combater a evasão fiscal é do teu interesse — são os dizeres da campanha, que, além dos monstros microscópicos com esquisitos nomes científicos, exibe a foto de um homem em carne e osso. O dito cujo evasore não é um galã da tv. O modelo chama-se Giancarlo e, embora moreno de olhos azuis, barba cerrada e costeletas de puro maschio testosteronico, é um romano narigudo e “meio gordinho”, que encara o objetivo da câmera fotográfica com cara de mau. A campanha começou a ser divulgada no período final do governo de Berlusconi e continua sendo veiculada pela mídia italiana.

protesta a prescindir, quase como se fosse impossível se subtrair da retórica do lamento”, comentou o jornalista Dario Di Vico em artigo de opinião publicado no Corriere della Sera. Combater o parasita social: o sonegador O governo Monti quer se livrar de uma das principais pragas que afligem a economia da Itália: os sonegadores. As operações de fiscalização foram intensificadas, principalmente em lugares símbolos de riqueza, com o objetivo de transmitir a mensagem de guilhotinar a sonegação dos impostos. Os controles feitos durante as badaladas de final de ano em Cortina D’Ampezzo são exemplos. Recentemente, 600 agentes realizaram uma blitz em Milão e autuaram os comerciantes que sonegavam impostos. Segundo os dados desta operação, 30% dos fiscalizados não declaravam corretamente as entradas. Isso significa que, de cada três comerciantes milaneses, um não declara corretamente o que ganha. A União Europeia, em agosto do ano passado, fez um estudo sobre a sonegação das taxas nos 27 países do bloco. A Itália ficou no pódio dos sonegadores. Segundo o instituto italiano de estatísticas Istat, 120 bilhões de euros são sonegados a cada ano, sendo que o valor da economia submersa italiana é ainda maior: 275 bilhões de euros.

comunitàitaliana | fevereiro 2012

17


Atualidade

O adeus ao homem das duas repúblicas Fotos: Divulgação

Milhares comparecem ao funeral do ex-presidente Luigi Scalfaro, falecido aos 93 anos, em Roma. Visita ao Brasil em 1995 foi marcada pela emoção

Luigi Scalfaro governou a Itália de 1992 a 1999. Seu funeral, no coração de Roma, atraiu muitos políticos e populares que prestaram uma última homenagem ao homem de transição entre a primeira e a segunda repúblicas 18

fevereiro 2012 | comunitàitaliana


Gina Marques

N

De Roma

o último adeus, na Igreja de Santo Egidio, no bairro de Trastevere, no coração da capital, não havia uma coroa de flores, mas o buquê de pimentas malaguetas escolhido pela sua única filha Mariana. Oscar Luigi Scalfaro adorava comida picante, especialidade do Sul da Itália, embora tivesse nascido em Novara, na região do Piemonte, no Norte do país. Ele morreu no último 29 de janeiro, aos 93 anos, em seu apartamento, em Roma. Sua despedida foi sóbria, sem cerimônia solene e repleta de significados. A começar pela pimenta, que simboliza a união cultural entre o Norte e o Sul do país — em um momento de ventos separatistas que sopram de partidos extremistas setentrionais. Durante a missa celebrada na igreja Santa Maria, em Trastevere, o monsenhor Vincenzo Paglia recordou que, em cima do criado mudo de Scalfaro, havia sempre um rosário e o livro da Constituição, representando a sua fé católica e a devoção laica pela instituição. Poucos homens guiaram a Itália em situações tão difíceis como durante o período do seu mandato, de 1992 a 1999. Eleito presidente da República em 25 de maio de 1992 — apenas dois dias após o clamoroso assassinato do juiz Giovanni Falcone, morto junto com a esposa

e os guarda-costas, no atentado mafioso na estrada de Capaci, na Sicília. Em seguida, a Itália foi sacudida pela operação mãos-limpas, que investigavam o envolvimento entre política e corrupção. As investigações acabaram derrubando muitos políticos e partidos, entre estes a Democracia Cristã, a qual, durante quase meio século, esteve no comando do país — da qual Scalfaro foi membro. Como presidente, enfrentou momentos difíceis com coragem. Em 3 de novembro de 1993, políticos derrubados pela operação mãos-limpas o envolveram no controverso escândalo do caixa dois dos serviços secretos italianos, o Sisde, na tentativa de difamar a presidência. Como reação, o presidente fez um forte pronunciamento transmitido em todos os

Scalfaro governou a Itália nos anos 1990, década em que o país foi sacudido pela operação mãoslimpas, contra a máfia

“Espero morrer otimista. Para mim, o otimismo tem um só significado: se as coisas não vão bem, existe um espaço para lutar. Não digo vencer, porque o importante é lutar. Posso até perder. Mas o que aconteceria se a minha parte tivesse vencido e eu não tivesse feito nada?” Oscar Luigi Scalfaro, presidente da Itália de 1992 a 1999

Visita ao Brasil marcada pela emoção

O

scar Luigi Scalfaro deixou recordações em diversas partes do mundo, inclusive no Brasil. Era o ano de 1995, e já haviam se passado 30 anos desde a última visita de um presidente italiano ao país. No mês de junho, Scalfaro desembarcou no Rio de Janeiro para uma intensa agenda de seis dias que incluíram reuniões com o então governador Marcello Alencar, uma missa celebrada por dom Eugênio Sales, no Mosteiro de São Bento, e um caloroso discurso para mais de mil italianos e seus descendentes na Casa d’Italia, com direito a caravanas vindas de outros estados do país com grande presença italiana, como Rio Grande do Sul e Espírito Santo. Eu li, nesta manhã, depois da visita ao governador, como há mais de 30 anos o presidente não vem aqui. Por mais de 30 anos... Pedi para justificar-me dizendo que não sou presidente da República há 30 anos, e isso para a sorte da Itália. Sou presidente há três anos — afirmou Scalfaro em seu discurso. Encantado com a paisagem carioca, ele declarou que “as belezas naturais do Rio de Janeiro são incomparáveis”. O hoje governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral Filho, presidia, na época, a Assembleia Legislativa do estado, onde recebeu o presidente italiano. — Além de recebê-lo conforme o protocolo, também pude trocar ideias com Scalfaro. Lembro nitidamente da sua emoção quando falou sobre o incêndio na Galleria degli Uffizi, em Florença. Logo depois, ainda nos idos de 1990, recebi uma medalha da República italiana. Essa comunida-

O ex-presidente Scalfaro em diversos eventos no ano de 1995 no Brasil

de tem enorme importância na formação cultural, social e econômica do Brasil. De 1995 em diante, o país aumentou a capacidade hospitaleira que gerou muitos investimentos estrangeiros. A Itália figura entre eles — afirmou o então candidato ao governo do Rio de Janeiro, Sergio Cabral Filho, em entrevista à Comunità.

canais nacionais de radio e televisão, e disse a frase que ficaria para sempre na história da Itália: — Eu não aceito este jogo ao massacre. O nono presidente da Itália era definido como o homem de transição entre a Primeira e a Segunda República. No entanto, era um tutor severo e coerente da Constituição que ele ajudou a escrever em 1946. Costumava repetir que “a Constituição defende a figura humana violada pela ditadura fascista”. Em 1943, durante o poder de Mussolini, foi obrigado a jurar fidelidade ao regime para poder assumir o cargo de magistrado. Terminada a guerra, em 1946, fez parte da Assembleia Constituinte e foi eleito deputado no primeiro Parlamento, em 1948. A partir daí, nunca mais deixou a política: foi senador vitalício, diversas vezes ministro, mas nunca premier. Diversos políticos prestaram homenagem a Scalfaro durante o seu funeral, exceto os filiados ao Partido da Liberdade e da Liga Norte. Ele não tinha uma boa relação com Silvio Berlusconi, especialmente após 1994, ano em que não aceitou que Cesare Previti, advogado do magnata da televisão, fosse nomeado ministro da Justiça. Após tantas batalhas, Scalfaro se considerava um lutador otimista. — Espero morrer otimista. Para mim, o otimismo tem um só significado: se as coisas não vão bem, existe um espaço para lutar. Este é meu otimismo. Não digo para vencer, porque o importante é lutar. Poder dizer, com a ajuda de Deus, “eu batalhei”. Posso até perder. Mas o que aconteceria se a minha parte tivesse vencido e eu não tivesse feito nada? — declarou, certa vez, em uma entrevista à imprensa italiana. Colaborou Cintia Salomão Castro

comunitàitaliana | fevereiro 2012

19


Atualidade

Giglio luta por retomada Um mês após o naufrágio do cruzeiro comandado por Francesco Schettino, a bela ilha toscana aguarda a remoção total do Concordia Da Redação

M

eca dos mergulhadores italianos, ávidos por apreciar sua rica fauna marinha, a pequena e pacata Giglio, uma das sete ilhas do arquipélago toscano, sofreu um revés em sua história turística logo no início do ano. Entre o mar da Ligúria e o Tirreno, com pouco menos de 1.500 habitantes, a região assistiu a um naufrágio que, a cada dia, prova que o mar é uma incógnita. A gigantesca Concórdia — a maior embarcação da frota da empresa italiana Costa Crociere, construída em 2005 nos canteiros genoveses da Fincantieri — continua encalhada em frente à ilha. Na noite da inauguração, estranhamente, a garrafa de champanhe não se rompeu. Um presságio dos supersticiosos que, coincidência ou não, acabou se confirmando negativamente na noite de 13 de janeiro de 2012, em um acidente definido pelo diretor geral da Costa Crociere, Gianni Onorato, como “a maior tragédia da nossa navegação em 64 anos de história”, deixando um triste saldo de 17 mortes confirmadas e 15 desaparecidos. O transatlântico de 1500 cabines levava mais de quatro mil pessoas a bordo quando colidiu com uma rocha enquanto margeava a ilha, seguindo as ordens do comandante Francesco Schettino. Acusado de homicídio culposo múltiplo e abandono de navio, o capitão permanece em prisão domiciliar. Frio e vento atrapalham as operações O mau tempo que afetou a Itália no início de fevereiro suspendeu por vários dias o início da retirada das 2,3 mil toneladas de combustível armazenadas nos tanques. As empresas 20

responsáveis pela tarefa tinham previsto começar a extração em 28 de janeiro, mas a forte onda de frio, acompanhada do forte vento, adiou a operação e interrompeu o trabalho de busca dos desaparecidos. Mergulhadores disseram que a água dentro da embarcação estava se tornando mais turva a cada dia.

A ilha de Giglio, no litoral da Toscana, atrai muitos mergulhadores por reunir uma das mais ricas faunas marinhas do Mediterrâneo

O prefeito da ilha, Sergio Ortelli, pediu a retomada dos trabalhos o mais rápido possível, não só por causa da poluição, mas também pela proximidade da temporada turística, principal atividade econômica de Giglio. Os combustíveis pesados devem ser bombardeados e os ambientalistas continuam alertando para o perigo de vazamento no santuário marinho de Giglio. O responsável da Defesa Civil italiana, Franco Gabrielli, calculou que serão necessários de sete a dez meses para remover o cruzeiro do litoral, mas garantiu que a carcaça será inteiramente removida. O monitoramento dos movimentos do navio, no entanto, continua sendo feito pelos técnicos do Departamento de Ciências da Terra da Universidade de Florença, assim como o acompanhamento ambiental por parte do Instituto Superior para a Proteção e a Pesquisa Ambiental.

Costa Concordia Airbus A380 Proprietário: Carnival Corp. 72,7 metros Peso: 114.500 toneladas Extensão: 290 metros Velocidade: 43 km/h Allure of the Seas* Passageiros: 3.700 360 metros Tripulação: 1.100 Custo: E 450 milhões

Costa Concordia 290 metros Titanic 269 metros

Fonte: Graphic News, BBC, Reuters.

fevereiro 2012 | comunitàitaliana

*Maior cruzeiro do mundo


Ponto de interrogação no mercado Ainda não se sabe o exato impacto do naufrágio no mercado milionário dos cruzeiros. Afinal, alguns capítulos aguardam um desfecho, como a operação para evitar o derramamento de combustível no mar. Os operadores italianos, no entanto, temem prejuízos, especialmente depois que os confrontos civis no Norte da África prejudicaram o turismo nas águas mediterrâneas meridionais. Mas, segundo o delegato italiano da European Cruise Council,

O mau tempo que afetou a Itália em fevereiro adiou o início da retirada das mais de duas mil toneladas de combustível armazenadas nos tanques do transatlântico Roberto Martinoli, ainda não foram registradas grandes oscilações, com poucos cancelamentos mostrando que ainda existe confiança nos transatlânticos. Porém, nas últimas semanas, a América do Norte registrou uma queda no número de reservas, comunicou a empresa Royal Caribbean, informando que, na Europa, onde a cobertura do acidente pela mídia foi mais ampla, “o declínio foi bem maior, ainda que os resultados variem conforme o país”.

Proteção ao patrimônio

D

ez dias após o naufrágio do Concordia, a Unesco solicitou, oficialmente, que o governo italiano restrinja o acesso dos grandes cruzeiros em áreas ecológicas e culturais importantes. Além de apresentar suas condolências pelo acidente, a diretora geral da Organização das Nações Unidas para a Educação a Ciência e a Cultura, Irina Bokova, afirmou, em carta entregue ao Ministério italiano do Meio Ambiente, que o trágico acidente reforça a antiga preocupação sobre o “risco que esses cruzeiros representam para locais inscritos na lista do Patrimônio Mundial da Humanidade”. O texto também afirma que “o tráfego de cruzeiros é particularmente prejudicial à frágil estrutura da cidade” e que “os navios provocam marés que danificam os alicerces dos edifícios, poluem e afetam a visão da cidade ao apequenar os monumentos”. A entidade também pediu às autoridades italianas que desenvolvam ‘rapidamente’ um plano para desenvolver alternativas ao tráfego marítimo na região de Veneza.

Costa desde 1854

A Turismo da dor

F

otógrafos amadores munidos de celulares junto a cenários de tragédias como a Avenida 13 de Maio, no centro do Rio, onde três edifícios desabaramno dia 25 de janeiro, já se tornaram comuns. Em frente ao Concordia, a gigantesca embarcação parcialmente submersa na ilha de Giglio, não é diferente. O “turismo da dor” provoca polêmica entre os italianos, mas atrai centenas de curiosos àquela região da Toscana. Poucos dias após o naufrágio, mais de mil pessoas desembarcaram no Porto Santo Stefano para chegar ao local. Com câmeras e telefones celulares, posavam, tendo ao fundo o que restava do Concordia. Em apenas um dia, no final de janeiro, Giglio acomodava 1.080 turistas, contra a média de 130 nos dias anteriores ao naufrágio. “Nunca vi uma coisa do gênero em um mês de inverno”, disse ao site Leggo.it Libero Schiaffino, um dos responsáveis pela vende de bilhetes para os dois barcos que fazem a travessia entre o continente e a ilha.

pesar de ostentar uma reconhecida marca made in Italy, a Costa Crociere, assim denominada em 1986, é controlada por norte-americanos desde 1997, quando a família Costa, de Gênova, cedeu a companhia ao grupo Carnival Corporation por 445 bilhões de euros. Entretanto, o estilo italiano dos seus cruzeiros luxuosos era marcante. Em 2010, Costa Crociere declarou um faturamento de 2,8 bilhões de euros. As raízes, porém são muito antigas: fundada em 1854 por Giacomo Costa, transportava azeite e tecidos da Sardenha à Ligúria. Sua frota atual tem 14 navios.

comunitàitaliana | fevereiro 2012

21


Notícias

Missão Brasil

O

Ministério italiano do Desenvolvimento Econômico deu início ao road show informativo sobre a grande missão do sistema Itália que será realizada no Brasil. A visita de empresários e representantes de instituições de 16 regiões da Itália está marcada para acontecer entre os dias 21 e 25 de maio, em cidades como São Paulo, Curitiba, Recife e Belo Horizonte. Visitas a pólos industriais, seminários e encontros bilaterais estão programados. O objetivo é agilizar a penetração econômica do aparato produtivo italiano no mercado brasileiro, além de promover o made in Italy no Brasil. A previsão é que 200 empresas italianas participem da missão.

Set de Diminuta

C

omeçam ainda este ano as filmagens de Diminuta, com roteiro e direção do cineasta Bruno Saglia e produção da B.o.x.x. Filmes, em co-producção com a Teleimage e Oceano Filmes. O longa será gravado em Porto Alegre e em cidades da Serra Gaúcha, como Flores da Cunha e Bento Gonçalves, mas também contará com locações na Itália, incluindo a capital Roma, Perúgia, o belo Lago de Garda e a Sicília. Integram o elenco Deborah Evelyn, Carlos Vereza, Germano Pereira, Derico Sciotti, Vanessa Jackson e Jane Kelly Saglia. O filme vai contar a história do saxofonista Cristian, filho de Marco Aurélio Aquino, um luthier italiano. Depois da morte do pai, que sempre o influenciou no aprimoramento da sua vocação, Cristian vai para o Brasil morar com um tio, constrói uma família e torna-se um corretor de seguros, mas mantém uma forte ligação com a música.

Patrimônio da humanidade

A

berta à visitação em São Paulo somente até o dia 25 de fevereiro, a mostra Os sítios italianos do Patrimônio Unesco oferece ao visitante uma viagem fotográfica por 44 lugares, espalhados em todas as regiões da Itália, que foram declarados Patrimônio da Humanidade. As imagens do fotógrafo italiano Luca Capuano apresentam a visão atual do rico panorama que precisa ser preservado. O Espaço Cultural do Conjunto Nacional fica na Avenida Paulista, 2073. A entrada é gratuita. A mostra integra a agenda do Momento Itália-Brasil e é organizada pelo Instituto Italiano de Cultura.

A Etrúria em 3D

A

civilização etrusca ocupou boa parte do território italiano, sobretudo a Toscana e o Lácio, e até hoje fascina os pesquisadores com uma escrita parcialmente decifrada e uma origem incerta. Ao longo da mostra multimídia Etruscos na Europa, que está percorrendo cidades europeias desde 2010, os visitantes podem conhecer, em terceira dimensão, a antiga Etrúria, passando por cidades que esbanjavam produção artística, como Tarquinia, Cerveteri, Chiusi e Perúgia. Atualmente em cartaz no Museu do Mediterrâneo de Estocolmo, onde fica até 2 de setembro, a exposição foi idealizada por Alessandro Barelli, presidente da associação Historia. A mostra em 3 esteve em Trento e em Bruxelas em 2011, e deve passar por Copenhagen, Madrid e Paris até 2013.


Em foco

A Itália coberta de branco A última Era Glacial terminou há 12 mil anos, mas as paisagens italianas de janeiro e fevereiro pareciam remontar à época em que o branco era a cor dos vales da Pianura Padana. O clima siberiano atingiu vários países da Europa, da Ásia e até da África do Norte — a exemplo da Argélia —, deixando mais de 500 mortos, sobretudo pessoas sem-teto e vítimas de acidentes. Na Itália, a neve caiu de Norte a Sul, e a temperatura atingiu os níveis mais negativos dos últimos 70 anos. Em Milão, os termômetros marcaram -18; em Turim, -21; no Vêneto, -15; nas Dolomitas, - 48,3.

A Piazza del Duomo, cartão-postal de Milão, sob a neve. Os termômetros da capital da Lombardia registraram, no dia 6 de fevereiro, 18 graus negativos, o que não acontecia desde 1956. Na primeira grande onda de neve e gelo de 2012, a prefeitura usou 9.600 toneladas de sal nas estradas

O centro histórico de Turim amanheceu branco. Estações do metrô foram fechadas por causa de alagamentos e do rompimento de tubos devido ao gelo. A capital do Piemonte chegou a registrar -15º

A neve que caiu na Sardenha bloqueou estradas, como a SS 131, que liga Sassari (foto acima) e Cagliari

A neve também conferiu uma paisagem inusitada aos monumentos romanos como o Coliseu, mas causou caos nos transportes públicos, fechou escolas e bloqueou o acesso a atrações arqueológicas de Roma

comunitàitaliana | fevereiro 2012

23


Fotos: Letícia Armond

Negócios

Brilhosos e perfumados Brasil está a um passo de se tornar o segundo maior mercado consumidor de produtos cosméticos do mundo. Fábrica brasileira da italiana Alfaparf quer dobrar produção nos próximos anos Cintia Salomão Castro

Q

uando o assunto é mercado de cosméticos, o Brasil só perde para os Estados Unidos e o Japão. De acordo com os dados da empresa britânica Euromonitor International, o país, além de ocupar o terceiro lugar do ranking de venda de artigos de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos, não para de crescer

24

nesse âmbito: o faturamento registrado em 2010 atingiu a marca de R$ 27,6 bilhões, um incremento de 12,6% em relação ao ano anterior. E a expectativa é a de que o Brasil ultrapasse os japoneses nas estatísticas de 2011, ainda não divulgadas, mas aguardadas com ansiedade pelos especialistas do setor. O crescimento da classe C é apontado como uma das causas do boom, além de fatores como a participação crescente das mulheres no mercado de trabalho e a necessidade de manter uma aparência jovem, juntamente com o aumento da expectativa de vida e a utilização de tecnologia de ponta

fevereiro 2012 | comunitàitaliana

Josué Sampaio e Federico Orlando, executivos da Alfaparf, na filial brasileira da multinacional italiana: planos de dobrar a produção nos próximos anos

gerando o incremento da produtividade das indústrias, o que faz com que o preço do produto final não aumente tanto quanto os outros artigos. O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos, a Abihpec, João Carlos Basilio, acredita que também contribuíram para os resultados a modernização da indústria e o investimento em marketing. — O crescimento em 2011 deve ser de 10%. Esperávamos crescer mais. A inflação pesou no bolso do consumidor e nós concorremos com outros produtos de consumo, como o celular, que tem uma conta a ser paga todo mês — afirma Basilio. Os produtos para os cabelos lideram a lista dos itens com os


quais as indústrias mais faturam, com 22,1% do bolo. Presença forte desse segmento, a multinacional italiana Alfaparf — uma das marcas mais conceituadas do mundo em produtos no segmento profissional para cabeleireiros — vem participando diretamente dessa expansão brasileira. Há 14 anos em território brasileiro, a fábrica fica no bairro carioca de Campo Grande: é o maior estabelecimento da companhia tanto em dimensão quanto em capacidade de produção, quando comparada com as outras cinco fábricas da empresa, localizadas no país de origem, no México, na Venezuela (reaberta em dezembro) e na China. Com área total 19 mil m² de estrutura coberta, emprega diretamente 400 pessoas e, indiretamente, 300, que atuam na área da comercialização no varejo.

A

empresa italiana também decidiu apostar suas fichas no crescente mercado masculino, no qual o Brasil tem 9% de participação mundial, ocupando a segunda posição no ranking, atrás apenas dos Estados Unidos. Com xampu, condicionador, tônico, gel, massa opacificante e coloração em gel sem amoníaco para mascarar os cabelos brancos, a linha Uomo foi lançada no final de 2011em nível mundial “e está indo bem, tendo em vista que o homem é menos vaidoso do que a mulher”, comenta o diretor de operações da fábrica brasileira, Federico Orlando. Os fatos comprovam a tese de Federico. O mercado da beleza masculina cresceu tanto que, em julho deste ano, São Paulo vai abrigar a segunda edição de um evento dedicado exclusivamente a empresas e profissionais que desenvolvem produtos e serviços para a estética e o bem estar dos homens. A Men’s Beauty Show vai acontecer de 14 a 15 de julho e deve reunir dezenas de expositores.

Perfil empresarial Distribuição das empresas do setor de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos no Brasil RR 0

AM 9

Fonte: www.abihpec.org.br / Atualizado abr/2010 – total ano 2009

AC 1

AP 1 MA 4

PA 6 RO 7

TO 1

MT 7

MS 1 Norte 25 Centro-Oeste 126 Nordeste 139 Sudeste 1047 Sul 322 Brasil 1.659

DF 12 GO 103 SP 732

PR 145 SC 51 RS 126

As máquinas da fábrica brasileira da Alfaparf, no Rio, vieram da Itália

Homens estão mais vaidosos

CE 22

PI 11 BA 44

MG 146 RJ 146

ES 23

RN 6 PB 7 PE AL 39 SE 0 6

— Nosso objetivo é dobrar a atual produção efetiva — conta o diretor de operações da Alfaparf no Brasil, Federico Orlando. Os produtos da marca italiana são vendidos em mais de 80 países de culturas muito distintas entre si, como Tunísia, Estados Unidos, Polônia e República Dominicana. Dentro desse universo, o perfil da consumidora brasileira se destaca pela grande procura por alisantes e produtos com mais componentes químicos, enquanto que, nos outros países, as pessoas costumam focar no cuidado. As tinturas que colorem as madeixas das consumidoras lideram as vendas no Brasil, e os tons avermelhados são mais procurados do que os louros, detalha Federico. O sucesso das tinturas da Alfaparf no mercado explica-se pela forte tecnologia da empresa, que consegue “embarcar

na fórmula uma maior quantidade de ativos combinados, o que garante o sucesso do resultado final”, explica o diretor industrial Adalberto Oliveira. Nas instalações da fábrica no Rio de Janeiro existem potentes máquinas, a exemplo de uma vinda especialmente da Itália para controlar a presença de todos os corantes que integram a fórmula das tinturas. O estabelecimento também conta com um centro de pesquisa próprio, onde profissionais procuram encontrar fórmulas adaptadas ao tipo de cabelo da mulher brasileira. Vários produtos da Alfaparf foram lançados a partir de estudos locais, a exemplo da linha Alta Moda, da qual 70% dos produtos foram desenvolvidos no Brasil, especialmente os produtos para cabelos cacheados e crespos.

comunitàitaliana | fevereiro 2012

25


Fotos: Letícia Armond

Negócios

EUA

59,8

1,7

16,0

Japão

43,8

6,8

11,7

Brasil

37,4

30,1

10,0

China

23,6

10,8

6,3

Alemanha

17,7

-2,0

4,7

França

15,9

-3,8

4,2

Reino Unido

15,3

3,4

4,1

Rússia

12,5

15,0

3,3

Itália

12,0

-4,5

3,2

Espanha

10,4

-5,3

2,8

Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos

2010 US$ Bilhões

Participação %

O controle de qualidade testa os componentes das fórmulas de tinturas, cremes e xampus para garantir o padrão da marca italiana

Crescimento %

Mercado brasileiro

(preço ao consumidor)

Formação se destaca entre as concorrentes Os percursos de formação que a empresa organiza para os profissionais dos salões de beleza constituem uma das marcas registradas da multinacional italiana. — Quando entramos no Brasil, nos destacamos pela formação aos profissionais. O mercado

248,3

6,3

Mundo

374,3

7,0

66,3

© 2011 Euromonitor International

TOP 10

26

fevereiro 2012 | comunitàitaliana

O penteado como arte

A

brasileiro era muito carente de formação. A procura era grande, e as inscrições eram muito disputadas. Na época, outras empresas começaram a copiar esse estilo de formar. E também com um formato diferente de negócio: não havia distribuidores, inovamos por entrar com eles — ressalta Josué Sampaio, representante dos sócios internacionais. A Alfaparf promove cursos não apenas para os cabeleireiros, mas também para os proprietários de salões, de modo que consigam administrar seus negócios de maneira cada vez mais eficiente. — Afinal, a prosperidade deles é também a nossa — resume o italiano Federico Orlando.

Alfaparf Group nasceu no Norte da Itália, em 1980, como uma empresa projetada no futuro e empenhada em levar a arte do penteado para a alta moda. Seus profissionais pesquisam as novidades do setor em nível internacional e identificam as tendências mais importantes na moda, design, decoração, fotografia e arquitetura como fontes de inspiração e criatividade para a profissão do cabeleireiro. O penteado e o cuidado com os cabelos são encarados como uma verdadeira arte e a missão da empresa é exaltar a criatividade e o desenvolvimento de novos conceitos de beleza. Para isso, firma parcerias com instituições como o Instituto Europeu de Design, o IED, de Milão. As duas empresas vão dividir o mesmo edifício, na capital da Lombardia. A data de inauguração ainda não foi divulgada, mas a ideia é criar um novo centro de estilos e estudos que servirá de referência para o mundo da arte e dos cabelos. Já em construção, o local contará com uma área de 1.200 m², elaborado e customizado para atender as maiores exigências estilísticas de moda e beleza. O grupo detém marcas de nível internacional, como a Yellow; a Dibi Milano, Dibi Center, Becos, Becos Club, Fisiosphere e TeN (de cuidados com a pele). Os programas de formação profissional oferecem aperfeiçoamento desde a preparação até às técnicas de aplicação, e incluem o desenvolvimento da visão empresarial e administrativa na gestão do salão. A empresa apoiou o espetáculo Ensaio sobre a beleza, que abriu a agenda do Momento Brasil-Itália em outubro do ano passado. Em parceria com a Catharine Hill, que forneceu todo material, a Alfaparf realizou a maquiagem e caracterização de dezenas de artistas que estiveram em cena, na Cinelândia, no centro do Rio, diante de um público de cerca de cinco mil pessoas.


Moda — Pouco temos feito para identificar e atender às necessidades humanas. A nova classe média brasileira é composta por 190 milhões de pessoas ávidas por consumo e elas não querem mais produtos baratos. É preciso conhecer os estilos de vida e identificar as prioridades.

Parceria fashion Parceria entre o IED e o São Paulo Prêt-à-Porter promove Fórum de Moda, onde palestras foram realizadas com profissionais renomados do setor Janaína Pereira

A

De São Paulo

segunda edição da Feira Internacional de Negócios para Indústria de Moda, Confecções e Acessórios — a São Paulo Prêt-àPorter — trouxe uma novidade para os lojistas e distribuidores de moda que participaram do evento. Pela primeira vez, foi realizado o Fórum de Moda, resultado da parceria do Instituto Europeu de Design (IED) com a Feira. O IED, referência mundial da moda, tem sede na Itália e um núcleo em São Paulo, onde forma e incentiva profissionais do setor. Além disso, a instituição pretende instalar, no Rio de Janeiro, um centro de pesquisa e excelência. Durante a São Paulo Prêt-à-Porter, em janeiro, no pavilhão Expo Center Norte, 500 marcas de confecções e acessórios apresentaram suas novidades para compradores de todo o Brasil e do exterior. O evento trouxe ainda uma nova opção de compras para as coleções de outono/inverno 2012. Dentro do Fórum de Moda, os participantes puderam acompanhar diversas palestras com temas relacionados à gestão, ao marketing, ao processo criativo e às novas tendências. Para o ciclo de palestras, foram convidados profissionais

conceituados dentro dos segmentos de moda, negócios, comportamento, conceitos de comunicação e uso de tecnologia da informação aplicada ao setor. Uma das palestras mais disputadas foi a do ítalo-brasileiro Victor Megido sobre o mercado de luxo. Professor convidado da Universidade La Sapienza e do IED de Roma, ele escreveu o livro Luxo for All (2011), que trata de um novo conceito de luxo e das estratégias para abordá-lo junto à nova classe média brasileira. Para Megido, este novo conceito de luxo é um direito de todos. — É pelo luxo que moldamos nossa identidade e é com ele que reconheço a mim mesmo, no sentido de pertencer a algum grupo específico — defendeu. Além de não considerar o luxo algo inacessível, faz um alerta às empresas.

Para Victor Megido, um dos autores de Luxo for All: o luxo não deve ser algo inacessível

“A nova classe média brasileira é composta por 190 milhões de pessoas ávidas por consumo e elas não querem mais produtos baratos. É preciso conhecer seus estilos de vida” Victor Megido, professor do IED de Roma e autor do livro Luxo for All

Luxo para a nova classe média Victor Megido ainda apresentou números, cases e deu exemplos do novo conceito de luxo trabalhado por ele. Para ele, as empresas no Brasil ainda não se adequaram a esse novo formato de luxo. — Aqui, os serviços são caros e os bens ditos populares também. Toda a indústria precisa se preparar para oferecer novos tipos de produtos, para satisfazer novos tipos de necessidades. É preciso buscar novas perspectivas, observar o concorrente dentro de um rigoroso trabalho de benchmarking e estudar outros mercados — analisa. Outro destaque do Fórum foi a palestra de Katherine Sresnewsky Braun, que falou sobre gestão dos negócios de moda. A palestrante, que já trabalhou com grandes marcas como Guaraná Brasil, Zoomp e C&A, pontuou as dificuldades de gerir uma loja ou rede. — Para tomar as atitudes corretas, é essencial estar por dentro do que acontece no mundo, do que outras marcas estão fazendo e conhecer as particularidades brasileiras. Só assim, é possível identificar, inclusive, novas oportunidades. Ao contrário do que muitas pessoas imaginam, para gerenciar uma loja ou rede não é preciso ter uma superestrutura, mas conhecer o ciclo de vida dos produtos, as estratégias recomendadas para cada etapa e estar atento aos rumos do mercado, que está em constante movimento. Para Robério Xavier, da coordenação de marketing do IED, o sucesso do Fórum de Moda surgiu a partir da escolha dos palestrantes. — Os palestrantes têm um DNA transformador e inovador. Eles utilizaram temáticas enriquecedoras e voltadas para a construção de marcas consistentes e de sucesso. Robério acrescentou que o Fórum de Moda foi importante na relação do IED com o mercado brasileiro. — Ficamos lisonjeados em participar da São Paulo Prêt-à-Porter. O evento proporcionou aos participantes uma troca de conteúdo dentro do universo do design com o viés acadêmico — concluiu.

comunitàitaliana | fevereiro 2012

27


Moda

Uma vitrine para o mundo Rio-à-Porter e Fashion Rio marcam o mês de janeiro apresentando ao mercado da moda novas tendências para o inverno 2012

O

corpo é revestido por tecidos e cores que carregam mensagens e ideias. A moda comunica estilos de vida e ajuda na formação da identidade e na integração com grupos sociais. A roupa, portanto, ganha um sentido de proteção não só física como emocional. A maneira como uma pessoa se veste reflete sua personalidade e sua relação com a sociedade e com as formas culturais que a cercam. Nesse sentido, alguns eventos são pensados e projetados para promover tendências e movimentar o poderoso mercado formado por estilistas, grifes e lojistas. Partindo dessa premissa, a capital fluminense sediou, entre 10 e 14 de janeiro, dois grandes eventos – o Fashion Rio e o Rio-à-Porter – que desfilaram e expuseram suas novas coleções

28

Fotos: Divulgação

Nathielle Hó

do Inverno 2012 para compradores e para os “antenados” com a produção mundial das grandes marcas. Em sua 20ª edição, sob o tema Sou Rio, essa bossa é nossa, o Fashion Rio aconteceu no belo cenário do Píer Mauá, às margens da Baía de Guanabara. O tema do evento remeteu à música e à moda, duas vertentes culturais ligadas umbilicalmente. A gíria bossa, nascida nos anos 1950, faz referência ao jeito carioca de ser. Nesse ritmo, o Fashion Rio se descortinou para desfilar modelos com muitas cores e estampas, o que representa bem o clima da cidade e o humor do carioca que não dispensa a leveza nem o conforto nas roupas. Nas passarelas, 24 grifes marcaram presença. A novidade

fevereiro 2012 | comunitàitaliana

O maquiador e fotógrafo Fernando Torquatto fez uma exposição de retratos intimistas em preto e branco de personalidades da música, cinema e televisão, durante o Fashion Rio

de 2012 ficou por conta da estreia da estilista Bianca Marques, que prestou homenagem ao balé e brindou o público com a presença da bailarina Ana Botafogo. A editora do site da Vogue Itália, Roberta Lippi, fez um balanço geral dos desfiles e elogiou as criações brasileiras. — Muitos estilistas mostraram maturidade e criatividade no mesmo nível das principais semanas de moda do mundo — enfatizou. Além dos desfiles, o Fashion Rio contou com espaços que abrigaram exposições relacionadas à arte e ao design. O maquiador, fotógrafo e consultor de imagens Fernando Torquato estava à frente da mostra que, através de grandes painéis, homenageou artistas da música, do cinema e da televisão. Em outro armazém, a exposição intitulada Essa bossa é nossa contou com a curadoria do músico Charles Gavin. O tema abordado foi a influência do design na música através de capas de discos inspiradas no Rio de Janeiro. Enquanto isso, em outro galpão, acontecia a mostra do arquiteto e designer Sergio Rodrigues. De forma divertida, Sergio retratou, por meio de fotografias e objetos, móveis desenvolvidos por ele. Com investimento de R$ 15 milhões, o Fashion Rio e o Rio-àPorter geraram mais de oito mil empregos e reuniram um público de 90 mil pessoas. A feira de negócios Rio-à-Porter, que tomou conta das dependências do charmoso palacete Linneo de Paula Machado, hoje Casa Firjan da Indústria Criativa, contou com 108 expositores, além de atrair visitantes e compradores do mundo todo.


Roma inspira coleção de Alessa Migani Um dos destaques do Rio-à-Porter foi a coleção baseada na Itália da estilista Alessa Migani. Alessa já havia criado uma coleção exclusiva para a loja italiana Coin. Este ano, ela presta homenagem ao pai nascido no Vaticano e reverencia o tataravô, que foi alfaiate do Papa, com a coleção Roma Amor. — Eu não sabia que meu tataravô tinha sido alfaiate do Papa, foi uma coincidência. Meu pai trouxe um diploma da Itália, no ano passado e pediu-me ajuda para restaurá-lo. Quando montei as partes do papel, estava escrito Alfaiate do Papa. Carrego no sangue a vocação. Ter feito a coleção Roma Amor foi uma forma de homenagear meus antepassados — enfatizou. Alessa “passeia pela Itália” e apresenta um apaixonante roteiro de estampas com imagens de símbolos históricos e da arquitetura italiana. As estampas digitais ganham o contorno da torre de Pisa,

do Pinocchio, do mapa da Itália, da Toscana e da Vespa, entre outros. Nesta estação, a estilista apostou em silhuetas alongadas e looks vaporosos e esvoaçantes. Na cartela de cores, prevalecem o preto, azul, bege e alaranjado, além dos tons metálicos, hit da temporada de inverno. No Rio-à-Porter, a estilista aumentou o número de compradores estrangeiros, angariando Nova York, como novo mercado importador de suas peças. Alessa atualmente está presente em 150 multimarcas no Brasil e em 30 países que recebem suas criações, entre eles, a Itália. Ela já vendeu para Roma, Nápoles, Capri e Milão. Agora, pensa em ter sua própria loja no país. — Eu tenho intenção de fazer uma Casa da Alessa em Roma. Estamos negociando com investidores, mas ainda não há data prevista para isso acontecer, pois temos agora um novo perfil da marca voltado para um mercado de luxo — finalizou a estilista. Ecojoiais, reciclagem de papel e alumínio O Rio-à-Porter abriu espaço para marcas como JS Design Sustentável e Mônica Krexa, que produzem peças diferenciadas e customizadas que primam pela conservação do meio ambiente e reutilização de materiais. A JS Design Sustentável, com sede em Cabo Frio, é liderada pela designer argentina Julieta Sandoval, que apostou em técnicas de reciclagem

Fotos: Nathielle Hó

Países como Rússia, França, Reino Unido, Bahrain, Japão e República Dominicana apostaram no produto made in Brazil. Os números obtidos com a feira foram muito positivos, principalmente para algumas marcas como a 2nd Floor, que conseguiu realizar a primeira parceria internacional com a França, e para a marca Ausländer, que dobrou suas vendas em comparação com a edição passada. O presidente da Associação Brasileira de Indústria Têxtil e de Confecção, Aguinaldo Diniz Filho, ressaltou que as marcas inovaram esse ano e que isso alavancou as vendas. — As empresas reunidas no salão mostraram um design que supera a questão do custo Brasil mais facilmente. É a prova de que inovar é o caminho. Acompanhado de medidas incentivadoras do governo, alavancará mais negócios ainda — concluiu. O sucesso do Rio-à-Porter foi antecipado pelos excelentes números de exportação apresentados pela Secretaria de Comércio Exterior, em parceria com o Sistema Firjan. Em dez anos, as exportações fluminenses cresceram 134%. Em 2001, o Rio teve um lucro de US$ 9,4 milhões. Em 2011, o ganho passou a ser na faixa dos US$ 22 milhões. Com isso, o estado do Rio conseguiu atingir o terceiro lugar entre os maiores exportadores, atrás apenas de São Paulo e Santa Catarina.

O Rio-à-Porter contou com a presença da estilista Alessa Migani (abaixo), que apresentou coleção inspirada em Roma. As argentinas Mônica Krexa e Julieta Sandoval (acima) mostraram que é possível fazer belas joias com produtos reciclados

de papel para lançar três novas linhas de ecojoias: locomia, geometrik e básicos. Julieta, que estudou moda na academia de Florença e teve seu primeiro trabalho no setor têxtil na Linha Piu, na Itália, diz que seu trabalho com a sustentabilidade tem a ver com seu estilo de vida. — Ter um comportamento ecologicamente correto é uma postura que eu adotei para minha vida pessoal e profissional. A ideia das ecojoias é diminuir a exploração de recursos naturais e reaproveitar coisas que são consideradas descartáveis. As cooperativas me fornecem revistas, panfletos e jornais, e eu transformo esses materiais em “joias” feitas de papel. O europeu, incluindo os italianos, tem um conceito mais avançado sobre joias, saindo um pouco do ouro e da prata, para experimentar outros materiais — ressaltou Julieta. Já a advogada argentina Mônica Krexa, com o intuito de popularizar seus produtos, apresentou, no Rio-à-Porter, charmosas bolsas, trabalhadas em lona, couro e camurça, além de brincos, anéis, braceletes e adereços de cabeça utilizando o alumínio que barateia o produto final. — Já usei prata e outros materiais, mas o alumínio me dá vantagens que os outros não têm: não se altera, está sempre brilhante e não escurece como a prata. O custo também é muito importante. Em uma mesma peça em alumínio, o custo é de R$ 20,00; em prata, sobe para R$100,00. Eu trato o alumínio como material nobre. Meu objetivo é que a minha joia chegue a todos os públicos — salientou.

comunitàitaliana | fevereiro 2012

29


Carnaval

Como pulam os italianos Comunità entrevistou alguns italianos que moram no Brasil para saber o que eles mais gostam de fazer durante a maior festa brasileira. Gente que coloca a paixão típica da terra de origem na celebração do samba. Executivos, diplomatas, artistas ou chefs de cozinha, eles contam que admiram a folia brasileira, mesmo vivendo há vários anos no país do Carnaval Cintia Salomão Castro

“G

osto muitíssimo de participar do Carnaval. Já passei no Rio e em Salvador. No Rio, participei dos desfiles do Salgueiro e da Grande Rio, e também do baile do Copacabana Palace, que achei maravilhoso! Agora, o primeiro desfile, não se esquece jamais... O meu, no Salgueiro, foi inesquecível, mas também adorei sair na Grande Rio, em 2011, debaixo de chuva, mas com muita alegria!” Antonella Cavallari La Francesca, embaixatriz da Itália, no Brasil desde agosto de 2009

“D

“G

ostaria de passar o tempo na minha casa com os meus lindos cinco cachorros, porém, tenho que trabalhar. Eu sou portelense de coração. Logo que cheguei ao Rio, alguns colegas do hotel me levaram à quadra da escola (Portela): foi amor à primeira vista... O carnaval que mais me marcou foi o de 1995, quando desfilei pela primeira vez. A Portela estava muito linda! Mas foi um espanto chegar em segundo lugar, perdendo para a Imperatriz por meio ponto. Foi um roubo total!” Francesco Carli, originário de Asiago e chef do Copacabana Palace, no Brasil desde 1993

esde que cheguei ao Brasil, em 1952, gosto muito de assistir ou de participar dos desfiles das escolas de samba. Sou filiado à Portela há mais de 50 anos. Já desfilei na Velha Guarda várias vezes. Também gosto dos blocos, como o Não muda nem sai de cima, do bairro da Muda, que mantêm vivo o Carnaval nos bairros da cidade. Gostava muito dos carnavais na época que os desfilem eram na Avenida Presidente Vargas, onde presenciei os melhores desfiles. Depois, as escolas foram se transformando por causa da exigência do espetáculo. Quando mudou para a Marquês de Sapucaí, houve uma adaptação devido ao pouco tempo de desfile. Com mais de cinco mil participantes, o tempo é mínimo. A bateria teve de acelerar muito para que a escola desfilasse dentro dos 90 minutos. Se exceder, perde pontos. Os passistas hoje têm que correr, o que é lamentável. O ritmo do samba também já não me agrada muito. Acabaram ficando todos iguais, por serem rápidos. Prefiro aquele mais cadenciado de antes. Há muita gente que não tem nada a ver com o entrosamento da escola e desfila. As escolas que se apresentam mais bonitas são aquelas que trazem a sua comunidade em peso, como a BeijaFlor, a Mangueira, o Salgueiro. Já a Portela é uma escola que fica longe da zona sul, mas tem muito prestígio. Não quero usar a palavra “branco”, porque eu sou branco e gosto do samba (risos), mas ali há uma mistura de turistas e paulistas que não sabem sequer a letra do samba, mas compraram a fantasia. Sem dúvida, é o maior espetáculo da Terra. O investimento chega ao absurdo, porque o desfile dura minutos em um único dia e a possibilidade de ser campeã é mínima: esse é o milagre do Carnaval. Nos meus primeiros anos no Brasil, gostava de ir aos bailes do Copa (Copacabana Palace) e do Teatro Municipal, que eram maravilhosos. A maior parte acontecia no centro do Rio mas, por causa do crescimento rápido da cidade, isso acabou se perdendo. O Brasil é de fato o país do carnaval, em cada lugar do país tem o seu ritmo, como Recife, Olinda e Salvador. Mas o carnaval carioca é o mais alegre e o mais intenso. Este ano, devo assistir ao desfile em Petrópolis. A cidade vai me prestar uma homenagem, com desfiles e cartazes com minhas caricaturas espalhadas pelas ruas”. Lanfranco Aldo Ricardo, o cartunista Lan, célebre por retratar as mulatas do Rio, nascido em Montevarchi e membro da Velha Guarda da Portela

30

fevereiro 2012 | comunitàitaliana


“V

“J

“D

“D

ivo há muito tempo no Brasil. Então, a cada ano, faço uma programação diferente: desfilo, saio em blocos ou viajo, às vezes para a Itália, onde já fui curtir o Carnaval de Veneza. Saí em várias escolas do Rio. Este ano, é provável que eu desfile na São Clemente, pois uma amiga está fazendo a cenografia da escola, dedicada a grandes musicais. Meu primeiro desfile foi inesquecível, em 1986. Ainda era turista e meus amigos me convidaram para sair na Portela, mas eu realmente não fazia ideia da dimensão daquilo, sequer havia visto pela televisão! Quando me deparei, estava na avenida e fiquei impressionada com aquela grandiosidade. A escola foi campeã e ainda participamos do desfile das campeãs. Aquele momento, incrível e emocionante, certamente, contribuiu para que eu decidisse morar no Brasil”. Francesca Romana Diana, designer de joias, há mais de 20 anos no Brasil

esfilei umas quatro vezes em escolas de samba. Uma delas foi pela Mangueira. Já saí sobre um carro alegórico como representante da Itália, vestida em branco, vermelho e verde. Particularmente interessante foi ter participado como ajudante de campo, quando usei uma camiseta de equipe técnica. Eu podia andar em todas as áreas. Quando saí fantasiada de mariposa, meu ex-marido, mesmo assim, conseguiu me reconhecer! Ele disse que era impossível não saber que era eu, pois estava dançando uma “belíssima valsa”. Isso porque não sou uma brava sambista (risos). Hoje em dia, prefiro passar os dias de folia com tranquilidade, no sossego de casa, mas, se surgir uma ocasião para me divertir assim, mas sem fazer muita fatica, estou pronta!” Fernanda Maranesi, presidente da Accademia della Cucina Italiana do Rio de Janeiro

á desfilei uma vez, no Sambódromo, mas confesso que não gostei tanto assim. Afinal, é tudo muito rápido. Eu não faria de novo, ainda mais levando em conta todo aquele estresse da preparação, somado ao calor e às roupas pesadas... Mas gosto de assistir aos desfiles no Sambódromo. Torço pela Mangueira. Gosto dos blocos, mas não costumo participar por causa da quantidade de pessoas. Este ano, vou à Itália, pois em fevereiro acontece a BIT (Borsa Internazionale del Turismo), o evento mais importante do setor no país.” Luca Martucci, ex-diretor da Alitalia no Brasil, originário de Pistoia e consultor da Concept Marketing Promocional

ivirto-me quando vejo um bloco, e estou curioso para ver os que ainda não vi em outros bairros da cidade. Já estive no Sambódromo: o desfile das escolas de samba é realmente uma obra de arte. Na Sardenha, o ambiente invernal torna o Carnaval diferente, ainda que seja divertido. Já estive no ensaio da Vila Isabel, escola pela qual tenho mais simpatia. Este ano, pretendo mesmo ver os blocos. Porém, o que mais me fascina, nisso tudo, é a bateria, mais do que outros aspectos, como os carros alegóricos ou a voz dos cantores”. Silvio Podda, chef da Casa do Sardo, no Brasil desde 2010

“G

osto muito do Carnaval, sem dúvida. Já desfilei pela Mangueira, em 2003. A experiência foi duplamente fantástica, pois desfilei com meu filho. A fantasia não era nada cômoda, eu carregava um chapéu enorme... E é incrível como aquelas minutos parecem segundos... Acho que por causa da intensidade da emoção. Este ano, meus filhos vão vir da Itália, então eles vão acabar decidindo o que faremos. Pelo visto, vamos sair nos blocos. Meu filho de 18 anos está fascinado, ele gosta de percorrer vários bairros atrás dos blocos! Para os próximos anos, planejo conhecer o Carnaval de outras cidades, como o de Salvador.” Marzio Laurenti, romano, presidente da Telespazio do Brasil, no país desde 1997

comunitàitaliana | fevereiro 2012

31


Capa

Turismo

Alta do

turismo e dos

preços

Aumento del turismo e dei prezzi Italianos contribuem para o aumento recorde do turismo no Brasil, mas reclamam da alta dos preços praticados nas cidades brasileiras, cada vez mais em evidência com a proximidade da Copa de 2014 e das Olimpíadas de 2016

Italiani contribuiscono all’aumento record del turismo in Brasile, ma reclamano dell’aumento dei prezzi applicati nelle città brasiliane, sempre più evidenti con l’avvicinamento dei Mondiali 2014 e delle Olimpiadi 2016 Nathielle Hó

32

fevereiro 2012 | comunitàitaliana


O

Brasil é destino de quem quer fugir do frio europeu e, dentro desse universo, a Itália figura como o terceiro maior emissor de visitantes, tendo registrado no ano de 2010 uma entrada de 245.491 pessoas, de acordo com dados do Ministério do Turismo. No entanto, esses turistas — muitos dos quais já estiveram outras vezes no país — percebem um aumento substancial dos preços de produtos e serviços praticados nas cidades brasileiras. O siciliano Fabrizio Bonaccorsi — que foi proprietário de restaurante na Bahia, e vem de tempos em tempos fazer turismo a negócios no país — notou um aumento substancial nos produtos de primeira necessidade, até pelo fato da valorização do real sobre o euro. — Tudo aumentou, em especial os produtos alimentícios, que aumentaram mais de 50%, em três anos. Além disso, houve o problema do câmbio, com o real que se valorizou em 40% sobre o euro. Ou seja, na O siciliano Fabrizio Bonaccorsi prática, para os italianos, notou um aumento substancial nos produtos de primeira é um aumento dobrado necessidade no Brasil — salientou. Il siciliano Fabrizio Bonaccorsi é um dos Bonaccorsi ha notato un milhares de italianos sostanziale aumento dei que visitam o Brasil com prodotti basici in Brasile frequência. Os destinos preferidos do visitante que chega da Itália são Rio de Janeiro, Salvador, Foz do Iguaçu, Fortaleza e Natal. Uma pesquisa quantitativa desenvolvida pela Embratur aponta que 58,2% dos turistas italianos desembarcam no Brasil em busca de temperatura agradável e das areias do país, enquanto 23,2% têm como motivação para a viagem a prática do ecoturismo e aventura e, em menor número, estão aqueles que buscam conhecer a cultura local, totalizando 11,3%. O aposentado Francesco Bazzoni, de 64 anos, proveniente da Lombardia, se enquadra na parcela dos turistas que visitam o Brasil em busca das águas calmas e turquesas das praias brasileiras e para conhecer a cultura nativa. Ele afirma que o país agrada por ter atrações turísticas diversificadas e por apresentar um povo hospitaleiro e acolhedor.

I

l Brasile è la destinazione di chi vuole sfuggire al freddo europeo e, in questo universo, l’Italia è il terzo maggior emittente di visitatori: secondo dati del Ministero del Turismo brasiliano nel 2010 sarebbero entrati 245.491 italiani. Ma questi turisti, molti dei quali sono già stati altre volte in Brasile, hanno sentito un sostanziale aumento dei prezzi dei prodotti e dei servizi applicati nelle città brasiliane. Il siciliano Fabrizio Bonaccorsi, che è stato proprietario di un ristorante a Bahia e ogni tanto viene a fare turismo e affari in Brasile, ha notato un aumento sostanziale nei prodotti di prima necessità, anche dovuto alla valorizzazione del real sull’euro. — È aumentato tutto, specialmente i prodotti alimentari, che sono aumentati più del 50% in tre anni. Inoltre c’è stato il problema del cambio con il reale che si è valorizzato del 40% sull’euro. Insomma, in

Jericoacoara, no Ceará, atrai muitos italianos que gostam de sol e praia

Jericoacoara, nel Ceará, attrae molti italiani a cui piacciono sole e spiaggia

comunitàitaliana | fevereiro 2012

33


Capa

Turismo

— Venho ao Brasil há 15 anos. Já visitei Jericoacoara, Praia da Pipa, Canoa Quebrada, Foz do Iguaçu e já fui a Bagé, o último cantinho do Brasil, onde se come bem e de manhã as pessoas vão trabalhar de bombacha e lenço no pescoço. É tudo interessante. Para dizer a verdade, não há um lugar que não seja agradável, as pessoas são receptivas e as paisagens são especiais. De forma geral, tento viver com os moradores do lugar. Gosto de falar o idioma da terra, o português, de conversar com os habitantes, aprender o que comem, ler o jornal local, viajar de ônibus com eles, é o lado bonito de um país — enfatiza Francesco. Passar o Carnaval no Rio ficou mais caro Os números comprovam o que os turistas já sentiram: os pacotes para o Carnaval carioca de 2012 estão até 27% mais caros se comparados aos praticados no mesmo período do ano passado. Segundo o Sindicato de Hotéis, Bares e Restaurantes do Rio de Janeiro, em média, os valores subiram 17,6% por conta, principalmente, dos investimentos turísticos que têm sido feitos para a Copa de 2014. Independente da localização dos hotéis, todos os preços, em geral, estão mais altos. De acordo com uma pesquisa realizada pela Riotur, o Rio deve atrair 3,1 milhões de visitantes durante a festa, gerando uma renda de R$ 4,1 milhões. No verão de 2011, a cidade recebeu 2,6 milhões de turistas, e a renda foi de R$ 3,6 milhões. Segundo o secretário municipal de Turismo e presidente da Riotur, Antônio Pedro Figueira de Mello, o Rio deve receber mais turistas da América do Sul este ano por causa da crise econômica na Europa. — Isso se deve não somente à crise, mas ao fato do turismo na América do Sul ter crescido mais do que no restante do mundo — ressaltou Figueira de Mello. Os hotéis cariocas de luxo também sofreram leve queda nos lucros devido à recessão que atinge a Europa e os Estados Unidos. Um estudo da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis mostra que os estabelecimentos cinco estrelas estão com 71% dos quartos vendidos. Já os de três e quatro estrelas estão com maior ocupação, com 80% das reservas confirmadas. Apesar disso, houve um crescimento na ocupação hoteleira em relação a 2011. O Sindicato de Hotéis, Bares e Restaurantes do Rio atribui esse aumento à procura da capital flu- 2007 minense como destino de viagem e aos 2008 investimentos de modernização na rede 2009 hoteleira. A ABIH estima que a ocupação média durante o Carnaval será de 98%, 2010 número maior do que o registrado em 2011, que foi de 96%. Os bairros mais procurados são Flamengo e Botafogo, com 93,33%, e Copacabana e Leme, com 85,5%.

Motivos de viagem dos italianos ao Brasil (%) Motivi dei viaggi degli italiani in Brasile

Lazer Svago

Negócios, Eventos e Outros Convenções Altro Affari, Eventi e Convegni

41,8 36,3 38,9 37,6

24,4 25,9 20,1 21,6

33,8 37,8 41,0 40,8

A crise internacional e o turismo Ao longo dos dez anos de viagens italianas ao Brasil entre 2001 e 2010, a Embratur constatou que alguns momentos históricos acabaram Fonte: Estudo de Demanda Turística Internacional - 2004-2010. Ministério do Turismo (MTur) e Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE).

34

fevereiro 2012 | comunitàitaliana

pratica per gli italiani è un aumento raddoppiato — ha sottolineato. Bonaccorsi è uno tra le migliaia di italiani che visitano spesso il Brasile. Le destinazioni preferite dai visitatori che arrivano dall’Italia sono: Rio de Janeiro, Salvador, Foz do Iguaçu, Fortaleza e Natal. Una ricerca quantitativa realizzata dall’Embratur indica che il 58,2% dei turisti italiani sbarca in Brasile in cerca di una temperatura gradevole e delle spiagge brasiliane, mentre il 23,2% viene motivata a venirci per praticare ecoturismo e avventura e, in numero minore, ci sono coloro che vengono a conoscere la cultura locale, totalizzando l’11,3%. Il pensionato 64enne Francesco Bazzoni, lombardo, entra nel gruppo dei turisti che visitano il Brasile in cerca del mare calmo e turchese del litorale brasiliano, e anche per conoscere la cultura nativa. Bazzoni dice che il Brasile gli piace perché ci sono svariate attrattive turistiche e perché ha un popolo ospitale e accogliente. — Vengo in Brasile da 15 anni. Ho già visitato Jericoacoara, Praia da Pipa, Canoa Quebrada, Foz do Iguaçu e sono già stato a Bagé, l’ultimo angoletto del Brasile, dove si mangia bene e di mattina la gente va a lavorare con i pantaloni alla zuava e il fazzoletto al collo. È tutto interessante. Per dire la verità non c’è un posto che non sia gradevole, le persone sono cordiali e i paesaggi speciali. In generale cerco di vivere con gli abitanti del luogo. Mi piace parlare la lingua del posto, il portoghese, di parlare con chi vive lí, di imparare quello che mangiano, di leggere il giornale locale, di viaggiare in autobus con loro, è il lato bello di un paese — mette in enfasi Francesco.


Entre dunas e falésias, Canoa Quebrada, no litoral cearense, conta com boa infraestrutura hoteleira

Tra dune e scogliere, Canoa Quebrada, sul litorale cearense, conta su una buona infrastruttura alberghiera

Principais destinos visitados a lazer por italianos

31,4 22,3 28,8 28,4

20,9 17,8 16,1 18,4

11,5 10,1 14,1 17,4

18,0 17,6 17,8 14,3

Natal - RN

Fortaleza - CE

Foz do Iguaçu - PR

Salvador - BA

Principali destinazioni visitate per svago dagli italiani Rio de Janeiro - RJ

por afetar a entrada de italianos no país. O atentado de 11 de setembro de 2001, símbolo do terrorismo propagado nos Estados Unidos, provocou forte desaceleração no fluxo de viajantes, fato que se refletiu na redução de italianos no Brasil em 2002. Nos anos seguintes, o número de italianos voltou a crescer no país, porém, tal curva ascendente foi novamente interrompida com a saída da Varig do mercado e com a crise do setor aeroviário que, além de afetar a oferta de passagens entre a Itália e o Brasil, gerou incerteza quanto ao tráfego aéreo brasileiro, e acarretou uma queda de 16,6% no número de visitantes italianos entre os anos de 2005 e 2010. Nos últimos tempos, a crise econômica mundial, particularmente na Itália, que causou desaceleração na economia europeia desde 2008, com altas taxas de desemprego, refletiu-se na redução das viagens de longa distância. O turista Francesco Bazzoni confirma isso. — Acredito que, até uns anos atrás, o câmbio aqui era muito favorável. Em termos de custos, o Brasil, em relação a quatro ou cinco anos, aumentou muito para os italianos, até pela grave crise econômica que domina a Europa. Porém, até a lembrança de que aqui se gastava pouco 2007 ainda atrai muitos turistas — comen- 2008 ta Bazzoni. 2009 O funcionário público Gianluca Sparti, proveniente da Toscana, já 2010 veio ao Brasil para curtir viagens de lazer e para participar de feiras e convenções de negócios. Ele percebeu um aumento considerável no custo das passagens aéreas. — Aumentaram muito as passagens domésticas que antes tinham preços razoáveis. Só para citar um exemplo, uma passagem de Porto Seguro a São Paulo através de uma companhia aérea brasileira é mais cara que

18,5 17,6 17,8 14,3

Fonte: Estudo de Demanda Turística Internacional - 2004-2010. Ministério do Turismo (MTur) e Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE).

Passare il Carnevale a Rio è diventato più caro I numeri provano ciò che i turisti hanno già sentito sulla pelle: i pacchetti per il Carnevale carioca del 2012 sono il 27% più cari se paragonati a quelli offerti nello stesso periodo dello scorso anno. Secondo il Sindacato di Hotel, Bar e Ristoranti di Rio de Janeiro (ABIH) i valori sono aumentati in media il 17,6% dovuto, specialmente, agli investimenti turistici fatti per i Mondiali 2014. Anche senza considerare dove sono gli alberghi, tutti i prezzi sono aumentati. Secondo una ricerca realizzata dalla Riotur, Rio dovrebbe attrarre 3,1 milioni di visitatori durante le feste, sommando R$ 4,1 milioni di introiti. Nell’estate 2011 la città ha ricevuto 2,6 milioni di turisti e gli introiti sono stati di R$ 3,6 milioni. Secondo il segretario comunale di Turismo e presidente della Riotur, Antônio Pedro Figueira de Mello, Rio quest’anno dovrebbe ricevere più turisti dovuto alla crisi economica in Europa. — Ma questo non si deve solo alla crisi, ma anche al fatto che il turismo in Sudamerica è aumentato di più rispetto al resto del mondo — ha sottolineato Figueira de Mello. Anche gli alberghi carioca di lusso hanno subíto una lieve diminuzione dei guadagni dovuto alla recessione che colpisce l’Europa e gli Stati Uniti. Uno studio dell’Associazione Brasiliana dell’Industria Alberghiera dimostra che gli hotel cinque stelle hanno il 71% delle loro camere già occupate. Invece quelli tre o quattro stelle hanno un tasso di occupazione maggiore: l’80% di prenotazioni confermate. Malgrado ciò c’è stato un aumento dell’occupazione alberghiera in rapporto al 2011. Il Sindacato di Hotel, Bar e Ristoranti di Rio attribuisce questo aumento alla domanda della capitale fluminense come destinazione di viaggi e agli investimenti fatti per la modernizzazione della rete alberghiera. La ABIH calcola che la media di occupazione durante il Carnevale sarà del 98%, numero maggiore di quello registrato nel 2011, che era stato del 96%. I quartieri più richiesti sono Flamengo e Botafogo, con il 93,33%, e Copacabana e Leme, con l’85,5%. La crisi internazionale e il turismo Durante dieci anni di viaggi di italiani verso il Brasile, tra il 2001 e il 2010, l’Embratur ha constatato che dei particolari momenti storici ne hanno danneggiato l’ingresso in Brasile. L’attentato dell’11 settembre 2001, simbolo del terrorismo propagato negli Stati Uniti, ha provocato un forte rallentamento nel flusso di viaggiatori, fatto questo che si è riflettuto sulla riduzione di italiani in Brasile nel 2002. Negli anni seguenti il numero di italiani in Brasile è aumentato un’altra volta, ma questa curva ascendente è stata interrotta di nuovo con l’interruzione delle attività di mercato della Varig e con la crisi del settore aereo che, oltre a colpire l’offerta di biglietti aerei tra l’Italia e il Brasile, ha dato origine ad incertezze sul traffico aereo comunitàitaliana | fevereiro 2012

35


Capa

Turismo

A Itália é o terceiro maior emissor de turistas para o Brasil. Mais da metade dos turistas italianos procura temperaturas agradáveis e praias nas cidades brasileiras uma passagem de São Paulo para Itália, eu sinceramente não entendo as causas. Uma passagem de Porto Seguro a São Paulo, ida e volta, que há quatro anos custava de 100 a 150 euros, hoje custa aproximadamente 400 euros. Hoje em dia, com a crise, os serviços estão ficando mais caros para os europeus — alegou Sparti. Mesmo assim, o presidente da Embratur, Flávio Dino, defende a ideia de que, em geral, os efeitos da crise econômica internacional não chegaram a prejudicar a entrada de estrangeiros no país nos anos de 2010 e 2011, e os números comprovam isso. — Até o fim de 2011, cerca de 5,5 milhões de turistas de várias partes do mundo visitaram o Brasil. É um número recorde. Em 2010, foram 5,1 milhões. Isso representa um aumento de 7,8%, percentual que é quase o dobro do registrado no mundo (4%) — explicou o presidente da Embratur. Os turistas estrangeiros que estiveram no Brasil em 2011 gastaram US$ 6,775 bilhões no país, ultrapassando a meta de US$ 6,4 bilhões projetada pela Embratur. O valor, divulgado pelo Banco Central em 2011, é recorde e representa um crescimento de

Motivos da viagem a lazer dos italianos (%)

2,5 2,3 2,2 3,9

2,7 1,7 1,5 1,0

0,5 0,8 1,4 1,1

Fonte: Estudo de Demanda Turística Internacional - 2004-2010. Ministério do Turismo (MTur) e Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE).

36

fevereiro 2012 | comunitàitaliana

Altro

Outros

Viaggio di incentivo

Viagem de incentivo

Vita notturna

Diversão noturna

Sport

14,4 13,5 11,3 8,5

Esportes

21,4 25,9 23,2 20,8

Cultura

Cultura

2007 2008 2009 2010

Ecoturismo o avventura

Ecoturismo ou aventura

55,5 52,6 58,2 62,9

Sole e spiaggia

Sol e praia

Motivi del viaggio di svago degli italiani

3,0 3,2 2,2 1,8

L’Italia è il terzo maggior emittente di turisti verso il Brasile. Più della metà dei turisti italiani cerca temperature gradevoli e spiagge nelle città brasiliane

brasiliano e ha causato una diminuzione del 16,6% del numero di visitatori italiani negli anni tra il 2005 e il 2010. Negli ultimi tempi la crisi economica mondiale, che ha causato rallentamenti nell’economia europea fin dal 2008, e specialmente in Italia, con altri tassi di disoccupazione, si è riflettuta sulla riduzione dei viaggi di lunga distanza. Il turista Francesco Bazzoni lo conferma. — Credo che, fino a qualche anno fa, il cambio qui fosse molto favorevole. Parlando di costi, il Brasile è aumentato molto per gli italiani rispetto a quattro o cinque anni fa, anche dovuto alla grave crisi economica che domina l’Europa. Ma il ricordo del fatto che qui si spendeva poco ancora attira molti turisti — commenta Bazzoni. L’impiegato statale Gianluca Sparti, proveniente dalla Toscana, era già venuto in Brasile per godersi un viaggio di svago e per partecipare a fiere e convegni di affari. Ha percepito un considerevole aumento del prezzo dei biglietti aerei. — I voli interni sono aumentati molto, prima erano a prezzi ragionevoli. Solo per fare un esempio: un biglietto da Porto Seguro a São Paulo di una compagnia aerea brasiliana è più caro di un biglietto da São Paulo in Italia. Io, sinceramente, non ne capisco il motivo. Un biglietto da Porto Seguro a São Paulo, andata e ritorno, che quattro anni fa costava dai 100 ai 150 euro, oggigiorno costa circa 400 euro. Con la crisi, i servizi stanno diventando più cari per gli europei — ha detto Sparti. Malgrado ciò il presidente dell’Embratur, Flávio Dino, difende l’idea che dimostra che gli effetti della crisi economica internazionale non hanno danneggiato l’entrata di stranieri in Brasile nel 2010 e 2011 e i numeri lo provano. — Fino alla fine del 2011, circa 5,5 milioni di turisti di varie parti del mondo avevano visitato il Brasile. È un numero record. Nel 2010 erano stati 5,1 milioni. Ciò rappresenta un aumento del 7,8%, che è quasi il doppio di quello registrato nel mondo (4%) — ha spiegato il presidente dell’Embratur. I turisti stranieri che sono stati in Brasile nel 2011 ci hanno speso US$ 6,775 miliardi, superando la meta di US$ 6,4 miliardi prevista dall’Embratur. Il valore, reso noto dalla Banca Centrale nel 2011, è un record e rappresenta un aumento del 14.4% in rapporto al 2010, quando il risultato era stato di US$ 5,919 miliardi.


Fonte: Estudo de Demanda Turística Internacional - 2004-2010. Ministério do Turismo (MTur) e Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE).

14,4% em relação a 2010, quando o resultado havia ficado em US$ 5,919 bilhões. — As contratações de serviços turísticos, de hospedagem e de alimentação movimentam nossa economia, geram renda em todas as regiões do país e ajudam a consolidar nossa infraestrutura turística — ressaltou o presidente da Embratur, Flávio Dino. O diretor geral do Resort La Torre em Porto Seguro, Luigi Rotunno, também acredita que o segmento hoteleiro continua em alta, mesmo com os problemas econômicos pelos quais atravessam os europeus. De acordo com ele, nos meses de férias, uma média de 650

As praias do Nordeste, como Genipabu, no Rio Grande do Norte, e as Cataratas de Foz do Iguaçu estão entre os destinos mais visitados pelos estrangeiros

Le spiagge de Nord-Est come Genipabu, nel Rio Grande do Norte, e le Cascate di Foz do Iguaçu sono tra le destinazioni più visitate dagli stranieri

Utilização de agências de viagem por italianos Uso degli italiani delle agenzie di viaggio %

2007 2008 2009 2010

Pacote 16,2

16,2

16,2

16,2

Serviços avulsos 31,8

31,8

31,8

31,8

Não utilizou 52,0

52,0

52,0

52,0

Pacchetto

Servizi in separato Non usate

turistas, dentre estes, muitos italianos, contratam os serviços e espaços do resort. Ele ainda destaca que cerca de 10% dos turistas têm a intenção de voltar para o mesmo hotel, por oferecer programação de lazer intensa. — O sistema de consumações All Inclusive é um dos nossos diferenciais, com 16 horas de alimentação por dia, em vários ambientes, com pratos nacionais e internacionais. O hóspede se sente bem servido o tempo inteiro. O lazer também é um dos nossos pontos fortes, temos um completo percurso de arvorismo, uma parede de escalada, atividades aquáticas nas piscinas, esportes e brincadeiras para crianças com animadores capacitados. Na praia, temos ainda um chefe de cozinha italiano que, com muita criatividade e bom gosto, prepara pratos com sabores inesquecíveis — comenta Rotunno. Mesmo com o recorde na entrada de dólares e de turistas estrangeiros no Brasil, o déficit nas contas

O italiano Gianluca Sparti reclama que os preços das passagens aéreas aumentaram muito. Luigi Rotunno, gerente geral do Resort La Torre, acredita que o setor hoteleiro continua em alta, mesmo com a crise econômica internacional

L’italiano Gianluca Sparti reclama del fatto che i prezzi dei voli siano aumentati molto. Luigi Rotunno, direttore generale del Resort La Torre, crede che il comparto alberghiero continui in crescita anche con la crisi economica internazionale

— Le contrattazioni di servizi turistici, di alloggio e di alimentazione sospingono la nostra economia, danno origine a redditi per tutte le regioni del Brasile e aiutano a consolidare la nostra infrastruttura turistica — ha sottolineato il presidente dell’Embratur, Flávio Dino. Anche il direttore generale del Resort La Torre a Porto Seguro, Luigi Rotunno, crede che il comparto alberghiero continui in crescita nonostante i problemi economici per cui passano gli europei. Secondo lui nei mesi di ferie una media di 650 turisti, tra cui molti italiani, contrattano i servizi e gli spazi del resort. E inoltre sottolinea che il 10% circa dei turisti pensa di ritornare allo stesso hotel perché offre un’intenso programma di svaghi. — Il sistema di consumazioni All Inclusive è una delle nostre particolarità, con 16 ore di servizio ristorante al giorno in vari ambienti, con piatti nazionali ed internazionali. Gli ospiti si sentono ben serviti tutto il tempo. Anche lo svago è uno dei nostri fiori all’occhiello: offriamo un percorso di tree climbing, una parete per scalate, attività acquatiche nelle piscine, sport e giochi per bambini con monitor abilitati. In spiaggia abbiamo anche uno chef italiano che, con grande creatività e buon gusto prepara piatti dal sapore indimenticabile — commenta Rotunno. Anche con il record di ingresso di dollari e di turisti stranieri in Brasile, il deficit nei conti del comparto turistico è aumentato e arriva ai US$ 14,459 miliardi dovuto all’aumento della quantità di viaggi di brasiliani all’estero. Per vincere questa sfida il presidente dell’Embratur considera fondamentale affrontare

comunitàitaliana | fevereiro 2012

37


Turismo

Turistas a negócios gastam mais Assim como o turismo de lazer, o turismo de negócios vem crescendo a passos largos. A demanda é grande durante todo o ano, pois missões empresariais, visitas técnicas, feiras, convenções e workshops acontecem sempre, e não dependem de condições climáticas e 38

fevereiro 2012 | comunitàitaliana

Outras vezes

31,4 22,3 28,8 28,4

20,9 17,8 16,1 18,4

(%) 2007 2008 2009 2010

Altre volte

Prima volta

Primeira vez

Frequenza di visite di italiani in Brasile

Gasto médio per capita do italiano por dia no Brasil Spesa media giornaliera pro capite degli italiani in Brasile

31,4 22,3 28,8 28,4

20,9 17,8 16,1 18,4

11,5 10,1 14,1 17,4

18,5 17,6 17,8 14,3

Altri motivi

TOTAL

2007 2008 2009 2010

Affari

Outros motivos

(US$)

Negócios

Novas perspectivas A italiana aposentada Nadia Barbierato, que está em viagem a passeio pelo Brasil, avalia os pontos positivos e negativos nas viagens realizadas ao país, e dá destaque para a melhoria nos aeroportos. — No setor hoteleiro, há ainda muito a se fazer. Antes de escolher o ótimo Resort La Torre, entrei em vários hotéis, até bonitos, mas com cheiro de mofo nos quartos, sendo muitos deles antigos. De qualquer forma, a infraestrutura está melhorando, inclusive nas praias. Os aeroportos são bons, as companhias aéreas como a TAM e a Gol oferecem serviço de qualidade, os leitos dos ônibus no Brasil costumam ser confortáveis, as rodoviárias têm banheiros limpos, bem mais do que numa estação de trem da Itália. As lojas de alimentos prezam muito pela qualidade e higiene, e os funcionários nunca tocam os alimentos sem luvas. Além disso, os restaurantes oferecem um cardápio variado com comidas típicas do lugar, pequenas coisas que fazem a diferença para o turista querer retornar — ressaltou Nadia. Tanto as companhias aéreas brasileiras quanto a italiana Alitalia tiveram um bom desempenho em 2011, e isso pode se estender para 2012. Após três anos de reestruturação, a Alitalia conseguiu atingir certo equilíbrio financeiro em 2011. A empresa vem tendo um percentual de lucro muito bom e os números comprovam isso. De acordo com dados divulgados pela assessoria da Alitalia, o faturamento de 2011 ficou em torno de 3,6 bilhões de euros e 25 milhões de passageiros foram transportados ao longo do ano. A recuperação da Alitalia começou depois que a Air France-KLM comprou 25% da empresa. A expectativa a partir dessa parceria é que a Alitalia encerre 2012 com 160 aviões na frota, sendo 62 novos e os demais com os seus interiores completamente reestruturados. O ramo aéreo em crescente expansão vem recebendo melhorias, e isso auxilia nas viagens constantes de lazer e de negócios que os italianos fazem ao Brasil.

Frequência de visita ao Brasil por italianos

Svago

do segmento turístico aumentou, chegando a US$ 14,459 bilhões, em decorrência do crescimento do número de viagens de brasileiros ao exterior. Para superar esse desafio, o presidente da Embratur considera fundamental encarar o turismo como um setor prioritário para a economia, assumindo maior peso na agenda nacional. — Vamos continuar inovando nas ações de promoção dos destinos brasileiros, intensificando o apoio à comercialização de produtos turísticos e apoiando fortemente o debate sobre a competitividade do setor conduzido pelo Ministério do Turismo — afirma Dino.

Lazer

Capa

Fonte: Estudo de Demanda Turística Internacional - 2004-2010. Ministério do Turismo (MTur) e Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE).

il turismo come un settore prioritario per l’economia, che possa avere un maggior peso nei programmi nazionali. — Continueremo ad innovare nelle azioni di promozione delle destinazioni brasiliane, intensificando gli appoggi alla commercializzazione di prodotti turistici e anche ai dibattiti sulla competitività del settore condotto dal Ministero del Turismo — afferma Dino. Nuove prospettive L’italiana pensionata Nadia Barbierato, che sta facendo un viaggio di piacere in Brasile, valuta i punti positivi e negativi dei viaggi già fatti qui e sottolinea il miglioramento degli aeroporti. — Nel settore alberghiero c’è ancora molto da fare. Prima di scegliere l’ottimo Resort La Torre sono entrato in vari alberghi, anche belli, ma con puzza di muffa nelle stanze. La maggior parte era molto vecchia. Comunque l’infrastruttura sta migliorando, anche le spiagge. Gli aeroporti sono di buona qualità, le compagnie aeree come la TAM e la Gol offrono servizi di qualità, i letti dei pullman in Brasile di solito sono comodi, le autostrade hanno bagni puliti, molto di più di quelli delle stazioni ferroviarie in Italia. I negozi di alimentari sono molto attenti alla qualità e all’igiene e gli impiegati non toccano gli alimenti senza guanti. Inoltre i ristoranti offrono menu svariati, con piatti tipici del luogo... sono piccole cose, ma importanti affinché i turisti vogliano ritornare — ha sottolineato Nadia. Tanto le compagnie aeree brasiliane quanto l’italiana Alitalia hanno avuto dei buoni risultati nel 2011 e questo dovrà continuare nel 2012. Dopo tre anni di riorganizzazione strutturale, l’Alitalia è riuscita a raggiungere un certo equilibrio finanziario nel 2011. L’azienda ora sta ottenendo una percentuale di guadagni molto positiva e i numeri lo provano. Secondo dati resi noti dagli assessori dell’Alitalia il fatturato del 2011 è stato di circa 3,6 miliardi di euro e sono stati trasportati, durante tutto l’anno, 25 milioni di passeggeri. Il recupero dell’Alitalia è cominciato dopo che l’Air France-KLM ha acquisito il 25% dell’azienda. Ci si aspetta che, a partire da questa partnership, l’Alitalia arrivi alla fine del 2012 con 160 aerei, di cui 62 nuovi e il resto con la parte interna completamente ristrutturata. Il comparto aereo, in espansione crescente, sta migliorando e ciò aiuta nei costanti viaggi di piacere e di affari che gli italiani fanno in Brasile. Turisti per affari spendono di più Cosí come il turismo di svago, quello di affari sta crescendo molto. La domanda è grande durante tutto l’anno visto che missioni imprenditoriali, visite tecniche, fiere, convegni e workshops accadono sempre e non dipendono dalle condizioni climatiche e dai periodi di ferie scolastiche. I turisti di


períodos de férias escolares. O turista desse segmento, em relação ao turista de lazer, apresenta maior gasto médio e normalmente retorna mais vezes e com um tempo de permanência maior. Além disso, através do turismo de negócios, há um aumento na arrecadação de impostos, pois esse tipo de turista necessita de

“As contratações de serviços turísticos, de hospedagem e de alimentação movimentam nossa economia, geram renda em todas as regiões do país e ajudam a consolidar nossa infraestrutura turística” Flávio Dino, presidente da Embratur emissão de notas fiscais para a comprovação de despesas à empresa para a qual trabalha. Acima de tudo, esse tipo de turismo contribui para o crescimento dos mercados locais por conta de intercâmbios comerciais e empresariais. O ramo da tecnologia e do meio ambiente são dois setores que chamam atenção dos empresários italianos que viajam a negócios ao Brasil. Mas o que tem atraído muitos investidores, atualmente, são os megaeventos esportivos. Muitos estrangeiros têm demonstrado o interesse em realizar parcerias com o Brasil na área da construção civil. Com as Olimpíadas de 2016, serão injetados no país cerca de 100 bilhões de dólares na execução das obras. E o Brasil será o primeiro Estado do continente a receber um evento dessa proporção, sem contar com a Copa do Mundo em 2014, que vai fomentar ainda mais a economia do setor de turismo e de infraestrutura. Doze cidades brasileiras irão receber os jogos da Copa, dentre elas figuram Belo Horizonte, Brasília, Cuiabá, Curitiba, Fortaleza, Manaus, Natal, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo. Durante os 30 dias do evento, em 2014, a Embratur estima que 600 mil estrangeiros visitem o Brasil. E, em 2016, a previsão é de que o número de turistas estrangeiros no Brasil seja de 10% a 15% superior ao que será registrado no ano anterior, em 2015.

O casal italiano Nadia Barbierato e Francesco Bazzoni, de férias em Porto Seguro, aproveitam para aprender mais sobre a cultura local

La coppia italiana Nadia Barbierato e Francesco Bazzoni, in ferie a Porto Seguro, ne approfitta per imparare altre cose sulla cultura locale

“Le contrattazioni di servizi turistici, di alloggio e di alimentazione sospingono la nostra economia, danno origine a redditi per tutte le regioni del Brasile e aiutano a consolidare la nostra infrastruttura turistica” Flávio Dino, presidente dell’Embratur

Intenção de retorno dos italianos Intenzione di ritorno degli italiani (%)

2007 2008 2009 2010

SIM

NÃO

No

96,0 95,4 94,8 96,3

3,2 4,6 5,2 3,7

Fonte: Estudo de Demanda Turística Internacional - 2004-2010. Ministério do Turismo (MTur) e Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE).

questo segmento, in rapporto a quelli di svago, spendono di più e di solito ritornano più spesso, rimanendo anche più tempo. Inoltre per mezzo del turismo di affari si ha un aumento dei gettiti delle imposte, visto che questo tipo di turista ha bisogno di emissione di ricevute fiscali per provare le spese all’impresa per cui lavora. Oltretutto questo tipo di turismo contribuisce allo sviluppo dei mercati locali dovuto agli interscambi commerciali e imprenditoriali. Il ramo della tecnologia e dell’ambiente sono due settori che richiamano le attenzioni degli imprenditori italiani che fanno viaggi di affari in Brasile. Ma quello che sta attraendo molti investitori in questo momento sono i mega eventi sportivi. Molti stranieri stanno dimostrando interessi di realizzare partnership con il Brasile nell’area dell’edilizia. Con le Olimpiadi 2016 saranno immessi nel Paese circa 100 miliardi di dollari per i lavori pubblici. E il Brasile sarà il primo Stato del continente a ricevere un evento di queste proporzioni, senza contare i Mondiali 2014 che promuoveranno ancora di più l’economia del comparto di turismo e di infrastruttura. Le partite dei Mondiali avranno luogo in dodici città brasiliane, tra cui: Belo Horizonte, Brasília, Cuiabá, Curitiba, Fortaleza, Manaus, Natal, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo. Durante i 30 giorni dell’evento, nel 2014, l’Embratur stima che 600 mila stranieri visiteranno il Brasile. E, nel 2016, si prevede che il numero di turisti stranieri in Brasile sarà dal 10 al 15% maggiore di quello registrato l’anno anteriore, ossia il 2015. comunitàitaliana | fevereiro 2012

39


Exposição

Um pedaço da Itália no Planalto Central Projeto abre as portas da Embaixada para grupos de visitantes conhecerem seus tesouros, como originais de Portinari e Castagneto, móveis antigos e uma cópia da escultura da Loba Romana Stefania Pelusi

A

De Brasília

partir de uma miragem no deserto, Brasília se tornou capital do país na mesma data da fundação de Roma, capital do antigo Império Romano. Por isso, o governo italiano doou à cidade uma cópia da escultura da Loba Romana amamentando os gêmeos Rômulo e Remo, colocada diante do Palácio do Buriti. A mitologia romana conta que Rômulo foi o fundador de Roma e seu primeiro rei. No Setor das Embaixadas Sul, fica a Embaixada da Itália, obra do grande arquiteto Pier Luigi Nervi, construída em 1975. A sede diplomática, já integrada aos roteiros dos estudantes de arquitetura, desde o dia 9 de fevereiro está recebendo grupos de visitantes que querem conhecer o local, durante a programação Embaixada portas abertas. A visita é guiada sob três pilares: arquitetura, arte e ecologia. Arquitetura reflete o pós-guerra No final de 1958, Juscelino Kubitschek doou lotes de terreno de 25.000 m² a todas as nações amigas, a fim de construírem suas sedes diplomáticas. O governo brasileiro havia manifestado o desejo de que as construções fossem harmonizadas ao contexto arquitetônico e estilístico de Brasília. Foi assim que o então embaixador Prado sugeriu a candidatura do arquiteto italiano 40

Pier Luigi Nervi à autoria do projeto. A obra de Nervi constitui um dos símbolos mais eloquentes da reconstrução e do milagre econômico da Itália, após o segundo pós-guerra. Entre suas obras mais famosas, figuram o palácio da Unesco em Paris, o Palácio do Esporte de Roma e o complexo Itália 61, em Turim. A estrutura reflete as melhores tendências da técnica da arquitetura moderna, com formas fechadas, estrutura clara e esculpida com o uso do cimento armado. O lado privado, onde mora o embaixador, tem vista para o lago Paranoá — o oxigênio de Brasília —, o campo de tênis e a piscina. A construção reflete a marca de Nervi e do imediato pós-guerra italiano, com formas anti-industriais, contrárias a padronizações. Na parte inferior do prédio, pequenos degraus de mármore branco levam a um espelho de água. A escultura cúbica de Moriconi, intitulada Núcleo, consegue equilibrar o efeito escuro do espelho de água com o branco do mármore.

fevereiro 2012 | comunitàitaliana

Serviço As visitas podem ser agendadas através do e-mail eventos. brasilia@esteri.it ou pelo telefone (61) 3442-9902. A Embaixada fica na SES - Av. das Nações, quadra 807, Lote 30 - Brasília

A Embaixada italiana, projetada pelo arquiteto italiano Nervi, reserva surpresas artísticas aos visitantes em seus jardins e salas

O jardim foi realizado pelo paisagista Ney Ururahy, plantas de várias tonalidades de vermelho, como as mexicanas estrelas de natal, as azaléias, os hibiscos rosa, as orquídeas púrpuras de Hong-Kong e as flores dos flamboyants. Entre as árvores, foram privilegiados os arbustos brasileiros, a copaíba, as árvores da chuva e as palmas de diferentes espécies. Ao final da escada, emerge o salão de festas, um grande espaço multifuncional com um jardim onde são celebradas todas as festas e os eventos da Embaixada. Portinari e Castagneto entre os tesouros A Embaixada revela surpresas em matéria de arte. Na área privada da residência do embaixador ficam as obras antigas mais importantes. Duas paisagens de Jean-Baptiste Camille Corot e Salomon van Ruysdael, uma marina de Giovanni Batista Castagneto e um estudo de Eugène Louis Gillot formam o núcleo da coleção. Corot foi um grande paisagista do realismo francês no século XIX, e Castagneto, italiano que estudou pintura no Rio com Vitor Meireles, era conhecido como um talentoso pintor de marinas. Nos salões da estrutura, há uma série de pinturas de Cândido Portinari: são obras surpreendentemente diferentes daquelas mais conhecidas do artista ítalo-brasileiro. Composta de quatro painéis, Natureza tropical é a leitura de Portinari para a exuberância da paisagem carioca e da flora brasileira. Entre outros, destacam-se Nero e bianco, da siciliana Carla Accardi, e Composizione grigia, de Pietro Consagra.


Arte

Neri ilumina a Glória Depois de Roma, Madrid e Dubai, obra de artista italiano chega ao Rio e atrai milhares de pessoas a um antigo cartão-postal da cidade que andava esquecido

S

ilêncio? Nem tanto. A instalação Máximo silêncio em Paris levou agitação como há muito tempo não acontecia em um antigo cartãopostal do Rio de Janeiro. Instalada na Praça Paris, no bairro da Glória, a obra do italiano Giancarlo Neri era constituída de nove mil globos luminosos que acendiam em ciclo e mudavam de cor. Do azul e vermelho ao amarelo e verde, a sinfonia cromática foi vista por milhares de pessoas durante as dez noites em que esteve acesa. Construída em 1926 com projeto do urbanista francês Alfred Agache e considerada uma joia da belle époque, a Praça Paris possui belos jardins cercados de estátuas em mármore carrara representando as estações do ano e um espelho d’água. Local muito frequentado por turistas e cariocas até os anos 1970, começou a sofrer com o abandono e a falta de segurança noturna da área. De 27 de janeiro a 5 de fevereiro, no entanto, a obra de Neri acendeu — literalmente — a região. A partir do pôr-do-sol, centenas de moradores, turistas, famílias, crianças e pessoas que trabalham nos arredores entravam pelos portões para apreciar uma inusitada variação cromática vista

Fotos: Bruno de Lima

Cintia Salomão Castro

em Roma, em 2007; em Madri, em 2008; e em Dubai, em 2009. Autor do efeito multicolorido, o artista plástico Giancarlo Neri revela que não usou nada computadorizado, e sim “materiais simples, próximos ao kitsch, como esses globos chineses de jardim”. Nascido em Nápoles, Neri, que já expôs outras vezes no Rio, contou à Comunità que ele próprio escolheu a praça para instalar Máximo Silêncio. — Gosto muito da Praça Paris. É um local perfeito para a instalação. Tem quase a mesma dimensão do Circo Máximo, em Roma, onde expus a instalação em 2007. Além disso, essas estátuas dão um aspecto surreal à obra — contou, na noite da inauguração, quando, mesmo sob forte chuva, dezenas de pessoas foram conferir a primeira vez em que os globos se acenderam.

O diretor do Instituto Italiano de Cultura do Rio, Rubens Piovano, a curadora Paola Colarcurcio e o artista plástico Giancarlo Neri no coquetel que se seguiu à inauguração de Máximo Silêncio em Paris

A obra atraiu não apenas os onipresentes fotógrafos amadores munidos de celulares. Profissionais com máquinas potentes e tripés, e até cinegrafistas, estiveram ali em busca de imagens inusitadas. Um deles era o projetista de eventos e estudante de arquitetura Paulo Akl. Ele tirou várias fotos, além de gravar vídeos da sequência de mudança de cores. — Também sou artista plástico e uma intervenção desse tipo me motiva. É muito difícil repeti-la em um mesmo vazio espacial nesta área da cidade. Acho importante valorizar essa região, que tem importância histórica e está esquecida há anos pelas autoridades. Certamente, o que vi aqui vai me inspirar em novos projetos — comentou. Era fácil ver que o fascínio não tem idade. Um público variado, entre crianças e idosos, apreciava e fotografava sem parar: Neri atingia, assim, sua meta. — Meu objetivo é conseguir provocar a mesma emoção numa criança de 6 anos, numa cabeleireira de 40, num crítico de arte de 60 e na minha tia Margherita, que tem mais de 70. Meu trabalho é ir até as pessoas. Esse, para mim, é o verdadeiro conceito de arte pública — afirma O projeto integrou a agenda do Momento Itália-Brasil e teve o patrocínio da Oi e da Secretaria estadual de Cultura, além do apoio da RioLuz, do Instituto Italiano de Cultura e da Embaixada italiana. Máximo Silêncio em Paris já foi encerrada, mas quem quiser conhecer o trabalho do artista pode visitar, até 3 de março, a mostra Presidente Mão: são instalações e esculturas baseadas no pensamento de Mao-Tsé Tung. A galeria Progetti Rio fica na Travessa do Comércio, 22, no centro do Rio.

comunitàitaliana | fevereiro 2012

41


Arte

No Rio, a paixão e a intensidade de Modi A maior exposição dedicada ao pintor italiano Amedeo Modigliani já realizada na América Latina chega ao Rio com 12 pinturas originais

U

Cintia Salomão Castro

m artista que desnuda a alma. Marcada por paixões e relacionamentos conturbados, a vida do italiano nascido na cidade toscana de Livorno em 1884 foi tão breve quanto marcante para a história da arte. Morto aos 35 anos de tuberculose, doença agravada pelo uso de álcool e drogas, Modigliani, conhecido como Modi pelos franceses — apelido cuja pronúncia é igual à palavra maudit — deixou uma obra inconfundível, marca atingida somente pelos grandes artistas. As pinturas originais retratando os nus femininos que escandalizaram a Paris do início do século XX, a exemplo do célebre Nu Reclinado de Céline Howard, talvez seu quadro mais famoso, já passaram por Vitória e agora estão expostas ao público no Rio de Janeiro, no

A ministra da Cultura Ana de Hollanda, o embaixador italiano Gherardo La Francesca e a diretora do Museu Nacional de Belas Artes, Mônica Xexéu, apreciam Menino sentado (1901), de Modigliani, no dia da inauguração da exposição no Rio

42

fevereiro 2012 | comunitàitaliana

Museu Nacional de Belas Artes, na maior mostra dedicada ao artista já organizada na América Latina. As obras de Modigliani, caracterizadas pelos rostos e pescoços alongados que remetem ao cubismo e às máscaras africanas, não são populares para a grande parte do público brasileiro como outros pintores, como Picasso ou Botticelli, mas seu trabalho é de grande importância para a arte mundial, inclusive a brasileira, lembrou a ministra da Cultura Ana de Hollanda, que saudou o público durante a inauguração da mostra para convidados, na noite de 31 de janeiro, no Rio. — Ele influenciou o modernismo no Brasil. Outro dia, estava olhando obras do Ismael Nery, que tem uns traços do Modigliani... Eu descobri Modigliani aos 12 anos, visitando o Masp, um museu criado por italianos! A partir dele, fui descobrir a arte africana. Os museus brasileiros, desde o início, têm a ver com a cultura italiana. Acho muito importante a agenda do Momento Itália-Brasil, não só pelas nossas origens, afinal, a imigração italiana no Brasil foi fortíssima. A cultura italiana é um nosso referencial, nas artes, na moda, na culinária, no nosso linguajar — disse a ministra à Comunità. Ela aproveitou para convidar o público a visitar a exposição Giorgio Vasari e a invenção do artista moderno, em cartaz na Biblioteca Nacional, para quem quiser “conhecer mais a pintura italiana”.


Fotos: Bruno de Lima

O traço único e inconfundível de Modigliani também foi ressaltado pelo embaixador Gherardo La Francesca, presente à inauguração no Rio. — Ele, que morreu com apenas 35 anos, encontrou, com muita rapidez, o seu próprio caminho para a criatividade, a beleza e a arte. Uma obra de Modigliani se reconhece de muito longe. Tem características especiais e únicas, e isso é a marca dos grandes artistas. Não dá, por exemplo, para confundir uma obra de Portinari, ou um filme de Fellini. O curador da mostra e biógrafo do pintor, Christian Parisot, já organizou mais de vinte exposições do italiano e conta que trazer a mostra ao Brasil constituiu uma tarefa nada fácil. — Foi muito difícil, mas conseguimos, com altos e baixos e dificuldades enormes para trazer todas

as obras. No entanto, penso que nosso esforço será reconhecido pelo público que deverá ser cada vez mais numeroso, até o final da exposição. Foi essencial o gesto de colecionadores que emprestaram as obras, e com certeza a comunidade italiana reconhece esse ato importante que testemunha um retorno das obras às origens italianas — disse Parisot,

O embaixador Gherardo La Francesca, ao lado do cônsul italiano do Rio, Mario Panaro, e do presidente da Câmara Ítalo-Brasileira de Indústria e Comércio do Rio, Pietro Petraglia: “Uma obra de Modigliani se reconhece de longe, não dá para confundir”. No alto, à esquerda, a designer Francesca Romana Diana, fã do pintor, prestigia a inauguração da mostra

As esculturas

A

saúde frágil de Modigliani foi, provavelmente, o fator que impediu que a sua paixão pela arte da escultura rendesse tantos frutos quanto desejava. A partir de 1912, o artista toscano abandona suas obras em pedra e se concentra nas telas. Tempo suficiente, porém, para deixar peças que hoje valem milhões. As cabeças femininas esculpidas remetem aos desenhos e pinturas de feições alongadas, sua marca registrada. Nítida é a influência da arte africana, com a qual ele entrou em contato através de Picasso e das obras provenientes de países da África

expostas em museus franceses. Embora o material de divulgação da mostra que atualmente percorre o Brasil fale em “esculturas originais”, a exposição traz cinco réplicas em bronze. Em sua coluna no jornal italiano La Stampa, publicada em 1º de fevereiro, o produtor cultural e fotógrafo italiano Mauro Villone criticou os organizadores da mostra ao contar que, presente à inauguração no Rio, deparou-se com esculturas e placas com os dizeres “cópia em bronze de obra de Modigliani”. Perguntome: é lícito haver cópias em uma mostra internacional de tal pretensão, em

uma das metrópoles mais importantes do mundo? Francamente, pareceu-me um pouco uma falta de respeito com os brasileiros que, além de estarem em um período de grande desenvolvimento, no setor da arte nunca foram desprovidos — questiona o italiano. A assessoria de imprensa da organização da exposição Modigliani: Imagens de uma vida confirmou à Comunità que as peças expostas são réplicas reconhecidas pelo Modigliani Institut, já que as originais — abrigadas em Roma e em coleções particulares — não podem ser transportadas devido à fragilidade do material em pedra.

Serviço

A

pós a temporada em Vitória (ES), entre outubro e dezembro de 2011, a mostra Modigliani: Imagens de uma vida fica em cartaz no Museu Nacional de Belas Artes, no centro do Rio, até 15 de abril, e depois deve seguir para o Masp, em São Paulo, dentro do calendário de eventos do Momento Itália-Brasil, que vai até junho deste ano. Entre desenhos, fotografias e documentos que pertenceram ao pintor italiano de origem judaica, há 12 pinturas originais e cinco réplicas de esculturas em bronze. O percurso expositivo da mostra leva o público a uma imersão na intimidade do artista. Inicia-se com os estudos na Itália, seus professores e aprendizados, e passa pelo apogeu da carreira na Paris modernista. Há cartas trocadas entre Modigliani e amigos, como Picasso, André Derain e Max Jacob, fotografias, manuscritos e diários da mãe do artista. O visitante obtém um panorama detalhado da rica vida artística parisiense e italiana das duas primeiras décadas do século XX. O acervo é do Modigliani Institut Archives Légalés Paris-Roma e de vários colecionadores particulares. A mostra tem o apoio de instituições, como o Ministério brasileiro da Cultura, o Instituto Italiano de Cultura, o Instituto Brasileiro de Museus e o Museu a Céu Aberto. Onde: O Museu Nacional de Belas Artes fica na Av. Rio Branco, 199, no centro do Rio Visitação: de terça a sexta, das 10h às 18h, e aos sábados, domingos e feriados, de 12h às 17h. Salas: Chaves Pinheiro, Ubi Bava, Dom João VI, Lúcio Costa e Frans Post. Ingressos: R$ 8,00 (inteira) e R$ 4,00 (meia).

presidente do Modigliani Institut, fundado pela filha de Modigliani com Jeanne Hébuterne. Perseguida pelo fascismo nos anos 1930 devido à origem judaica, Jeanne Modigliani mudou-se de Livorno para a capital francesa, onde faleceu em 1984, após ter se graduado em História da Arte, em Florença. A instituição fica em Roma e teve a sua primeira sede internacional inaugurada em São Paulo, cidade que reúne várias pinturas originais de Modigliani, em outubro de 2011. Batizada de Casa Modigliani, preserva pinturas, documentos e arquivos pessoais do pintor, além de sediar palestras e conferências sobre sua obra.

comunitàitaliana | fevereiro 2012

43


Mostra

I prototipi di Da Vinci L’Associazione fiorentina Italian Art porta per la prima volta all’Ambasciata d’Italia a Brasilia una mostra sulle macchine di Leonardo da Vinci, tra cui la nuova e inedita riproduzione del Robot tamburellatore Stefania Pelusi De Brasília

“U

na volta aver provato l’ebrezza del volo, quando sarai di nuovo coi piedi per terra, continuerai a guardare il cielo”. Parole del pittore, scultore, architetto, ingegnere, scenografo, anatomista, musicista, progettista, inventore, disegnatore e trattatista nato in Toscana nel 1452. Leonardo da Vinci era questo e molte altre cose. — Un genio universale, un eclettico che spaziava su tutti i campi. Una persona che ha dedicato la sua vita a capire il perché delle cose, tentando di sapere il massimo possibile — così lo descrive il fiorentino Luca Paolo Gori, l’ideatore della mostra Le macchine di Leonardo, esposta nella Sala Nervi dell’Ambasciata italiana dal 9 al 23 febbraio.

stupore da parte della gente, hanno pensato di fare una mostra vera e propria partendo da 35, 40 macchine. E da li è nato tutto, a metà degli anni 90. La prima mostra è stata in Italia, a Firenze. Da li si è ingrandita fino a raggiungere 10 mostre itineranti in tutto il mondo, dagli Stati Uniti all’Australia, dall’America del Sud all’Europa, l’Asia.

Comunità Italiana – Com’ è nata l’idea di questa mostra sulle macchine di Leonardo? Luca Paolo Gori – L’idea è nata dal babbo di Gabriele (Niccolai, l’altro ideatore della mostra), che portava i figli a Vinci ogni domenica a vedere il museo e la casa di Leonardo. Vinci è una città a 30 km da Firenze. Questa passione che aveva il padre, l’ha passata ai figli e i figli hanno cominciato a riprodurre dai disegni del genio fiorentino dei piccoli prototipi. Vedendo poi che c’era un enorme interesse e 44

fevereiro 2012 | comunitàitaliana

CI – Come siete arrivati a costruire questi prototipi? LPG – Questa mostra è diventata sempre più grande, migliorandola con nuovi pezzi e nuove macchine, sempre studiando i Codici da Vinci. I Codici sono tutto quello che Leonardo ci ha lasciato, sono pezzi rarissimi senza prezzo, però sono state fatte delle edizioni limitate che un privato può comprare e Gabriele è riuscito a comprarli tutti. I Codici servono per riuscire a intendere meglio le macchine, perché senza un disegno fedele non riesci a prendere le misure esatte e a ricostruire una replica. È indispensabile avere l’appoggio dei Codici per riuscire a fare delle macchine che siano fedeli ai disegni originali di Leonardo. Niccolai per costruirle ha usato soltanto materiali che erano disponibili all’epoca di da Vinci, ossia ferro, legno, tessuti, lino, ottone e bronzo. Nulla è fuori epoca, c’è un’attenzione anche nel costruire. CI – In questa mostra presente a Brasilia ci sarà una novità: il Robot Tamburellatore, un’invenzione che avete brevettato ed è unica al mondo. Di cosa si tratta? LPG – È uno studio brevettato dopo tanti anni di lavoro, la scoperta scientifica per eccellenza. È la ricerca che Niccolai ha fatto sulla robotica di Leonardo. È la conferma che Leonardo aveva già dato i primi passi nella robotica, aveva già costruito o fatto costruire delle macchine che si azionavano da sole, però si erano perse tutte le tracce. Restavano solo dei disegni sparsi nei Codici di Leonardo. Attraverso uno studio meticoloso Niccolai è riuscito a carpire questi spunti e metterli insieme per creare il robot, prima attraverso dei prototipi, fino ad arrivare a questo modello ultimo che sarà esposto all’Ambasciata. Si tratta di un Robot Tamburellatore che veniva usato nei cortei militari e seguiva marciando i soldati. Era posizionato sopra un carro e attraverso degli ingranaggi e delle pulegge veniva azionavano il robot che scandiva il ritmo delle marce. Lui tamburellava da solo


attraverso degli ingranaggi che dalle ruote del carro, passavano per un sistema di ingranaggi a lanterna e con questa puleggia intermittente batteva il ritmo nel tamburo. Non esiste un disegno specifico, esistono solo dei disegni dei meccanismi: ad esempio quello intermittente che era usato anche in orologeria, quello a lanterna, che era usato anche nelle macchine civili e di altre pulegge che erano usate per alzare pesi. CI – Quanto tempo ci è voluto per ottenere il modello finale? LPG – Il modello definitivo è il frutto di sei prototipi e di uno studio durato circa sette anni. Niccolai l’ha anche brevettato, quindi questa macchina è unica perché nessun altro può riprodurla. Questo per noi è la novità tecnico scientifica che testimonia che Leonardo aveva dato i primi passi nella robotica. È il differenziale della mostra. CI – Com’è suddivisa la mostra? LPG – La mostra è divisa per aree tematiche: macchine di guerra o militari, macchine idrauliche o di acqua, macchine di aria o volo e macchine meccaniche. Ci sarebbe anche una quinta sezione, gli studi di progetti geometrici (quadrati, ottagonali), ma purtroppo non sarà presente in questa mostra. Inoltre abbiamo anche 12 pannelli che accompagnano l’esposizione con le spiegazioni, solo che qui in Ambasciata per ragioni di spazio ce ne saranno solo cinque. Uno spiega la vita di Leonardo da Vinci, e gli altri presentano le aree tematiche della mostra. Per capire questo genio rinascimentale bisogna conoscere anche la sua vita, perché è un personaggio a 360 gradi. Secondo l’enciclopedia Leonardo aveva dai 18 ai 20 mestieri, botanico, biólogo ecc. CI – Si tratta di un’esposizione interattiva, dove il pubblico può provare le macchine? LPG – Questa mostra è itinerante, 60 macchine, è una delle mostre piu grandi. Qui in ambasciata saranno esposte più della metà, ci saranno delle macchine interattive, tra cui anche il robot tamburellatore. Il pubblico puo provarle, manovrarle e farle funzionare, può vederle in funzionamento e riuscire a capire meglio le invenzioni di Leonardo. Lo scopo di una mostra è quello

di passare qualcosa al visitatore e quest’ultimo, a sua volta, deve comprendere quello che sta guardando, devi riuscire ad istruirlo. Una macchina interattiva istruisce velocemente sia il bambino, sia la persona adulta. CI – Come descriveresti Leonardo da Vinci a uno straniero? LPG – Un grande osservatore, oltre che genio, osservava e migliorava. Per esempio a Firenze aveva avuto la possibilità di osservare tutte le gru di Brunelleschi che stavano completando la cupula del Duomo di Santa Maria del Fiore, sicuramente avra avuto di vedere il lavoro delle gru e di copiarle. Osservava gli uccelli, il volo, i pesci, la loro forma, la dinamica per capire come si poteva penetrare l’acqua o l’aria, perché per lui l’aria era un elemento uguale all’acqua, una cosa che poteva essere perforata. Lui è stato il primo a pensare di volare. Leonardo è stato uno dei primi a pensare e a mettere in pratica il sogno antico dell’uomo di volare, studiando vari macchinari, dalla macchina volante, all’aliante, alla vite aerea. Era un visionario, all’epoca era impensabile l’aereo, il sottomarin. Ha studiato il doppio scafo che è usato ancora oggi nelle navi che trasportano petrolio, lui l’ aveva studiato in una situazione bellica. CI – Leonardo era affascinato dal volo, quali sono stati i suoi studi al riguardo? LPG – Leonardo ha studiato l’ala del pipistrello che era l’ala piu adatta perché leve e resistente. Lo studio del volo si divide in due momenti nella sua vita, il primo quando crede che l’uomo possa volare battendo le ali, allora studia tutta una serie di ali, per cercare quale sia l’ala più adatta al volo, più leve e anche una serie di macchinari per volare. Però poi si rende conto che l’uomo non potrà mai volare con le sue forze perché troppo pesante e quindi progetta un aliante che usa la forza del vento per sostenersi e volare, che ha due parti estremi mobili che servono per dare angolazioni al volo, senza dover battere le ali.

CI – Lui queste cose le aveva solo progettate o è riuscito a costruirle? LPG – L’aliante è riuscito a costruirlo, però non si è buttato, faceva buttar gli altri. Si dice anche che nella collina di Fiesole ci sia stato un volo planato di qualche centinaia di metri, non confirmato, solo voci. Come anche il robot, lui è riuscito a costruirlo, purtroppo si sono perse le tracce. Di originale, che ci è pervenuto sono solo i dipinti e i Codici, che sono gli scritti.

“È indispensabile avere l’appoggio dei Codici per riuscire a fare delle macchine che siano fedeli ai disegni originali di Leonardo da Vinci” Luca Paolo Gori, l’ideatore della mostra Le macchine di Leonardo, esposta a Brasilia dal 9 al 23 febbraio CI – Dietro a queste macchine, c’ è un lavoro che richiede molto sforzo e sacrificio. Quanti prototipi avete costruito fino adesso? LPG – Niccolai ha riprodotto circa 130 macchine e dice che vuole studiare altre 1000, 1200 da riprodurre. Lui ha un museo permanente a Firenze, si chiama le Macchine di Leonardo, dove ci sono quasi tutte queste macchine in via Cavour. CI – Quando è nata la vostra associazione ItalianArt ? LPG – Insieme a Niccolai, nel 2008 abbiamo creato questa associazione culturale che è composta da soci sia italiani che brasiliani. ItalianArt è nata con lo scopo di promuovere la cultura, principalmente italiana, principalmente in Brasile, ma il nostro compromesso è di espandere le nostre attivita anche in tutta l’America Latina. CI – Quali sono i progetti futuri? LPG – L’Italia ha prodotto artisti straordinari. I prossimi progetti a cui stiamo lavorando sono Giulio Cesare e i romani, e Michelangelo. Stiamo cercando di fare una mostra sulla città ideale di Leonardo da Vinci a confronto con la città organizzata di Brasilia, che è una citta pianificata. Una mostra che potrebbe essere fatta sia in Brasile, che in Italia per fare conoscere la capitale del Brasile. comunitàitaliana | fevereiro 2012

45


firenze

GiordanoIapalucci

Americani al 2012 Firenze è il quinto centenario della mor-

te di Amerigo Vespucci. Firenze vuole ricordarlo con la mostra “Americani a Firenze”, una celebrazione dei forti legami che da Vespucci in poi si sono stabiliti tra il vecchio e il nuovo continente. Nello specifico l’esposizione investiga il rapporto dei pittori impressionisti americani con Firenze nel periodo a cavallo tra il XIX e il XX secolo. William Merrit Chase, John Henry Twachman, Frederick Childe Hassam come Franck Duveneck sono tra coloro che soggiornarono nella città rinascimentale intrecciando rapporti artistici e culturali con artisti, intellettuali e scrittori locali. Orario: tutti i giorni 9.0020.00; Giovedì 9.00-23.00 presso la Fondazione Palazzo Strozzi.

Davide Venturini

I

Metastasio Jazz 2012 I

l Teatro Metastasio di Prato offre, come tutti gli anni, la grande musica jazz di livello internazionale. Dietro la sapiente mano del Direttore artistico Stefano Zenni gli spettatori potranno assaporare armonie e sperimentazioni nuove e originali. L’unica data italiana di Wadada Leo Smith in collaborazione con il Musicus Concentus di Firenze sarà una prima assoluta per Prato. Il

Le stanze deionostante tesori la ricchezza di opere

N

d’arte e capolavori di provenienza internazionale, musei come Palazzo Bardini, Davanzati, Stibbert, Horne, tanto per citarne alcuni, a confronto degli Uffizi e dell’Accademia vengono chiamati “musei minori”. A Palazzo Medici Riccardi si è voluto ricreare una sintesi di questi musei con un percorso espositivo dal nome “Le stanze dei tesori”: dal Museo Bandini arriva la Madonna di Agnolo Gaddi, dallo Stibbert armature e mobili neogotici. Il Museo Horne offre una collezione di disegni di Raffaello, mentre Palazzo Bardini partecipa con il trecentesco crocifisso di Bernardo Daddi appena restaurato. Ingresso gratuito.

46

IOnirico diventato ormai comune e frequente

È

entrare in un bar fiorentino e notare tra un sorso di caffè e un cornetto una bella esposizione di quadri o sculture di arte contemporanea di artisti sconosciuti. Nel caso vi capiti anche a voi non dubitate: chissà magari tra qualche tempo si scopre che quel “chicchessia” di artista è diventato famoso e il nostro dipinto comprato in fretta e furia alla cassa di un bar solo perché ci piaceva vale una fortuna. Caterina Puletti, classe ‘72, espone le proprie opere per tutto il 2012 al Bar “San Firenze (Piazza San Firenze, 1/r – Firenze) proprio cavalcando questo spirito artistico. Uno stile assai distintivo contaminato da elementi che vanno dalla metafisica al surrealismo. Consigliatissimo!

fevereiro 2012 | comunitàitaliana

nuovo talento al pianoforte, Alessandro Lanzoni, e il Pianocorde di Alessandro Fabbri ci riportano ad uno swing più soave grazie anche al calore dei loro archi. La proiezione di segmenti di film di Hitchcock accompagnati dal suono live rielaborato in chiave jazz dal sestetto di Mauro Campobasso & Mauro Manzoni concluderà l’evento jazz pratese. Ingresso 20 euro.

Geometria degli ascolti el viaggio artistico “Il Museo dei

N

Musei”, Palazzo Borghese a Firenze ospita la nona mostra di questo percorso internazionale dal titolo “Geometria degli ascolti”. L’esposizione offre più di quaranta opere dell’artista Marco Santolisier, già consacrato dalla critica come una delle più vivide e originali figure dell’arte contemporanea. I suoi segni e colori decisi e allo stesso tempo pregni di autenticità segnano un nuovo percorso già oltre il postmodern. Fino al 30 marzo. Via Ghibellina, 110. Entrata Gratuita. Orario: da lunedì a sabato dalle ore 9 alle 17.


IlLettoreRacconta

O

quadrilátero integralista nas colônias italianas no norte do Espírito Santo foi um movimento extremamente forte nas vilas Cavalinho, Demétrio Ribeiro, João Neiva e Ibiraçu, chegando até mesmo eleger um senador da República. Como se sabe, o integralismo foi fortemente influenciado pelo movimento fascista, de extrema direita e autoritário, cujo líder era Benito Mussolini. Meu professor no ginásio, o Dr. Antônio Vescovi Possatto, filho de imigrantes e posteriormente prefeito do município de João Neiva, definia a palavra “fascismo” como feixe. Costumava dizer que “um único palito de fósforo é quebrado facilmente, mas, se unirmos todos os palitos da caixa, formando um feixe, não conseguimos quebrá-los”. Fundado pelo polêmico jornalista e escritor Plínio Salgado, o integralismo era um movimento pacífico que procurava a adesão do povo. Seus integrantes sequer andavam armados. Inicialmente, Getúlio Vargas apoiou Plínio com a mera finalidade de se eleger. Porém, Vargas promoveu um golpe de Estado. Revoltados, os integralistas tomaram o Palácio da Guanabara sobre o comando de Fournier em 1938, o que gerou uma violenta resposta do governo, com a prisão de aproximadamente 1.500 pessoas e até mesmo o fuzilamento de outros membros. Em um inesquecível encontro com Samuel Farina, filho de pioneiros italianos, no alto de seus 80 anos e muito lúcido, o mesmo ofereceu minúcias sobre o movimento integralista na região. Naquela manhã, os raios matutinos do astro rei adentravam os umbrais da janela na residência de minha prima Neide, tornando os cabelos do velho mais prateados. Seus olhos azuis direcionaramse para o teto da casa, como se ele estivesse buscando fôlego para iniciar sua narrativa. Começou falando sobre o cumprimento entre as pessoas que aderiam o movimento. Através da palavra em tupi-guarani anauê, que significava “eis me aqui”, um novo membro se comprometia com o integralismo. A liderança e a distribuição dos

Espírito Santo

uniformes dos integralistas, segundo seu Samuel, ficou a cargo da família Del Caro, provenientes de Cologno Al Serio, província de Bérgamo, região da Lombardia, no norte da Itália. A família Del Caro havia chegado ao Brasil pelo Porto de Vitória, no Espírito Santo, no navio Birmânia, em 11 de setembro de 1891. O patriarca chamava-se Giovanni Del Caro. Desta família, destacou-se no cenário político Silvério Del Caro, com uma carreira sempre ascendente e sem precedentes em nosso município. Foi vereador, prefeito e, em 1954, chegou ao auge de sua carreira política, ocupando uma vaga de senador da República apoiado pelos integralistas. Silvério Del Caro ficou nesta função até a deposição de Jânio Quadros. Samuel Farina contou ainda que haveria um comício integralista em Ibiraçu, do qual participariam os descendentes de italianos de Demetrio Ribeiro, Cavalinho e João Neiva. Na tarde do dia anterior ao evento político, Dr. Hildo, homem de projeção política na capital e que havia participado ativamente como médico na Segunda Guerra Mundial na Itália, pede a Samuel que entrasse em contato com os “irmãos” que moravam em Demétrio, em Alto Bérgamo, para que não fossem àquele comício, pois poderia se tornar um verdadeiro banho de sangue. Ao serem avisados, levaram o aviso a sério, pois sabiam que o pessoal antigo não costumava brincar com coisas deste quilate. O integralista Samuel No fatídico dia, bem próFarina com a esposa Júlia e o neto ximo à estação de João Neiva, o maquinista Samuel foi até o vagão de passageiros, formado em sua maioria por integralistas e pediu, “pelo amor de Deus”, que ninguém desembarcasse porque, enquanto estivessem dentro do trem, estariam sob a responsabilidade dele e ninguém sairia ferido. Todos obedeceram, porém o destacamento de polícia da “Gestapo” de Getúlio Vargas, que era abertamente contra os integralistas, ficou bem próximo à estação ferroviária da CVRD e chegou a fazer uma vítima. De qualquer maneira, Samuel se mostrou muito corajoso e fiel àquela população e aos seus ideais. Assim, percebemos que todos os grandes movimentos históricos são, na verdade, um conjunto de episódios de bravura e paixão por um ideal. É de extrema importância que esses episódios não se percam com o passar dos anos, pois nos ajudam a entender a nossa situação atual e dão mais riqueza à compreensão da história. A. Mattos Rio de Janeiro

Bérgamo

Mande sua história com material fotográfico para: redacao@comunitaitaliana.com.br

comunitàitaliana | fevereiro 2012

47


Cinema

Ítalo-americanos versáteis Marisa Tomei e Paul Giamatti são exemplos de atores ítalo-americanos que fogem do estereótipo hollywoodiano de interpretar somente personagens que revelem suas origens Janaína Pereira

E

De Veneza

la é de Nova York. Ele, de Connecticut. Em comum, a origem italiana. Ao contrário do que acontece com muitos artistas em Hollywood, que acabam tendo suas origens como parâmetros para fazer sempre os mesmos papéis, Marisa Tomei e Paul Giamatti — nos cinemas em Tudo pelo Poder, de George Clooney — se sobressaem pela versatilidade de suas escolhas. Quem acompanha suas carreiras pode sempre comprovar isso. Marisa Tomei possui duas cidadanias: a americana e a italiana, o que lhe permite viajar algumas vezes com o passaporte italiano. A atriz chegou a cogitar a possibilidade de deixar de morar em Nova York caso o presidente George Bush fosse reeleito nas eleições de 2004. Em entrevista durante o último Festival de Veneza, ela disse que aquela foi uma época complicada nos Estados Unidos, e achava que o país estava se tornando assustador para se viver. — Estava pensando em me mudar. Paris? Itália? Eu não gosto de Londres por causa do tempo, mas por que ficar nos Estados Unidos? É um mundo assustador — declarou. O tema política vem à tona, pois em Tudo pelo Poder Tomei interpreta uma jornalista que vive intensamente o jogo político, buscando 48

informações privilegiadas de amigos envolvidos na campanha de um futuro governador. Ela considerou o papel difícil por interpretar, pela primeira vez, uma personagem mais masculina, em que não precisa explorar seu lado sensual. — Dessa vez, explorei o intelecto da personagem. Ela realmente ama o jogo político e faz esse jogo. Diz sempre algo diferente do que eu realmente penso, sempre tem segredos, constantemente faz manobras. Eu sou exatamente o oposto dela — revela. Tomei conta que nunca tentou fugir de papéis sensuais ou que explorassem sua origem italiana. — Sempre procuro ver o que me interessa nos roteiros, ou mesmo o que me chama a atenção nos diretores com quem vou trabalhar. No caso do Clooney, foi algo especial, porque ele é tão incrivelmente bom homem, atencioso.

fevereiro 2012 | comunitàitaliana

Paul Giamatti e Marisa Tomei contracenam com Ryan Gosling em Tudo pelo poder: origem italiana, sim, mas fora das telas

Sabia exatamente o que queria, mas ainda tinha espaço suficiente para eu mostrar o que pensava da personagem. A atriz acrescenta que fazer um filme ambientado no universo político, em tempos de crise mundial, é bom para ajudar o público a refletir. — O filme ajuda você a ver como as coisas realmente são nos bastidores políticos. É preciso expressar verdades — resume. Paul Giamatti também prefere a versatilidade O ator Paul Giamatti, que também marcou presença no Festival de Veneza de 2011, revela que a sua origem italiana — por parte do avô paterno — não o impediu de viver personagens diferentes. — Não sou um ator que fica remoendo o personagem o tempo todo. Às vezes, preciso aprender um sotaque para algo específico, e vou lá e faço. Gosto de fazer coisas desse tipo. Já fiz personagens com sotaques variados, e a origem italiana não influenciou isso. Essa versatilidade, que garante a Giamatti um lugar de destaque entre os grandes atores americanos, permite a ele escolher, com tranquilidade, os papéis que deseja fazer. — É verdade que recebo um número grande de roteiros, e a variedade deles é boa. Eu posso escolher qual deles aceitar. Em Tudo pelo Poder, o ator, mais uma vez, rouba a cena como um assessor de campanha política. Embora o filme tenha como foco o ambiente político, ele faz questão de ampliar essa discussão. — Realmente, não acho que seja um filme sobre política. Podia ser ambientado em qualquer lugar, mas, por acaso, é na política. O foco na verdade é mostrar a jornada de um homem que se desilude com o seu mundo e quer mudar isso. Esse mundo é a política, mas podia ser outro trabalho qualquer.


Comunidade de lugares possível. O Marco da Paz é uma espécie de arco feito de granito e mármore, com um sino de bronze no qual está escrita a palavra PAX. Hoje, o marco está presente em países como o México, Argentina, Uruguai e China. No Brasil, foi instalado em três cidades: São Paulo (que conta com quatro monumentos espalhados pela cidade), Aparecida do Norte e Bertioga. Em novembro de 2011, o colégio Dante Alighieri recebeu uma réplica do Marco da Paz, em homenagem aos 100 anos da instituição, completados no ano passado. — O símbolo foi um reconhecimento aos 100 anos do Dante semeando a educação. Não é qualquer lugar que completa um século formando jovens — diz Gaetano.

Badaladas da paz Como uma lembrança de guerra se transformou em um símbolo de fraternidade que saiu do Brasil até chegar ao Vaticano Vanessa Corrêa da Silva

G

De São Paulo

aetano Brancati Luigi morava na cidade de Orsomarso, na província de Cosenza, quando eclodiu a Segunda Guerra Mundial. Ainda criança, conviveu com a falta de alimentos e com o medo de ser convocado para lutar na guerra quando se tornasse adulto. Gaetano continuava morando em Orsomarso, quando, em 1945, ouviu o anúncio do fim do conflito. — Eu tinha oito anos quando ouvi o sino da igreja anunciando o fim da guerra. Olhei para fora e vi as pessoas agitando lençóis brancos nas janelas. Corri para a piazza, como muitas pessoas fizeram. E, desde então, aquela lembrança do sino tocando ficou comigo — recorda. Com essa imagem em mente, décadas depois, Gaetano idealizou um símbolo que representa “a harmonia e a fraternidade entre os povos” — um marco que ele pretende espalhar ao redor do mundo até chegar ao maior número de pessoas possível. Em 1949, Gaetano e sua família emigraram para a Argentina. Anos depois, mudou-se para o Brasil,

onde se estabeleceu em São Paulo. Trabalhou como alfaiate com o pai. Mais tarde, entrou para a Associação Comercial de São Paulo, onde permanece há mais de 30 anos, atualmente como diretor. A associação fica no centro de São Paulo, muito próxima ao Pátio do Colégio, local de nascimento da cidade que serviu de inspiração para iniciar seu projeto. — Há 13 anos, notei que o sino da igreja do Pátio do Colégio não soava. Conversei com o padre e soube que o sino havia sido roubado. Então, fui atrás de um sino para a igreja. Gaetano buscou o apoio da associação comercial e arrecadou fundos para instalar um novo sino na torre da igreja. Nascia, assim, o projeto do Marco da Paz. — Demorou 55 anos para que eu usasse minha lembrança de infância para criar o símbolo — reflete. A partir de então, o comerciante deu início à proposta de levar um símbolo de paz ao maior número

O autor do Marco da Paz, Gaetano Brancati, é recebido pelo Papa Bento XVI e ganha homenagens em Assis: reconhecimento ao gesto de difundir um símbolo de fraternidade pelo mundo

Retorno às origens Também em novembro do ano passado, a obra finalmente chegou à Itália, fazendo com que a proposta de Gaetano retornasse ao seu país de origem. O local escolhido para acolhê-la foi a cidade de Assis. Na ocasião, Gaetano foi recebido pelo Papa Bento XVI, no Vaticano, um encontro do qual guarda recordações emocionadas. — Eu só conseguia chorar. Quando na vida poderia imaginar que um dia seria recebido pelo papa? Além do encontro com o Papa, Gaetano recebeu um título do governo italiano, que já foi concedido para personalidades como Winston Churchill e Madre Teresa de Calcutá. Atualmente, estão em andamento projetos para instalar o Marco da Paz nos estados do Rio de Janeiro e da Bahia, e em cidades como Buenos Aires, Nova York, Barcelona e Jerusalém. Gaetano não irá descansar enquanto sua mensagem não for espalhada para todos os cantos do mundo. — Considero esta como minha missão: levar uma reflexão de fraternidade a todas as pessoas — conclui.

comunitàitaliana | fevereiro 2012

49


Terceiro Setor

Entre Roma e Moçambique Comunidade católica de Sant’Egidio completa 44 anos apoiando programas de cooperação na Itália e em países do continente africano Gina Marques

E

De Roma

ra 1968, o ano dos jovens revolucionários, quando um grupo de estudantes guiados por Andrea Riccardi fundou a Comunidade de Sant’Egidio, em Roma. Três anos antes, a Igreja Católica havia passado pela reforma do Concílio Vaticano II, no qual os bispos do mundo inteiro discutiram a renovação na instituição. A rebeldia que contagiava os rapazes e moças em 1968, para este grupo, tinha mais uma motivação, um desafio maior: combater a pobreza e procurar a paz, em Roma, na Itália, e no mundo. Devido a tantos êxitos diplomáticos, a Comunidade de Sant’Egidio é conhecida como as Nações Unidas de Trastevere, bairro no coração da capital italiana. O sucesso da comunidade foi reconhecido até pelo premier Mario Monti, que nomeou Andrea Riccardi ao cargo de ministro da Integração e da Cooperação. Sem contar que grandes personagens que marcaram a história da Itália, como o ex-presidente Oscar Luigi Scalfaro, apoiaram a organização. A Igreja de Sant’Egidio, na capital italiana, foi o palco de celebração do último adeus a Scalfaro, antes do funeral realizado no último dia 50

30 de janeiro. Além disso, na véspera do aniversário dos 44 anos da fundação (completados em 1º de fevereiro), o Papa Bento XVI nomeou o padre Matteo Zuppi — membro da Comunidade de Sant’Egidio — bispo auxiliário da diocese de Roma. Com o prestígio, vieram também as más línguas acusando a Comunidade de fazer lobby. — Nós somos lobby? Sim, mas para apoiar os pobres. O poder político e financeiro não nos interessa — respondeu imediatamente Marco Impagliazzo, o presidente da Sant’ Egidio. A Comunidade de Sant’Egidio mantém a sede em Roma, e é uma das realidades eclesiásticas que trabalha em todos os continentes com programas de cooperação e desenvolvimento, de defesa dos direitos humanos, de apoio e facilitação de processos de paz e reconciliação,

As campanhas da Comunidade de Santo Egídio na Costa do Marfim (no topo) e em Benim, onde seus membros visitam idosos da comunidade. Na igreja de Sant’Egidio, em Roma, deu-se o último adeus a Luigi Scalfaro

Brasil constroi fábrica de antirretovirais

E

ste ano, Moçambique vai ganhar uma fábrica de remédios antirretovirais graças ao Brasil. Quando esteve no país, em 2004, o então presidente Lula ficou impressionado com a gravidade da situação e propôs a construção de uma indústria com patentes e a transferência de tecnologias brasileiras. — Hoje, nascer sem Aids na África é possível. O Dream fez nascer, até agora, mais de 15 mil crianças saudáveis. Não é apenas um número. É um sonho que se realiza — enfatizou Mario Marazziti, porta-voz da Comunidade de Sant’Egidio.

fevereiro 2012 | comunitàitaliana

de luta contra a pobreza e diálogo inter-religioso. O primeiro grande sucesso foi a mediação do processo de paz em Moçambique, após 16 anos de sangrenta guerra civil entre a Frelimo e a Renamo. O acordo foi assinado em 4 de outubro de 1992, em Roma. Nestes últimos 20 anos, é um dos raros países da África a manter a paz e estabilidade política. — Os pobres são iguais, perto ou longe de nós. Porém, o nosso horizonte não pode ignorar o Mediterrâneo, nem a África. Quem se esquece do continente africano, se esquece de si mesmo — disse o monsenhor Vincenzo Paglia, da Comunidade de Sant’Egidio. A ligação especial com o país lusófono levou a Comunidade de Sant’Egidio a escolher Moçambique como o primeiro a receber a implementação do Dream — o programa global de luta contra a AIDS e a má nutrição. A sigla em inglês Drug Resource Enhancement Against Aids significa um sonho que se transformou em realidade. Desde 2002,

o programa tem obtido resultados concretos. Atualmente está implementado em 10 países africanos, abrangendo um universo de quase dois milhões de pessoas. — Os alicerces do Dream são o tratamento com remédios antirretovirais, a prevenção vertical com a triterapia evitando a transmissão da mãe para o filho, a formação do pessoal local, os laboratórios de biologia molecular e a luta contra a má nutrição — explicou Paola Rolletta, assessora de imprensa do programa. Paola acrescenta que “não podemos esquecer que o Dream atua onde existem populações afligidas por uma crônica insegurança alimentar.” — Não se pode pensar em combater o HIV sem enfrentar a má nutrição. Uma boa nutrição não cura a Aids, mas ajuda e é fundamental para complementar a terapia antirretroviral — ressalta.


Turismo

A história dos corajosos

objetivo principal era transmitir a paixão pela montanha aos clientes, entre eles, muitas mulheres da sociedade. Ali estiveram guias como Emile Rey, Arturo Ottoz, os irmãos Ollier, Zapelli e Bonatti — o grande herói do moderno alpinismo, recentemente falecido.

Vale d’Aosta abriga museu com relíquias, botas e mapas dos primeiros alpinistas em uma das regiões mais charmosas do Norte da Itália Guilherme Aquino ourmayeur é uma das joias alpinas da Itália, em Vale d’Aosta. Debruçada no maciço do Monte Bianco, a charmosa cidade continua a atrair, em todas as estações, milhares de turistas que lotam os hotéis no vilarejo de montanha com menos de três mil habitantes. Além das pistas de esqui para todos os níveis, e das trilhas no meio dos bosques percorridas com raquetes nos pés para não atolar na neve, este paraíso dos Alpes representa uma boa parte da história do alpinismo internacional. Ali, deram os primeiros passos aqueles que queriam conquistar o cume do Monte Bianco. A empreitada acabaria sendo realizada por montanhistas de Chamonix, mas ambas as cidades se tornariam marcos esportivos, pontos de partida e referência para escaladas em todo o arco alpino. A sede do Museu Alpino Duca degli Abruzzi fica no centro de Courmayeur. Em homenagem aos pioneiros do alpinismo, a antiga construção do começo do século passado possui dois andares que abrigam, desde 1929, a história dos pioneiros das escaladas. Não por acaso, o local guarda a origem do nascimento dos primeiros guias alpinos. Na cidade, apareceu a primeira Sociedade dos Guias Alpinos, em 1850. Tratava-se de um trabalho paralelo àquele de cuidar dos animais. Toda a reverência e o

Fotos: Guilherme Aquino

C

De Milão

temor que a montanha irradiava eram motivos para que as escaladas fossem realizadas com terno e gravata: uma indumentária pouco adaptada às condições da rocha e das trilhas. Mesmo assim, eles levavam os primeiros clientes até ao alto, onde uma vista panorâmica, a 360 graus, compensava cada esforço realizado durante a escalada. Era o começo do turismo alpino. O

Chapéus, casacos e apetrechos usados pelos primeiros alpinistas nos séculos XIX e XX integram o acervo do museu Duca degli Abbruzzi, em Courmayeur

Recorde no Monte Bianco Técnica, amor pelo trabalho e coragem eram e são ingredientes fundamentais para a formação de um guia alpino. Émile Rey foi o primeiro alpinista a escalar o Monte Bianco durante o inverno, em 5 de janeiro de 1888. Ele morreria sete anos depois ao cair da montanha, que já começava a cobrar um tributo a quem a violasse. Afinal, não era comum, para o homem, escalar um cume. Antes, a preocupação era apenas fazer os animais pastarem. Essas e outras informações estão contidas no museu, que fica na sede da Casa dos Guias de Courmayeur, criada pelo militar, aventureiro e explorador Luigi Amedeo di Savoia, o Duca degli Abruzzi. No andar térreo ficam os livros nos quais os guias anotavam as suas impressões sobre as escaladas e os clientes. Ainda estão lá os registros dos refúgios de alta montanha e algumas curiosidades, como o par de botas usado pela rainha Margherita de Savoia, em 1904, durante a subida ao Spitzbergen. Além disso, são exibidos objetos de expedições na África, no Himalaya, no Tibet, na Índia e no Alaska, na baía de Teplitz. Esquis e trenós de madeira ajudam a contar o heroísmo e o romantismo daquela época. Peças de antigos cantis, casacos em pele e couro, rotas e mapas convidam o visitante a mergulhar de cabeça neste mundo do alpinismo. Uma das peças mais interessantes é uma maquete do maciço do Monte Bianco, realizado pelo pintor Alessio Nebbia, em escala de 1:10.000, com todos os relevos da montanha e arredores. Ao observá-la com atenção, o visitante pode ter uma ideia das dificuldades e dos prazeres que proporcionaram grandes emoções, quer pelo sabor da conquista, quer pela frustração de um fracasso. O chalé no qual o museu foi instalado é um ponto de encontro dos apaixonados pela montanha, onde os alpinistas de hoje prestam uma homenagem àqueles que deram os primeiros passos que acabariam criando uma profissão reconhecida mundialmente: a de guia alpino.

comunitàitaliana | fevereiro 2012

51


Saúde

Queijos e vinhos para o nosso bem Novas pesquisas americanas ressaltam benefícios de queijos gordos como o gorgonzola no combate à depressão e do vinho tinto como aliado das mulheres contra tumores no seio Aline Buaes

Especial para Comunità

U

ma boa notícia para quem ama a combinação queijos e vinhos, tão cara aos italianos e tão imitada mundo afora, mas criticada por nutricionistas e aficcionados em dietas. A dupla acaba de ganhar o seu respaldo científico. Duas pesquisas, recentemente publicadas, confirmam os seus benefícios para a saúde. A vitamina D — nova vedete dos pesquisadores e presente em alguns peixes e derivados do leite, principalmente nos queijos — é agora relacionada ao menor risco de depressão. Pesquisadores da UT Southwestern Medical Center, no Texas, afirmam que altos níveis de vitamina D no corpo diminuem as chances da pessoa encontrar-se em um estado depressivo, especialmente os reincidentes. Já a revista científica Journal of Women’s Health publicou um estudo afirmando que o consumo moderado de vinho tinto ajuda a reduzir, nas mulheres, o

risco de tumores no seio. As participantes do estudo consumiram uma taça de vinho todas as noites durante um mês. Vinho tinto traz mais benefícios às mulheres A bebida do deus romano Baco (Dionísio para os gregos) pode ser degustada pelas mulheres diariamente, segundo a pesquisa do Cedars-Sinai Medical Center, contrariando a crença de que o consumo de bebidas alcoólicas aumenta os níveis de estrógeno e abriria caminho para o crescimento de células cancerígenas. O estudo realizado pelos cientistas americanos comprovou que substâncias químicas contidas na casca e na semente das uvas pretas possuem o poder de reduzir levemente os níveis de estrógeno enquanto aumentam os níveis de testosterona em mulheres que beberam um cálice de vinho tinto todas as noites durante um mês. O vinho branco, no entanto, não possui o mesmo benefício. Sendo assim, os

“Se você for tomar uma taça de vinho no jantar, melhor considerar tomar uma de vinho tinto” Chrisandra Shufelt, do Women’s Heart Center

autores da pesquisa, considerando “encorajadores” os resultados do estudo, afirmaram que, para as mulheres que apreciam uma taça de vinho no jantar, talvez seja o momento de reavaliar suas escolhas. — Se você for tomar uma taça de vinho no jantar, melhor considerar tomar uma taça de vinho tinto — afirmou Chrisandra Shufelt, diretora-assistente do Women’s Heart Center, do CedarsSinai Heart Institute, e uma das coautoras da pesquisa. — Esta troca pode diminuir o seu risco — acrescentou, ao lembrar que o câncer de mama é o principal tumor que afeta as mulheres nos Estados Unidos, responsável por 30% de todos os casos diagnoticados em mulheres. A pesquisa do Cedars-Sinai foi realizada em 36 mulheres adultas em idade pré-menopausa que beberam todos os dias, durante aproximadamente um mês, um cálice de vinho tinto Cabernet Sauvignon e, posteriormente, durante o mesmo período e com a mesma frequência, vinho branco Chardonnay. Exames de sangue foram realizados duas vezes em cada mês para medir os níveis hormonais. Para os pesquisadores, os

Classificação dos queijos italianos (% gordura no extrato seco)

52

Magros

Leves

Médio-leves

< 20

20-35

36-43

Coalhadas desnatadas, laticínios frescos totalmente desnatados

Frescos semi-desnatados (Cottage, Quark), tipo Grana e duros de montanha semi-desnatados

Caprini, Montasio, Bra, Canestrate, Asiago d’Allevo

fevereiro 2012 | comunitàitaliana


Quanto mais gordo, mais vitamina D Gorgonzola, mussarela de búfala, provolone, scamorza e caciocavallo são apenas alguns dos mais tradicionais queijos italianos. Além de serem muito saborosos, possuem outra característica em comum: apresentam altos índices de gordura, o que os leva a não serem bem vistos por médicos e nutricionistas. Hoje, no entanto, novas pesquisas científicas podem levar a uma revisão desta recomendação tão difundida entre a opinião pública. O estudo realizado pelos psiquiatras do UT Southwestern Medical Center de Dallas foi publicado no início deste ano e analisou mais de 12.600 pessoas, entre 2006 e 2010. Dele, concluiu-se que altos níveis de vitamina D estão associados a uma significativa diminuição do risco dos pacientes encontrarem-se

em um estado depressivo, especialmente aqueles com quadro histórico da doença. No entanto, os cientistas não conseguiram determinar se baixos níveis de vitamina D contribuem com os sintomas depressivos ou se a depressão abaixa os níveis desta vitamina, e nem mesmo o mecanismo químico que comanda este processo. Segundo explica Sherwood Brown, diretor do programa de pesquisa psiconeuroendócrina da UT Southwestern, suspeita-se que a vitamina D influencie os neurotransmissores, os marcadores inflamatórios e outros fatores, o que pode ajudar a explicar a relação com a depressão, problema que afeta um em cada dez adultos nos Estados Unidos. Os baixos níveis de vitamina D, hoje comumente testados em exames de rotina, já estão associados a uma sucessão de problemas de saúde desde doenças cardiovasculares a doenças neurológicas, passando por enfermidades de autoimunidade, doenças infecciosas, obesidade, diabetes, determinados tipos de câncer e, principalmente, osteoporose, já que esta vitamina auxilia na absorção de cálcio. — Há realmente muito interesse em torno desta vitamina. Além de estimular a absorção de cálcio e de fósforo em nível intestinal e contribuir a uma adequada mineralização óssea, está envolvida em diversos outros processos, já que existem receptores da vitamina D em quase todas as células do organismo — explica o diretor da escola de especialização em Ciência da Alimentação da Universidade de Milão, Benvenuto Cestaro. O especialista italiano salienta que alguns

produtos derivados do leite estão entre as poucas fontes alimentares significativas desta vitamina. Luz do Sol, peixes e laticínios como fontes A vitamina D tem sua produção estimulada principalmente pela luz solar, mas alguns alimentos constituem uma ótima fonte paralela. Entre eles, está o óleo de fígado de bacalhau, alimento de raro consumo que possui os índices mais altos da vitamina. Outros alimentos mais comuns e que constitutem boas fontes são os peixes gordos, como o salmão, a carne de fígado, os queijos gordos e os ovos. Os queijos ditos gordos, ou seja, com maior teor de gordura saturada, que aumenta os níveis de colesterol, contêm, também, uma maior quantidade de proteínas, energia e vitaminas, inclusive a vitamina D, em relação aos queijos magros. Por isso, estão entre as fontes

consumidas com mais frequência, principalmente na Itália. Segundo os dados do Instituto Italiano de Pesquisa para os Alimentos e a Nutrição (Inran), enquanto o leite e a manteiga fornecem 1% da ingestão de vitamina D na alimentação dos italianos, os queijos gordos são responsáveis por 2,5%. — A vitamina D é lipossolúvel, portanto, geralmente está presente nos alimentos com maior conteúdo de gordura. Passando do leite à manteiga, o conteúdo da vitamina, assim como o de matéria gorda, é maior nos queijos. Portanto, quanto maior o conteúdo gordo que estes contenham, maior a quantidade desta vitamina — explica a pesquisadora do Inran, a italiana Pamela Manzi.

Médio-gordos

Gordos

Extra gordos

44-47

48-52

> 53

Mussarela, Curado, Fontal, Edam, Caciocavallo, Provolone, Sbrinz, Caciotta stagionata (queijo curado), Scamorze (queijo meia cura feito com leite bovino e de cabra), Caprino a crosta fiorita e stagionata (queijo de cabra com crosta mofada, tipo gorgonzola, e curada)

Fontina, Butterkase, Italico, Taleggio, Gorgonzola, Curado de cabra, Quartlrolo, Camembert, Murazzano, Crescenza, Mussarela de búfala

Vacherin Mont d’Or, Queijos com dupla ou tripla nata

comunitàitaliana | fevereiro 2012

Fonte: Atlante dei formaggi: guida a oltre 600 formaggi e latticini provenienti da tutto il mondo di Ottogalli Giorgio. Hoepli, 2001.

resultados comprovam que o vinho tinto, como já havia sido demonstrado em testes de laboratório, inibe o crescimento das células cancerígenas. No entanto, os cientistas alertam que estudos em larga escala ainda precisam ser realizados para avaliar a segurança e a eficácia da bebida como redutora dos riscos de tumores no seio, já que recentes pesquisas comprovaram que o consumo de quantidades moderadas de bebidas alcoólicas pode, em geral, aumentar os riscos de câncer de mama nas mulheres. Por isso, enquanto resultados mais definitivos não chegam, os autores do estudo definitivamente não recomendam a mulheres que não costumam ingerir bebidas alcoólicas que comecem a tomar vinho tinto.

53


calcio

AndreaCiprandiRatto

Stelle e strisce all’italiana Q

ualcuno l’aveva detto già ad ottobre, in controtendenza rispetto ai tanti che s’illudevano che si stessero formando nuove gerarchie. E alla fine è successo: in testa alla classifica di Serie A ci sono andate le squadre più attrezzate. Juventus, Milan e Inter sono reduci da mesi diversi, ognuno col proprio andamento, ma a conclusione del girone d’andata si sono tutti ritrovati in alto, divisi da un pugno di punti. Chi ravvisa in determinate uniformi il simbolo del potere si lamenta che sia tornato a dominare il clan delle tre squadre con la maglia a righe verticali, quelle che mezza Italia considera protette dal Palazzo anche se l’altra metà, in verità, no. Personalmente non sto a questo gioco. Preferisco limitarmi ad osservare che, di nuovo alla pari dopo un abbondante lustro anomalo, bianconeri, rossoneri e nerazzurri stanno rincorrendo contemporaneamente il prossimo scudetto e una nuova stella – terza o seconda che sia, da cucirsi sul petto in un futuro appena meno prossimo ma possibilmente prima dei rivali. Il che aggiunge pepe a una pietanza già molto saporita. A proposito di gusto, ingredienti fondamentali di questa prima parte del torneo sono state squadre che a ogni anno che passa sono sempre più equilibrate negli organici e regolari nel rendimento. Distacchi a parte, nessuno si stupisce di trovare ai piani alti anche Udinese, Lazio, Roma e Napoli – coi partenopei che, fra tutti, sono i soli leggermente attardati rispetto

Capire qual è la condizione delle tre dominatrici della Serie A può aiutare a farsi un’idea circa lo stato del meglio del nostro calcio 54

alle previsioni. Più che una sorpresa, la loro posizione in classifica è una piacevole conferma anche se siamo ancora lontani dalla possibilità che realizzino un ribaltone. E in quanto a prevedibilità, stesso discorso si può fare per la coda della classifica, in cui figurano squadre che nel complesso nessuno aveva pronosticato potessero fare molto di più. Tornando a Juventus, Milan e Inter, definendoli signori del calcio italiano non intendo riconoscere loro più virtù di quante ne abbiano tante altre squadre. Per tradizione e organizzazione infatti eccellono, ma non sono sicuramente campioni assoluti. Storia e meriti li hanno in tanti, come però anche scheletri nell’armadio per essere obiettivi. E’ comunque un fatto che dei 107 scudetti assegnati ben 63 se li sono aggiudicati loro, così come 17 degli ultimi 19 e 9 su 9 dei più recenti, che salgono a 10 su 10 se si considera anche quello revocato del 2005. Che poi uno di questi ultimi sia conteso fra Juve e Inter è una questione quasi privata fra i due club, che non sposta gli equilibri fra il gruppo di quelli a stelle e strisce e la lunga schiera degli altri. Ecco allora che capire qual è la condizione delle tre dominatrici della Serie A può aiutare a farsi un’idea circa lo stato del meglio del nostro calcio. In questo periodo tiene banco il mercato. Con qualche colpo evidentemente necessario da piazzare però giusto all’ultimo, stiamo assistendo al sostanziale annaspare anche dei nostri club più facoltosi in un panorama internazionale a cui si sono

fevereiro 2012 | comunitàitaliana

affacciati nuovi e ricchi protagonisti. Di grandi campioni non se ne riescono quasi più a prendere e per provarci si ricorre a formule che ricordano le rateizzazioni ormai diffuse fra gli italiani medi. Lascia oltretutto perplessi che non si peschi allora nei vivai nostrani, ancora validissimi e che di questi tempi potrebbero rappresentare una risorsa alternativa: i giovani presi in considerazione sono quasi esclusivamente quelli stranieri. Ciò che resta in queste condizioni è un forza relativa, che tanto in campionato sembra essere confermata quanto in Europa invece stenta a palesarsi. Al giro di boa campione d’inverno è la Juve, prima e anche imbattuta, col Milan che la tallona a un solo punto e l’Inter quasi subito dietro e a un passo dall’Udinese, che è terza, dopo aver superato Lazio e Napoli in virtù di una notevolissima serie di sette vittorie nelle ultime sette partite. D’altro canto però la Juve non partecipa alle Coppe e le milanesi si sono qualificate agli ottavi di Champions nonostante prestazioni molto altalenanti in due dei gironi più abbordabili che c’erano. Se si tratta di stabilire quanto valgano in assoluto, quindi, occorre molta prudenza. Alla fine della stagione l’Albo d’Oro della Serie A si arricchirà dell’ennesima casella a strisce ma il bagliore degli astri del nostro calcio resta flebile, visibile solo da vicino ossia in Italia - e se le cose non cambiano tenderà sempre più all’opaco delle stelle cucite sulle maglie, gli unici riconoscimenti prestigiosi a cui poter ambire. Scommettiamo? Meglio di no, coi tempi che corrono meglio lasciar perdere. Fa già abbastanza male pensare che stiamo commentando un copione in gran parte scritto da tempo e in gran segreto, come appare sempre più evidente dalle indagini di Cremona.


ItalianStyle

Queijos e vinhos Acessórios do design Made in Italy para colorir e dar um toque de classe nas mais diversas situações

Anna G.

Best-seller da Alessi com design de Alessandro Mendini, este saca-rolhas em resina termoplástica e cromado vem nas cores prata, azul, preta, violeta, amarelo e verde. Preço: € 34 www.alessi.it

K-Wine

K-wine é uma elegante criação dos designers Matteo Bertanelli e Michele Di Monte. Tratase de um prato para aperitivo com um espaço para o cálice de vinho no centro, permitindo ao usuário segurar com apenas uma mão o prato do aperitivo e o cálice de vinho. Na parte inferior, um suporte sugere o modo correto de segurar a taça em equilíbrio com o prato. Disponível em diversas cores. Pode ser encomendado de maneira personalizada por empresas e restaurantes. Preço: € 8,90 www.k-wine.it

Fotos: Divulgação

Formaggio Gourmet

A tábua para degustação de queijos proposta pela linha Gourmet — do designer Lino Sabattini — consiste em uma base de madeira de nogueira com um prato giratório e uma tigela retangular de material sintético e quatro tigelinhas em vidro. O conjunto se completa com a cúpula em cristal e os talheres, comprados separadamente. Preço: € 250 www.kikaustore.it

Baroque & Rock

A coleção da linha Baroque & Rock da Baci Milano apresenta o cálice de vinho em acrílico transparente: uma criação versátil e divertida para colorir a mesa e dar um toque de design em todas as ocasiões. Preço: € 10 www.bacimilano.it

Murano

Decanter em vidro de Murano assinado pelo renomado designer veneziano Giovanni Moretti. É finalizado manualmente com aplicações de espirais e carimbos em várias cores transparentes. Altura de 29 cm. Preço: Sob consulta www.carlomoretti.com

comunitàitaliana | fevereiro 2012

55


milão

GuilhermeAquino

Surrealismo italiano ão deverá ser mais realizado o Museu

N

Moda I

A

Semana da Moda Masculina de outono-inverno 2012/13, tradicionalmente realizada durante sete dias, foi reduzida a quatro. Os desfiles aconteceram em prédios históricos da cidade e espaços privados, como o Teatro Armani e o cinema de Dolce&Gabbana. Trouxeram às passarelas sobretudos ro-

de Arte Contemporânea projetado pelo arquiteto Daniel Libeskind, no quarteirão Citylife, mas, sim — e talvez — na área daquela que era a fábrica Ansaldo. Em compensação, ali mesmo, estão em andamento as obras do Museu das Culturas, cuja abertura está prevista para a próxima primavera — com 2.100 metros quadrados de área construída, teatro e biblioteca com capacidade para 300 lugares. Os doadores de obras para ambos os museus estão em pé de guerra pela falta de informação da prefeitura de Milão. Espera-se apenas que o acervo de um e de outro não se misturem e não fiquem esquecidos nos depósitos espalhados pela cidade no meio deste imbróglio kafkiano.

mânticos e roupas que demonstram elegância e força com muita sobreposição de peças à vista, como a camisa sob o colete dentro de um blazer, por sua vez, parcialmente coberto por um trench, tendo um sobretudo por cima, e ufa! É a moda da cebola chique. E tudo sem um fio de nylon.

Milão combate smog o centro da cidade de Milão vai co-

Obrar a entrada de 90% dos carros Identidade que circularem naquela área. QuaModa II se oitenta mil veículos pagarão um funcionários do grupo Armani que italiana pedágio de 5 euros para ter acesso uantos, quem são, como e onde vivem Osganham menos de 35 mil euros por

ano receberam um bônus de mil para começarem o ano novo. A notícia vazou da ex-Simint de Baggiovara, no Modenese, adquirida pelo estilista em 2001. O mesmo benefício foi aplicado aos dependentes das outras unidades fabris espalhadas pela Itália. O grupo conta com três mil funcionários. A direção da empresa não fez nenhum anúncio sobre esta iniciativa, limitando-se a confirmá-la. É o reconhecimento à sensibilidade de quem combate a crise com criatividade e inteligência. Se a moda pega... 56

Q

os italianos? Eis algumas perguntas cujas respostas as autoridades do país estão trabalhando para obter. A operação do censo chegou à fase final com 165 mil famílias milanesas que ainda não entregaram os formulários. Os questionários devem ser entregues através dos correios ou da internet até 29 de fevereiro. O governo vai aplicar multas para quem não respeitar os prazos. Depois da avalanche de entregas provocando pane nos sistemas e filas nos correios, os italianos “sofrem” a síndrome da eterna última hora.

fevereiro 2012 | comunitàitaliana

e direito a duas horas de estacionamento gratuito. E a multa para quem entrar sem o ticket vai ser de 76 euros. O objetivo é reduzir a poluição do ar no centro histórico e remediar o fracasso da iniciativa do ecopass, instaurado em 2008 pela administração anterior. Uma frota de 14 ônibus e 11 bondes já está em alerta para aliviar os meios públicos que não derem conta da quantidade de motoristas que deixarem os carros nas garagens.


saporid’italia

Cintia SalomãoCastro

Onde a pizza é a vera Com estilo artesanal e autêntico, pizzaria de chef sardo conquista os cariocas, que aceitam abrir mão do ketchup e da mostarda para saborear o tempero de uma verdadeira pizza italiana

R

io de Janeiro – Quem mora no bairro do Recreio dos Bandeirantes é felizardo não apenas por morar junto a uma das praias mais limpas do Rio, longe do burburinho das regiões mais centrais da cidade. No bairro, também fica a “pizzaria mais autenticamente italiana da capital fluminense”. Palavra de muitos compatriotas do chef e proprietário Paolo Pitzalis que frequentam o La Nostra Pizza — aberto em 2004. Com 50 lugares, a casa lembra uma cantina italiana e serve, além de 60 sabores de pizza, entradas e calzones assados no forno à lenha. O passaparola leva à casa moradores de bairros mais distantes, atraídos por comentários de amigos. Basta começar por uma refrescante entrada, como a focaccia acompanhada de salada caprese (tomate-cereja, mussarela de búfala e manjericão), regada com azeite San Giuliano, de Alghero, região da Sardenha — terra natal de Paolo — para que o cliente tenha a certeza de que valeu a pena cada quilômetro percorrido até ali. O tempero dos perfumados oréganos e manjericões, colhidos e plantados pelo chef em pessoa em sua própria casa com mudas trazidas da Itália, e o frescor dos funghi, oriundos de Penedo, região serrana do estado do Rio, fazem com que o carioca, por mais da gema que seja, dispense o ketchup ou a mostarda — itens proibidos na casa. O chef Paolo conta que teve de se adaptar um pouco à clientela carioca em alguns aspectos, como fazer três tamanhos de pizza (pequeno, médio e grande, e não apenas a individual, conforme reza a tradição italiana) e adicionar sabores como portuguesa e frango catupiry ao cardápio. Jamais, porém, deixou de seguir à risca o estilo artesanal da pizza do país de origem. A massa é aberta com a mão e não com rolo; o forno é a lenha; o azeite, somente italiano extra virgem. Presunto? De Parma. Parmesão? Somente grana padano. Farinha de trigo? Tipo 00. — A nossa fermentação dura 48 horas, enquanto que, na maioria dos restaurantes brasileiros, a massa fermenta no estômago do cliente, o que dá aquela sensação de peso na barriga — explica Paolo, que começou como pizzaiolo aos 18 anos, na Sardenha, onde foi proprietário da Buongustaio e da Sapore Di Mare. A pizza Toscana, que leva mussarela de búfala, presunto de Parma, rúcula e tomate seco, e a Nápoles, com anchovas e alcaparras, estão entre as mais pedidas. As variedades com frutos do mar também têm muitas saídas, e podem ser acompanhadas de vinhos italianos, O ambiente do La Nostra Pizza lembra uma portugueses, chilecantina italiana, no Recreio, a poucas quadras de uma das praias mais limpas do Rio nos ou argentinos.

Pizza marguerita de búfala Ingredientes: Para a massa: Farinha de trigo tipo 00; Água mineral; 1 colher de sopa de azeite extra virgem; Sal; 4 gramas de fermento natural; 200g de mussarela de búfala. Obs: Use a proporção de 1 litro de água para cada dois quilos de farinha. Modo de fazer: Após derreter o fermento na água, misture todos os outros ingredientes e amasse. Deixe a massa descansar de 30 a 40 minutos, coberta com um pano. Depois, faça bolinhas de 180 gramas cada uma. Deixe levitar por, no mínimo, oito horas. Com as mãos, abra cada bolinha de massa, e molde-a no formato arredondado da pizza, com um diâmetro de aproximadamente 30 cm. Espalhe o molho de tomate preparado com sal, orégano e azeite extra virgem, deixando o espaço da borda. Espalhe uniformemente 80 gramas da muzzarela de búfala, por toda a massa. Asse por dois minutos, de preferência, em um forno a lenha. Ao retirá-la, salpique folhas de manjericão. Pode-se adicionar tomate-cereja para decorar a pizza. Para completar o jantar, o cliente pode escolher entre o tiramisù, um sorbetto al limone, um café Lavazza ou uma dose de limoncello. Limoncello, aliás, que faz sucesso a ponto de ser encomendado e entregue a domicílio em garrafa. — Mesmo aqueles que não conhecem bem a culinária italiana, ao vir aqui, acabam se interessando mais, e tomam gosto pelo nosso estilo artesanal e autêntico — resume Paolo, casado com a brasileira Zilma, que, há anos, ajuda o chef no negócio. O La Nostra Pizza oferece, ainda, serviço de buffet para aniversários, festas ou eventos corporativos. Serviço: La Nostra Pizza rua almirante ary rangel, 445 loja a, recreio, rio de janeiro tel : (21) 2437-3598 / 3328-3532. horário de funcionamento: de terça-feira a domingo, das 17h às 24h

comunitàitaliana | fevereiro 2012

57


la gente, il posto ClaudiaMonteiroDeCastro

Profondo Rosso

U

m filme que marcou época na Itália é Profondo Rosso, de Dario Argento, mestre italiano do gênero horror. Inspirada no nome do filme, uma loja em Roma, no bairro Prati, constitui uma verdadeira loja dos horrores. Vende esqueletos, chaveiros fantasmagóricos, ursinhos de pelúcia assustadores, bonequinhos do Freddy Krueger, Drácula, Frankenstein e Múmia e outros bonequinhos tétricos que vêm dentro de um caixão. Os fãs do gênero podem conferir o pequeno museu dos horrores, a pagamento, no andar de baixo, com itens do set de filmes. Mas nem só de horrores vive a loja. É um ótimo lugar para comprar uma fantasia de carnaval: de gorila, máscara de vaca, chapéu de viking, roupa de Homem Aranha e do Batman, luvas do Wolverine... Para se divertir.

O último cartucho do Don Giovanni

N

os meus primeiros dois anos na Itália, ninguém me segurava. Tinha a bota inteira para explorar e eu não parava um final de semana no mesmo lugar. Ah, tem a festa do chocolate em Perúgia? Perúgia, aqui vou eu! O sangue do San Gennaro vai derreter em Nápoles? Nápoles, me aguarde que estou chegando! E, assim, fui mapeando a Itália inteira, visitando as esculturas de alcachofra em Ladispoli na primavera, durante a Festa das Alcachofras; a maior árvore de Natal do mundo, em Gubbio; a Festa da Uva, em Marino, com o vinho branco que jorra das fontes. Tudo o que eu podia, ia descobrindo. Se o primeiro Carnaval eu passei em Veneza, sonho antigo, o segundo foi em Ivrea, famosa pela Batalha das Laranjas, onde dois times atiram laranjas um no outro. Críticas a este carnaval não faltam. Afinal, tem sempre alguém que acaba se machucando, pois laranja, quando jogada com força, não é mole não. Ao chegar na cidadezinha de Ivrea, na pensione familiar que eu tinha reservado por uma noite, fui recebida pelo simpático proprietário octagenário com muita cortesia. Conversamos bastante sobre o Carnaval de Ivrea. Ele me deu dicas preciosas, principalmente sobre a famosa feijoada grátis que rolaria na hora do almoço. Oba, começamos bem! Ele disse que o meu quarto não estava pronto, mas que eu podia deixar a mala com ele na recepção e começar meu passeio pela cidade. Saí para explorar e descobrir as tradições, pois se tratava de um carnaval com grande importância histórica, que comemora a rebelião dos servos contra o senhor feudal, que tinha como imposição a ius primae noctis — ou seja, quando um servo se casava, a primeira noite da esposa tinha que ser passada com o senhor feudal. Quando voltei do meu passeio, exausta, às dez da noite, estava cheia de sacolas de compras, além de minha pesada máquina fotográfica das antigas. O dono do hotel disse: “Por favor, eu a ajudo com tudo isso, levo a sua mala até o segundo andar.” Eu disse que não, mas ele insistiu, e acabei consentindo. O gentil senhor abriu a porta do quarto e me deu passagem. Depois, fez o que eu nunca poderia imaginar. Entrou atrás de mim no quarto, fechou a porta e veio com os braços abertos em minha direção, querendo me agarrar. Fiquei apavorada. Fui logo para a porta, abri e o coloquei para fora. Dentro do silêncio do meu quarto, entrei em paranoia. Ora, ele era o dono do hotel e poderia ter uma segunda chave do quarto. E se decidisse atacar de novo? Coloquei a escrivaninha e a cadeira apoiadas atrás da porta trancada, como se faz nos filmes. Liguei para uma amiga e avisei que, se no dia seguinte, eu tivesse passado desta para melhor, o assassino era ele, o dono da pensione. Foi uma noite de pesadelos. Mas sobrevivi. Acordei, desci para tomar o café da manhã e pagar a conta, e lá estava ele, ao lado da esposa, com uma cara de santo-do-pau-oco. Foi gentil e perguntou se eu havia dormido bem. O medo e nervoso da noite anterior, pouco a pouco, foram se transformando em compaixão. Afinal, o dono da pensione era somente um idoso um pouco safado. Era noite de Carnaval, e ele viu a brasileira sorridente e pensou com seus botões: Ué, por que não queimar meu último cartucho? 58

fevereiro 2012 | comunitàitaliana




Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.